Economia

Depois de cinco dias seguidos de recordes, Espanha está em fúria com o preço da eletricidade

Depois de cinco dias seguidos de recordes, Espanha está em fúria com o preço da eletricidade
GERARD JULIEN

Depois de cinco dias consecutivos de recordes no preço da eletricidade no mercado grossista ibérico, e com o agravar dos custos da luz junto dos clientes do mercado regulado, o país vizinho entrou num debate sobre a fatura dos consumidores, com ameaças de protestos

Depois de cinco dias seguidos com os preços médios da eletricidade no mercado grossista ibérico a baterem recordes, o debate no país vizinho sobre os preços da luz entrou na agenda política. Apesar de o preço médio contratado para sábado já ser inferior ao de sexta-feira, interrompendo a cadeia de máximos históricos, e num momento em que a Península Ibérica se junta aos países do Mediterrâneo no que toca a temperaturas luciferianas, o debate não parece estar a arrefecer.

Os preços mantêm-se teimosamente altos no mercado grossista comum a Espanha e Portugal. No domingo, o preço contratado para segunda-feira foi de 106,74 euros por megawatt hora (MWh), valor que foi sendo quebrado até quinta-feira, dia em que o preço médio contratualizado para sexta alcançou 117,29 euros por MWh.

Esta sexta-feira, a série de recordes foi quebrada, com um preço médio contratualizado para sábado de 114,63 euros por MWh - valor que, mesmo assim, é o dobro face ao preço de um mês atrás, e 66% acima do preço de há um ano, segundo a página Energylive.

Se por cá o debate é quase inexistente - à excepção dos grandes consumidores industriais de energia, que já manifestaram a sua preocupação face à subida dos preços - em Espanha é tema quente na política, acirrado por uma onda de calor que deverá fazer os consumos disparar nos próximos dias.

Em Portugal, ao contrário do país vizinho, a sociedade civil mantém-se em silêncio, enquanto a indústria já pondera passar o custo da energia para o consumidor. A Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica e a Confederação Empresarial de Portugal manifestaram, no final de julho, preocupação pela subida dos preços, capaz de retirar "competitividade" ao país: "O poder político não se pode alhear da escalada do preço do CO2 e da sua componente especulativa", declarava um alerta da CIP ao Governo, citado pelo jornal digital Eco.

Ida para a rua

O aumento do preço do gás e os encargos com o preço do carbono, também ele em alta, acabaram por apagar os efeitos da decisão do governo de coligação liderado por Pedro Sánchez de baixar a taxa do IVA da eletricidade em junho, de 21% para 10%. Os 'ataques' dos partidos de centro-esquerda PSOE, do líder do governo espanhol, e do Unidos Podemos, extrema-esquerda, estão virados para as grandes produtoras de eletricidade.

Segundo o jornal espanhol "El Confidencial", o ministro da Presidência, Félix Bolaños, antecipou a criação de uma entidade estatal para gerir as centrais termoelétricas quando as concessões atuais terminarem - portanto, num futuro mais distante.

O Podemos, entretanto, na terça-feira, ameaçou sair à rua contra aquilo a que o porta-voz do partido, Pablo Echenique, classificou no Twitter como um "oligopólio [que] sequestra um bem de primeira necessidade e se põe a especular com ele para enriquecer, ao mesmo tempo que empobrece a maioria do país". O partido fruto de uma cisão do Podemos, Más País, apelou, por sua vez, à "nacionalização das redes de distribuição", segundo notícia do "El Mundo".

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