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"Neste momento está toda a gente a filmar e a gravar em Portugal", diz o secretário de Estado do Cinema

"Neste momento está toda a gente a filmar e a gravar em Portugal", diz o secretário de Estado do Cinema
José Fernandes

Há mais 10 milhões de euros por ano para apoiar o cinema e o audiovisual em Portugal, afirma o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media. Numa entrevista publicada na última edição do semanário e cuja versão integral agora se publica, Nuno Artur Silva diz que Portugal pode ser um viveiro de criatividade ao nível do audiovisual, tal como está a acontecer na área da música, e destaca também o projeto de digitalização do cinema português que vai ser apoiado pelo Plano de Recuperação e Resilência (PRR).

"Neste momento está toda a gente a filmar e a gravar em Portugal", diz o secretário de Estado do Cinema

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Houve algumas iniciativas para tentar trazer projetos audiovisuais para Portugal. Depois veio a pandemia… Que balanço é que se pode fazer dessas iniciativas?
Neste momento está toda a gente a filmar e a gravar em Portugal. A retoma do sector já é muito significativa, arriscaria dizer que neste momento estamos a viver, mesmo com as restrições, uma retoma muito forte. Estão-se a filmar muitos filmes e muitas séries de televisão não só nacionais como internacionais em Portugal.

Há mais incentivos?
Se há uma área que desde muito cedo foi apoiada por causa da pandemia, é a área do cinema e do audiovisual, houve um reforço de 8,5 milhões de euros no orçamento do ICA, autorização do ICA para ir ao saldo de gerência, que foram aplicados em compensações por exemplo nos casos de filmagens que foram interrompidas e foram alargados concursos, abriu-se a possibilidade de haver mais projetos apoiados. O Fundo de Apoio ao Turismo, ao Cinema e ao Audiovisual foi estendido até 2023. Houve um esforço na área da cultura de não só compensar o prejuízo das paragens mas de abrir os concursos com efeito imediato, isto é, não se tratou de lançar novos concursos mas tratou-se em relação aos concursos que já existiam de aumentar o número de projetos apoiados. O resultado prático disso é que neste momento há uma grande atividade no sector, ao contrário de outras áreas da cultura onde houve mais dificuldade em chegar como as áreas performativas, os técnicos de som… No que diz respeito ao cinema, a atividade retomou e isto em várias frentes. Não só aumentaram os apoios do ICA como também se sensibilizou a RTP para fazer adiantamentos em relação aos projetos que estavam parados, aí também houve um bom reforço. O fundo do turismo foi prolongado, é um instrumento essencial também para atrair investimento estrangeiro. Neste momento a HBO está a fazer uma prequela do ‘Game of Thrones’ na aldeia de Monsanto, a Netflix fez uma parte da nova temporada da ‘Casa de Papel’ em Lisboa, todos eles estão a vir para cá. Portugal está a saber responder com incentivos para virem filmar para cá. Incentivam-se áreas que não têm diretamente a ver com a cultura, como o design, a animação. Foi muito importante termos conseguido trazer de volta a Portugal o evento THU - Trojan Horse was a Unicorn, que começou em Portugal e depois foi para Malta dois anos e agora conseguimos recuperar o evento que vai ter lugar em setembro em Troia e durante três anos vai ficar em Portugal, é um encontro dos melhores profissionais do mundo em entretenimento digital, isso é significativo. Havia outras propostas de outros países, nomeadamente de Espanha, e também uma parceria muito forte com o Japão mas nós achámos que era uma peça fundamental, trabalhámos em conjunto com a área da Economia/Turismo e recuperámos o evento, é um sinal de captação de talento internacional, algum dele já está em Portugal, curiosamente, trabalhando a partir de cá para algumas grandes multinacionais.

Portugal ainda não tem esta indústria que Espanha, por exemplo, já tem?
Não tem, mas este é um momento muito importante graças a instrumentos como o fundo de turismo ou a diretiva europeia do audiovisual, que gerou polémica e cuja transposição foi aprovada recentemente em conselho de ministros, entra em vigor a 1 de janeiro. O que traz essencialmente é que as plataformas internacionais [como a Netflix] pela primeira vez são obrigadas a investir em Portugal, este é o grande dado, há uma parte, que é uma taxa, que vai para o ICA mas sobretudo há outra parte que é investimento direto, isto é, as próprias plataformas podem escolher os projetos em que investem. Isto traduz-se numa maior articulação das plataformas com os criativos portugueses, põe em contacto as plataformas internacionais com os criadores portugueses, o que óbvios ganhos de compromisso dessas plataformas com o sucesso dos projetos e óbvias vantagens de internacionalização desses projetos. O que nós fizemos - e o que sempre defendi - foi manter o sistema de apoio ao cinema, no qual o cinema português tem vivido, com o ICA como estrutura de apoio, que não está posto em causa. Aliás ao contrário do que foi dito, o que a diretiva traz beneficia esse sistema. A própria RTP, fruto também da transposição da diretiva, vai ter de investir mais em cinema, em documentários, dentro daquela lógica de a RTP fazer o que os outros não podem fazer, terá de investir mais naquilo que é o produto nobre, que é o produto de património, que fica, o cinema, os documentários, as séries. Muito por alto e tudo somado, estamos a falar de 10 milhões de euros a mais que passam a entrar por ano no sistema, sem pôr em causa o cinema de autor, a liberdade total dos projetos, mas trazendo a diversificação das fontes de investimento e dos centros de decisão.

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