Economia

Inflação na zona euro perto de 5% em novembro. Novo máximo histórico

Inflação na zona euro perto de 5% em novembro. Novo máximo histórico
Ints Kalnins

A inflação na zona euro subiu em novembro para 4,9%, um novo máximo histórico desde a criação do euro, segundo a estimativa rápida avançada esta terça-feira pelo Eurostat, o organismo de estatísticas da União Europeia

A inflação na zona euro em novembro subiu para 4,9%, claramente acima das previsões (4,5%) e representando um salto de oito décimas em relação à variação de preços registada em outubro. Esta estimativa rápida avançada esta terça-feira pelo Eurostat, o organismo de estatísticas da União Europeia, coloca a inflação da zona euro num novo máximo histórico desde a criação do euro. Esta variação de preços diz respeito ao mesmo mês do ano anterior, o que os economistas designam por inflação homóloga.

A componente determinante para o surto inflacionista na zona euro continua a ser a energética, cujos preços subiram 27,4% em novembro, mais ainda do que em outubro (23,7%).

Todas as componentes do índice - à exceção dos produtos alimentares não processados - registam subidas de preços acima de 2%, o objetivo para o controlo da inflação por parte do Banco Central Europeu (BCE).

A inflação subjacente - designação técnica para a inflação excluindo as componentes consideradas mais voláteis, as energéticas, a alimentação, o álcool e o tabaco - subiu de 2% em outubro para 2,6% em novembro.

O BCE dá particular atenção à evolução desta categoria da inflação, expurgada das dinâmicas mais voláteis. A subida da inflação global e subjacente acima das previsões deverá levar os economistas do banco central a apresentarem para a reunião de meados de dezembro do BCE uma revisão em alta das previsões para os anos abrangidos pelo horizonte de projeções.

O traço novo na inflação em novembro é que todos os países do euro registam taxas acima dos 2%. As duas economias com inflação mais baixa, Malta e Portugal, galgaram em novembro a barreira dos 2%, em termos do índice harmonizado usado pelo Eurostat para as comparações na zona euro. No primeiro caso subiu de 1,4% para 2,3% e para Portugal saltou de 1,8% para 2,7% naquele período.

Note-se que as variações dadas pelo índice harmonizado de preços no consumidor, usado pelo Eurostat, são diferentes das reportadas, por exemplo, pelo Instituto Nacional de Estatística em Portugal - a estimativa, também avançada esta terça-feira, é ligeiramente mais baixa, apontando para 2,6% em novembro.

As taxas de inflação mais elevadas registam-se nas três pequenas economias bálticas /com um máximo de 9,3% na Lituânia), mas os níveis com mais significado dizem respeito à variação de preços observada em novembro na Alemanha, a maior economia do euro, com 6%, seguida da Bélgica, com 7,1%. Já o Luxemburgo registou uma inflação de 6,3%.

Incerteza sobre o curso da inflação no médio prazo

A análise oficial avançada pelo Banco Central Europeu é que o atual surto inflacionista na zona euro - com máximos de três décadas na Alemanha, a principal economia do euro, e em Espanha, que registam níveis de inflação acima de 5% - deriva de fatores que são considerados temporários.

No entanto, as atas da última reunião do BCE no final de outubro revelam que os banqueiros do euro dedicaram uma boa parte da discussão ao tema, e que fatores de médio e longo prazos foram considerados como vindo a ter impacto no curso da inflação futura. Desde 1992, apenas por duas vezes a inflação anual esteve ligeiramente acima de 3% - em 1993 e em 2008.

A pandemia trouxe novas dinâmicas com impacto nos preços que perdurarão para além do muito curto prazo. Uma das incertezas prende-se com o curso do atual choque petrolífero e nos preços do gás natural.

Outra das incertezas prende-se com os estrangulamentos nas cadeias globais de fornecimentos. O inquérito do BCE às empresas revela que mais de metade dos respondentes considera que os estrangulamentos nas cadeias de fornecimento vão durar pelo menos mais seis meses e uma percentagem menor antevê 12 meses ou mais.

A subida dos preços na produção (num máximo histórico de 16% em setembro, na zona euro) acabará por se refletir no futuro nos preços no consumidor.

Uma terceira componente da dinâmica de subida dos preços virá, mais tarde ou mais cedo, da relação entre preços e salários. A indicação dada pela Alemanha ainda não foi tida em conta na reunião do BCE de final de outubro, mas poderá ser o sinal: o novo governo de coligação chefiado pelo SPD deverá subir o salário mínimo para 12 euros por hora, o que significa um aumento de 25% abrangendo 2 milhões de assalariados, 5% dos trabalhadores. A Alemanha introduziu o salário mínimo em 2015 com um valor de 8,5 euros por hora.

Outros fatores de médio prazo terão um efeito estrutural. É o caso dos custos da transição climática e do envelhecimento populacional. As tensões geopolíticas terão, também, o seu peso, se evoluírem no sentido de uma "desligamento" entre dois blocos na economia mundial, provocando um recuo na globalização do fornecimento de muitos bens intermediários e de consumo até agora baratos por via da importação.

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