Economia

Economistas alemães antecipam mudança e investimento num país que gosta pouco de arriscar

Foto: Getty Images
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“Depois de 16 anos de governos em ‘status quo’, é notório que a Alemanha precisa de mudanças e investimentos, principalmente para lidar com as transformações climáticas”, afirma Christian Odendahl, economista-chefe do Center for European Reform

Menos de dois meses depois de o novo Governo alemão entrar em funções, os economistas alemães ouvidos pela agência Lusa acreditam que mudanças, ainda que pouco radicais, e investimento, vão começar a ser visíveis.

“Depois de 16 anos de governos em ‘status quo’, é notório que a Alemanha precisa de mudanças e investimentos, principalmente para lidar com as transformações climáticas”, revelou Christian Odendahl, frisando que o país “não faz mudanças radicais”.

Para o economista-chefe do Center for European Reform (CER), o novo Governo, o primeiro a nível federal formado pelo Partido Social Democrata (SPD), os Verdes, e os liberais do FDP, numa coligação chamada “semáforo”, é “ambicioso”.

Andre Wolf, chefe do departamento de investigação de economia internacional do Instituto de Economia Internacional de Hamburgo, alerta para que é preciso não esquecer que os três partidos foram “inimigos políticos no passado” e diferem “consideravelmente”, tanto ideologicamente, como nos interesses que defendem e representam.

“Os próximos meses dentro do Governo serão certamente marcados por uma forte competição interna no rumo a seguir. No final, espero que o chanceler Scholz consiga impor a sua conceção de uma abordagem cautelosa de reformas”, realçou.

Uma abordagem que deverá ser acompanhada de “concessões” aos Verdes e Liberais em alguns projetos, como transformação energética e investimento público, para dessa forma “manter a coligação unida”, defendeu o economista em declarações à agência Lusa.

Até 2030 a fatia das energias renováveis, na Alemanha, deve aumentar para 80% na matriz energética. Os três partidos da coligação apontam ainda que o país deve “idealmente” abandonar o uso de carvão até 2030, e não apenas em 2038.

“A economia alemã entrará numa fase de grande investimento público numa economia sustentável. Principalmente, o fornecimento vai mudar”, sustentou à Lusa o economista alemão Gustav Horn, membro do Conselho Executivo do SPD.

“A quota das energias renováveis deverá duplicar. Ao mesmo tempo, a procura alemã por energia elétrica aumentará. É altamente provável que a Alemanha tenha de importar muito mais energia renovável de outros países europeus do que no passado”, constatou.

“Continuidade” é uma palavra ainda usada pelo novo Governo. Robert Habeck, ministro da Economia e Ambiente, co-líder dos “Verdes”, avançava, em dezembro, estar a trabalhar num novo sistema de incentivo a quem compra carros elétricos ou híbridos, continuando, para já, a pagar o mesmo que o anterior governo.

Uma “mistura inteligente entre pensamento novo e pensamento de ‘status quo’” é necessária para todas as futuras decisões do novo Governo, defendeu o diretor de economia internacional e perspetivas económicas do Instituto Económico Alemão (IW), Jürgen Matthes.

A questão-chave a este respeito, acrescentou, é perceber “o que é realmente inteligente”.

“Os desafios futuros – descarbonização, desenvolvimento demográfico, digitalização e desglobalização – exigem mudanças e políticas voltadas para o investimento que olhe para o futuro”, comentou.

No entanto, como “algumas dessas tendências pressionam a economia alemã”, também deve haver uma “orientação para manter intactas as estruturas económicas existentes até que novas se possam desenvolver”, esclareceu.

Olaf Scholz tomou posse como chanceler em 8 de dezembro de 2021, prometendo “um novo começo” para a Alemanha.

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