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BES mau tem €7000 milhões para saldar em responsabilidades mas só tem ativos de €177 milhões

BES mau tem €7000 milhões para saldar em responsabilidades mas só tem ativos de €177 milhões
© Hugo Correia / Reuters

Novo Banco continua a pedir capital ao Fundo de Resolução, e buraco deixado no BES agrava-se a cada ano

BES mau tem €7000 milhões para saldar em responsabilidades mas só tem ativos de €177 milhões

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Atualmente em liquidação, BES “mau” - o veículo que ficou com a parte considerada tóxica da instituição financeira que não foi para o Novo Banco - viu o seu património ficar ainda mais desequilibrado no ano passado. Uma má notícia para os seus credores.

Foram, em 2020, cerca de 500 milhões de euros de agravamento do “buraco” deixado pelo que ficou no BES. No fim do ano, o capital próprio desta entidade, que ficou conhecida como BES "mau", era de 6,9 mil milhões de euros, mais do que os 6,4 mil milhões registado um ano antes, de acordo com o relatório e contas relativo a 2020.

Este indicador resulta de um ativo de 177 milhões de euros face a um passivo desta entidade que ascende aos 7 mil milhões de euros. Em causa estão as responsabilidades perante terceiros, como os detentores de dívida emitida quando era ainda banco.

O passivo aumentou em 2020 devido às 1946 impugnações feitas por credores à lista de créditos elaborada pela comissão liquidatária liderada por César Brito.

“Em função das respostas que foram dadas a cada uma das impugnações (versando sobre colocações de títulos de dívida de várias entidades do Grupo Espírito Santo, junto de clientes de retalho e institucionais, colocação de ações e obrigações do BES e outras situações) concluiu[-se] que era necessário proceder ao reforço das provisões já anteriormente constituídas no montante de 338 milhões de euros”, aponta o relatório. Com o aumento deste ano, ficam quase 1,9 mil milhões de euros de provisões para cobrir as impugnações. Só que é só contabilidade, porque, na prática, o pagamento será limitado.

Com estes números, o ativo do BES representa 2,6% das responsabilidades totais existentes, deteriorando-se ligeiramente face a 2019, o que é um indicador negativo para os credores que procuram, na liquidação, serem ressarcidos dos investimentos feitos no BES de Ricardo Salgado (que, depois de duas condenações definitivas nos processos de contraordenação do Banco de Portugal, pode agora livrar-se da terceira, devido a prescrições).

Só os credores seniores (há cinco séries de obrigações que, em 2015, foram retransmitidas do Novo Banco para o BES) têm hipótese de uma recuperação mais expressiva, tendo em conta a legislação, que impõe a compensação aos investidores que saem mais penalizadas numa resolução bancária do que se a entidade tivesse ido para liquidação na mesma data.

Essa compensação – que a Deloitte, mandatada para o efeito, calculou em 31,7% do investimento – tem de ser paga pelo Fundo de Resolução e, segundo os cálculos do Expresso, o encargo poderá aproximar-se dos 700 milhões.

Estas são as perdas do BES, que comparam com os prejuízos que o Novo Banco tem tido e as sucessivas necessidades de capitalização que, à data de hoje, somam 8 mil milhões de euros de recursos do Fundo de Resolução (4,9 mil milhões, em 2014, mais 3 mil milhões, desde 2017).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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