Economia

Petróleo nos 100 dólares? Pode não estar assim tão longe

Foto: Getty Images
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No caso do petróleo vir a atingir a marca dos 100 dólares, “os consumidores serão indiscutivelmente os mais afetados”, alerta a corretora XTB

O barril de petróleo está a rondar os 75 dólares, quando no início de 2021 se encontrava apenas nos 50, e em 2020 chegou a estar negativo. No cenário atual, a fasquia dos 100 dólares acena, e a questão que se coloca é se o “ouro negro” vai lá chegar. Os analistas admitem que essa é uma possibilidade, mas tudo vai depender da evolução da pandemia e do comportamento dos países produtores. 

“Não será assim tão descabido que se atinjam os 100 dólares por barril de crude antes do fim de Março”, afirma o diretor executivo da ActivTrades Europa, Ricardo Evangelista, deixando no entanto ressalvas: “Este é apenas um cenário, talvez o mais bullish [em alta], e que vários fatores podem mudar”. Num cenário mais intermédio, o preço do barril de crude deverá em 2022 oscilar entre um mínimo de 75 dólares e um máximo de 85 dólares, indica. 

Da ótica da XTB, e de acordo com o analista Henrique Tomé, “a acontecer essa situação [do crude a 100 dólares], o primeiro semestre do ano poderá ser o mais provável para que essa se materialize”. Também o gestor de carteiras da Allianz Global Investors,  Frederik Fischer, admite essa possibilidade, embora num horizonte mais alargado: “Esperamos que os preços do petróleo aumentem no médio prazo e potencialmente que excedam os 100 dólares dentro de dois anos”. 

Uma coisa é certa: sendo muito voláteis, os preços do petróleo são difíceis de prever, e dependerão sobretudo da relação entre oferta e procura. A XTB acredita que a tendência em alta se manterá no primeiro e segundo trimestre, “uma vez que continuam a existir constrangimentos nas cadeias de distribuição”, ou seja, a procura deve continuar a exceder a oferta. No fundo, “apesar de a procura dever cair no médio-prazo, parece que a oferta cairá ainda mais depressa”, diz a Allianz. 

Do lado da procura, “esta tem aumentado bastante com o fim dos confinamentos e a retoma da atividade económica. A visão que prevalece neste momento é de que em 2022 a variante Omicron vai marcar o fim dos confinamentos, uma vez que causa doença menos severa que as anteriores”, explica Ricardo Evangelista. A Allianz vê “uma boa hipótese” de que a covid-19 se torne endémica e as restrições sejam levantadas, cenário no qual a procura aumentaria rapidamente para níveis pré-pandémicos. Já quanto à mudança de veículos a combustível para veículos elétricos não deverá impactar significativamente no curto-prazo, prevê. 

Do lado da oferta, as políticas de transição energética pesam, na medida em que motivam cada vez menos investimento no setor petrolífero. “As petrolíferas estão a voltar-se para as energias renováveis e a remuneração acionista através de dividendos, em detrimento do investimento a longo prazo em nova capacidade de produção, como acontecia no passado”, indica Steven Santos, analista no BiG. 

A produção parece estar a recuperar lentamente tanto nos Estados Unidos como ao nível da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Neste último grupo, aponta a ActiveTrades, pode haver interesse em ampliar a sua oferta à medida que a subida do preço torna métodos de extração mais caros de novo rentáveis.Em defesa de um cenário menos drástico – preços entre os 75 e os 85 dólares – Ricardo Evangelista aponta que “um aumento da oferta deverá vir sobretudo dos países da OPEP, a quem tão-pouco interessa um preço tão alto que prejudique a recuperação económica”. 

Subidas no petróleo deixam preços no consumidor em ebulição

No caso do petróleo vir a atingir a marca dos 100 dólares, “os consumidores serão indiscutivelmente os mais afetados”, defende Henrique Tomé, apontando para preços elevados dos combustíveis e energia, que  também poderá provocar um aumento dos produtos alimentares, entre outros.

É que, continua o economista senior do Banco Carregosa Paulo Rosa, “na Europa, a inflação em 2022 dependerá em grande medida dos custos da energia” e uma subida nos preços do petróleo até aos 100 dólares seria “penalizadora” para estes custos. 

Tendo em conta a natureza intermitente das energias renováveis, defende, “é crucial resolver as lacunas entre os combustíveis fósseis e a energia limpa, ou a greenflation [inflação verde] será uma realidade”, diz Paulo Rosa. A Allianz acredita que é necessário investir em projetos de energia renovável, de redes de abastecimento e armazenamento, de forma a acelerar para uma fonte de energia mais barata. Por outro lado, há a hipótese de ajustar os preços dos impostos e das emissões de carbono, temporariamente, ou de fazer a libertação consertada de petróleo nas reservas nacionais de vários países, como já aconteceu no ano passado, com a China, Estados Unidos, Índia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unidos a lançar 80 milhões de barris das suas reservas estratégicas no mercado .

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