A Robinhood, instrumental no momento de loucura nas bolsas conhecido como Gamestop, perdeu 8,4% do seu valor de mercado na primeira sessão em bolsa, na quinta-feira, para gáudio de alguns pequenos e grandes investidores.
Afinal ações a 38 dólares (32 euros ao câmbio desta sexta-feira) já eram bem caras para os investidores. A Robinhood percebeu-o quando os títulos da plataforma de trading caíram no primeiro dia de negociação, na quinta-feira, e tudo apesar de terem começado a trocar de mãos no limite mínimo do intervalo definido antes da oferta pública inicial, cujo limite superior era de 42 dólares (35 euros).
O resultado foi que a Robinhood, avaliada inicialmente nos 32 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros), perdeu 8,4% do seu valor de mercado logo na primeira sessão, o pior desempenho na estreia de 51 cotadas que angariaram o mesmo, ou maior, volume de capital, segundo a Bloomberg. Chegou a destronar um recorde de 2007, quando a MF Global perdeu 8,2% no primeiro dia de negociação. No fim da tarde de sexta-feira, a Robinhood negociava em alta de 4,14%, nos 36,26 dólares (30,54 euros).
E porquê esta queda tão expressiva? Alguns analistas arriscam que a ação estava já sobrevalorizada e antecipavam que a cotada iria sofrer correções no valor de mercado. Alvo do ódio de alguns pequenos e grandes investidores depois do momento Gamestop de janeiro deste ano, um momento de divertida loucura nos mercados (até que tudo começou a correr mal para os pequenos), parecia não haver alternativa para a Robinhood, numa aparente traição do espírito que o próprio nome da empresa sugeria.
A plataforma fazia ponto de honra a abertura do trading (compra e venda de títulos) a todos, e não só a alguns. Entre 2015 e 2021, segundo a empresa, mais de 50% dos clientes eram investidores estreantes.
Porém, durante o ataque levado a cabo a partir do fórum r/wallstreetbets em janeiro, a Robinhood limitou subitamente a negociação de ações como a GameStop e da empresa de cinemas AMC Entertainment, alvo de compras em massa por parte dos utilizadores dos fóruns alojados no site Reddit, em guerra aberta com os grandes fundos e as suas posições curtas. A Robinhood justificou essa decisão com as exigências de colateral do regulador na liquidação das transações (estando implícita a ausência desses fundos próprios para satisfazer tais volumes de negociação), mas o dano estava feito.
Com 17,7 milhões de utilizadores ativos mensais e com 81 mil milhões de dólares em ativos geridos a 31 de março deste ano, a Robinhood era uma empresa em expansão. Porém, no prospeto enviado à SEC norte-americana, referiam que, em julho, tinham a decorrer perto de 50 processos coletivos e três ações individuais contra a empresa alegando quebra de contrato e má fé, entre outros argumentos.
Para além disso, foi multada recentemente em 70 milhões de dólares (59 milhões de euros) pela FINRA, reguladora norte-americana das entidades de serviços financeiros, por, em 2020, ter estado em baixa durante dias seguidos, impedido os clientes de acederem às suas contas e de fazer operações; e por transmissão de informações falsas, que chegaram a provocar um suicídio de um rapaz de 20 anos, que tirou a própria vida ao ver na aplicação um saldo negativo (e errado) de 730 mil dólares.
O próprio modelo de negócio da aplicação está sob escrutínio regulatório: a Robinhood, sem cobrar comissões, faz o seu dinheiro principalmente através da cobrança de taxas às entidades corretoras às quais envia as transações feitas na plataforma para liquidação.
Semana cheia de resultados
Na bolsa portuguesa, a semana foi de perdas. O PSI-20 fechou a sessão desta sexta-feira a recuar 1,81% para os 5.026,90 pontos, com 11 cotadas em queda, cinco em alta e a REN e a Pharol inalteradas, nos 2,355 euros e 0,1004 euros, respetivamente. Quanto ao balanço da semana, encerrou praticamente inalterado face ao valor de abertura de segunda-feira, recuando 0,33%. Nesta semana, 12 cotadas do PSI-20 apresentaram resultados semestrais.
Os pesos-pesados do índice perderam valor de forma significativa na sessão de sexta-feira, com destaque para a EDP Renováveis (menos 4,35% para 19,80 euros), a Galp Energia (uma queda de 2,88% para os 8,224 euros), a EDP (com um recuo de 2,3% para os 4,377 euros) e o BCP (menos 2,28% para os 0,12 euros). A Corticeira Amorim liderou as quedas, recuando 6,25% para os 10,50 euros por ação.
Face aos preços de arranque de segunda-feira, o BCP recuou 2% no conjunto da semana depois de, na segunda-feira, ter reportado uma quebra de 84% dos lucros no primeiro semestre. A Galp manteve-se praticamente inalterada no balanço semanal depois de reportar lucros de 166 milhões de euros no primeiro semestre face a prejuízos no período homólogo. A Jerónimo Martins disparou 3,1% na semana com a subida homóloga dos lucros em 79%, ao passo que a Sonae subiu 4,9% face ao preço de abertura de segunda-feira, depois de ter reportado lucros de 62 milhões de euros. A EDP, entretanto, perdeu 3,9% na semana em que apresentou uma evolução positiva de 9% nos lucros semestrais.
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