Economia

EDP alvo de buscas por causa de negócio de venda de barragens à Engie

Barragem de Picote.
Barragem de Picote.
D.R.

Elétrica confirma buscas por alegada fraude fiscal na venda de seis barragens no Douro à Engie. Também a Agência Portuguesa do Ambiente foi visada. Ministério Público confirma buscas em 11 locais por "suspeitas da prática de crime de fraude fiscal"

EDP alvo de buscas por causa de negócio de venda de barragens à Engie

Miguel Prado

Editor de Economia

A EDP foi esta terça-feira alvo de buscas no âmbito de uma ação do Ministério Público, que, juntamente com a Autoridade Tributária, está a investigar indícios de fraude fiscal no negócio de venda de seis barragens a um consórcio liderado pela francesa Engie.

Segundo a SIC Notícias, que revelou as buscas, em causa estão suspeitas de fraude fiscal qualificada.

Ao Expresso fonte oficial da EDP confirmou que a empresa foi visada. "A EDP confirma que foi alvo de uma operação de busca com a coadjuvação da Autoridade Tributária no âmbito da venda de um portfólio de seis barragens, por alegada fraude fiscal", refere a elétrica.

"A EDP está a prestar toda a colaboração com as autoridades e mantém-se convicta de que a operação de venda cumpre todos os requisitos legais", acrescenta a empresa.

De acordo com a SIC, também os ministérios do Ambiente e Finanças foram visados pelas buscas.

Fonte oficial do Ministério do Ambiente indicou ao Expresso, contudo, que as instalações do Ministério, na Rua de O Século, não tinham sido, pelo menos até às 12h, visadas por buscas.

Ao que foi possível apurar, houve buscas, isso sim, na Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Recorde-se que a EDP concluiu em dezembro de 2020 a venda de seis barragens ao consórcio da Engie por 2,2 mil milhões de euros, uma operação iniciada cerca de um ano antes.

A estrutura do negócio levou a que a transação não liquidasse Imposto de Selo (IS), suscitando, desde finais de 2020, alertas do Movimento Cultural Terra de Miranda, sobre esse facto. Caso a operação estivesse sujeita a IS, o consórcio da Engie teria de pagar aproximadamente 110 milhões de euros ao Estado por esta aquisição.

O não pagamento de IS foi também questionado pelo Bloco de Esquerda e levou inclusive a uma queixa do PSD ao Ministério Público, em março deste ano.

A EDP sempre alegou, desde as primeiras acusações do Movimento Cultural Terra de Miranda, que a transação (que consistiu na venda de uma sociedade-veículo, na qual foram incluídas as barragens e respetivos contratos, a outra sociedade criada pelo comprador), tal como outras vendas de concessões, não está sujeita ao pagamento de IMI.

Buscas em 11 locais

Em comunicado o Ministério Público confirma a operação, que resulta de um inquérito dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e cuja investigação se encontra a ser efetuada pela Autoridade Tributária e Aduaneira.

Segundo o DCIAP, foram realizadas "buscas em 11 locais do país, nomeadamente Lisboa, Porto, Amadora e Miranda do Douro". "Estas buscas decorrem em instalações de barragens, escritórios de advogados, um organismo do Estado, uma sociedade de contabilidade e sociedades ligadas ao sector hidroelétrico", esclarece a mesma fonte.

"No processo investigam-se factos relacionados com o negócio da transmissão de seis barragens do grupo EDP para o consórcio francês integrado pela Engie, Crédit Agricole Assurances e Mirova (Grupo Natixis). Em causa estão suspeitas da prática de crime de fraude fiscal", aponta o DCIAP.

"Intervém na operação 29 Inspetores da Unidade dos Grandes Contribuintes (UGC​), 37 inspetores da Direção de Serviços de Investigação da Fraude e de Ações Especiais (DSIFAE), incluindo 10 especialistas do Núcleo de Informática Forense, sendo que a operação em curso, para além de elementos da UGC e da DSIFAE, conta ainda com 28 militares da Unidade de Ação Fiscal da GNR, incluindo dois especialistas em informática forense. Nas diligências participam sete magistrados do Ministério Público e cinco magistrados judiciais", pode ler-se no comunicado.

O processo está em segredo de justiça.

Notícia atualizada às 13h10 com informação do DCIAP.

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