Máximo dos Santos: “Havia um plano do Conselho Único de Resolução para resolver” o Novo Banco em 2017
Vice-governador reitera que não será necessário Portugal acionar a rede de retaguarda sobre o Novo Banco
Vice-governador reitera que não será necessário Portugal acionar a rede de retaguarda sobre o Novo Banco
Jornalista
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A situação do Novo Banco era tão complicada em 2017, o ano da venda, que, naquela altura, até a hipótese de uma nova medida de resolução - que iria impor perdas aos credores - estava em cima da mesa, segundo admite o vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo dos Santos.
“Havia um plano do Conselho Único de Resolução para resolver o banco”, declarou Máximo dos Santos na audição desta terça-feira, 18 de maio, na comissão de inquérito às perdas do Novo Banco imputadas ao Fundo de Resolução, sem acrescentar mais pormenores, a não ser que não havia vontade de ir por esse caminho no supervisor português.
O Novo Banco foi criado como “banco de transição” a partir de uma medida de resolução aplicada ao BES, em 2014, mas a sua venda em 2015 falhou, por decisão do Banco de Portugal, por não haver propostas suficientemente boas. “O fracasso da venda foi um desenvolvimento negativo, mas, não obstante o que foi feito, não se encontrou nenhum interessado. Não era fácil motivar os interessados. A situação do banco depois da venda fracassada ficou pior. Foi um desenvolvimento negativo gerou mais desconfiança e o caráter transitório do banco gerou mais desconfiança. E se tem falhado a segunda?”, questionou retoricamente Máximo dos Santos.
Foi em 2017 que foi vendido o Novo Banco, com 75% a passar para o fundo de private equity Lone Star, com o tal mecanismo em que o Fundo de Resolução se comprometeu a injetar até 3,89 mil milhões para cobrir o impacto de um conjunto de ativos problemáticos, como créditos e imóveis.
“Este mecanismo era indispensável para o banco. Ninguém vai comprar um banco para perder milhões de euros”, disse, acrescentando que “o valor não foi nenhum capricho, foi da avaliação que as autoridades fizeram”.
“A Comissão Europeia tinha dúvidas de que os 3,89 mil milhões sequer chegassem”, disse Máximo dos Santos e, por isso, “usaram cinto e suspensórios”: além do mecanismo, exigiram que Portugal assumisse uma rede de retaguarda de 1,6 mil milhões de euros para a eventualidade de tudo correr mal.
O vice-governador do Banco de Portugal não vê hipótese de esta rede – que só pode estar disponível até ao fim deste ano, quando acaba o plano de reestruturação – ser utilizada, alinhando com o que diz Mário Centeno, o governador.
Luís Máximo dos Santos considera que os encargos com o Novo Banco (que somam os 4,9 mil milhões colocados pelo Fundo em 2014, mais o mecanismo que se lhe seguiu – e que poderá estar perto de ser esgotado) foram inferiores às intervenções no BPN e no Banif, caso a comparação seja feita consoante a dimensão dos ativos. “Essas foram muitíssimo mais caras e os graus de recuperação são exíguos”, disse.
“Claro que foi muito negativo, claro que podemos discutir recursos, mas essas outras intervenções foram bem mais onerosas, infelizmente”, declarou o número dois do Banco de Portugal, repetindo que a alternativa à venda à Lone Star "era a liquidação ou uma nova resolução, completamente catastrófica para a credibilidade do sistema financeiro português, do Banco de Portugal".
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