Economia

CMVM investiga infrações com ações da SAD do Benfica

Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM
Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM
Tiago Miranda

Regulador do mercado de capitais viu "infrações passíveis de fazer perigar a integridade do funcionamento do mercado de capitais e a proteção dos investidores"

CMVM investiga infrações com ações da SAD do Benfica

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) está a fazer investigações a infrações em torno das ações da SAD do Benfica, de acordo com um comunicado divulgado esta segunda-feira, 19 de julho.

“Os eventos das últimas semanas evidenciam infrações passíveis de fazer perigar a integridade do funcionamento do mercado de capitais e a proteção dos investidores, nomeadamente na divulgação de informação ao mercado e de abuso de informação, as quais continuarão a ser investigadas”, adianta o comunicado, colocado no site do regulador do mercado de capitais.

As regras do mercado obrigam a que haja uma divulgação atempada de novos factos (no caso do Benfica, houve contratos de promessa de compra e venda de ações da SAD que iriam alterar a estrutura acionista da SAD que não foram comunicados) e o abuso de informação ocorre quando há decisões de investimento baseadas em dados confidenciais (é, aliás, um dos crimes imputados a Luís Filipe Vieira e a José António dos Santos na investigação judicial Cartão Vermelho, pelo período anterior à abortada oferta pública de aquisição).

“Nestes termos, e sem prejuízo da apreciação da relevância infracional da conduta das partes envolvidas nos recentes eventos, a CMVM continuará a acompanhar a evolução de qualquer aspeto do qual possa resultar a necessidade de prestação de informação adicional ao mercado, com intuito de zelar pela integridade do funcionamento do mercado de capitais, em defesa dos investidores”, continua a nota.

As ações da SAD encerraram esta segunda-feira nos 3,52 euros, caindo mais de 13% face a sexta-feira, dia em que valorizaram com a promessa de John Textor de reforçar o investimento na empresa.

A autoridade presidida por Gabriela Figueiredo Dias defende a sua atuação na matéria relacionada com o Benfica, acrescentando que tendo em conta os “indícios de irregularidades diversas”, procurou que as partes interessadas divulgassem a informação “relevante”, “com vista a garantir condições mínimas de negociabilidade dos valores mobiliários”.

Inicialmente, até foi a CMVM a fazê-lo, mas acabou depois por haver comunicados da SAD a dar conta dos negócios com as ações (compra por José António dos Santos a José Guilherme e Quinta de Jugais para posterior venda a John Textor).

Adenda não configura qualquer avaliação sobre a SAD

Tendo em conta todas as novidades, e avaliando que está em curso a oferta de obrigações em que o Benfica se quer financiar em 35 milhões de euros, a SAD do Benfica teve de fazer uma adenda ao prospecto da oferta – onde assumiu que estava a averiguar a conduta de Vieira: “A intervenção da CMVM, no contexto da aprovação de uma adenda, assenta num juízo de aferição das exigências de completude, veracidade, atualidade, clareza, objetividade e licitude da informação que o emitente deve disponibilizar aos investidores, à luz das informações disponíveis”.

No entanto, o regulador esclarece que essa agenda é feita sem que “implique, contudo, uma apreciação quanto à situação económica ou financeira do emitente ou à viabilidade da oferta, pelo que os investidores devem ponderar adequadamente, perante a informação constante do prospeto e da adenda, a oportunidade de investimento oferecida, bem como a sua disponibilidade para suportar, num cenário adverso, os riscos inerentes a esta oferta, como, de resto, em qualquer outro investimento”.

Em relação à estrutura acionista, a CMVM descarta responsabilidades pela divulgação: “A definição da estrutura acionista de uma sociedade emitente de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado, bem como a concreta composição dos seus órgãos sociais, não se encontra dependente de qualquer ato prévio de natureza autorizativa. Compete aos investidores, e, em particular aos atuais acionistas da Benfica SAD, promover a avaliação e os atos societários que entendam convenientes em função da informação que a cada momento deve ser integralmente disponibilizada pelo emitente”.

A última grande indefinição em torno da estrutura acionista prende-se com o investimento de John Textor, com acordo para adquirir 25% do capital da SAD a José António dos Santos, mas sempre a referir necessitar de luz verde do clube. Ora, o clube considerou que não era oportuno aquele investimento, mas a verdade é que a SAD assumiu não saber se teria poderes para travá-lo. Textor fez um comunicado lamentando a decisão do clube, mas não afastando o Benfica do seu futuro.

Até esta sexta-feira, 23, corre a emissão de obrigações, em que o Benfica pretende financiar-se em 35 milhões de euros.

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