Há um documento interno do Novo Banco que indica que Luís Filipe Vieira, que deu aval pessoal perante as suas dívidas ao banco (e ao seu antecessor, o Banco Espírito Santo), só tem uma casa para palheiro no seu património. O empresário, que preside ao Benfica desde 2003, diz que não é verdade, que tem outros bens, mas recusou discriminá-los por não estar em incumprimento.
“Não estou em incumprimento com o Novo Banco. Nunca fugi. Quando chegar a altura, terei presente e saberemos negociar isso tudo”, declarou Luís Filipe Vieira às perguntas da deputada Mariana Mortágua na comissão de inquérito ao banco. “Não estou em incumprimento com o BES, nem com ninguém. No dia que chegar a alguma situação, tenho de cumprir com o que está acordado. Não é esse o património que eu tenho”, repetiu, dizendo que não tem de dar pormenores adicionais por não estar em incumprimento.
Foram várias vezes que disse que o documento da comissão de acompanhamento do Novo Banco, citado pela deputada, não transmite informação verdadeira. “Não vivo aí, tenho mais do que uma casa. Tenho outros negócios, tenho uma boa reforma, vivo bem”, declarou. Aliás, até disse que recentemente recebeu 2 milhões de euros do Fisco. Tem também “algumas sociedades com outras pessoas”, e uma delas, se for vendida em breve, até "deve dar €2,5 milhões" - mas não serve como garantia ao Novo Banco.
Apesar de o universo empresarial ter tido cerca de 400 milhões de euros de dívida perante o Novo Banco, “nunca” foi feito um levantamento do seu património. “Nesta atividade, as pessoas conhecem-se”.
Anteriormente, ao deputado social-democrata Hugo Carneiro, Vieira garantiu que não tinha património escondido: "Nunca tive uma offshore”. Aliás, até disse que uma empresa que chegou a ter com o BES e o BCP como sócios, com sede em Delaware, tinha ali sido colocada pelos bancos, e não por si.
Dívida de 160 milhões não será paga no tempo
Além da dívida empresarial da Promovalor, também há valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC) de 160 milhões de euros na sua mão, um financiamento do antigo BES ao empresário do imobiliário em 2011, que era já de si uma reestruturação da dívida anteriormente concedida.
Essa dívida devia ser paga agora em agosto de 2021. Não será. “Eu se quiser nem sequer as pago”, declarou, já que, não pagando, o Novo Banco passa de credor a acionista. "Está feito um acordo de reestruturação", ressalvou Vieira, sem adiantar mais informação.
Puxão de orelhas de Negrão
Na sua audição, o presidente do Benfica sofreu um puxão de orelhas do presidente da comissão de inquérito, o deputado social-democrata Fernando Negrão, devido à sua prestação. Por várias vezes, Vieira não respondeu ao que lhe foi perguntado por não saber pormenores, pedindo para que a comissão colocasse depois as questões por escrito para responder posteriormente. “Vamos trazer respostas, senhora deputada”.
Negrão quis intervir ao fim de várias intervenções deste género. “Senhor Luís Filipe Vieira, até na sua defesa, na defesa da sua imagem, não podemos continuar nesta ausência de perguntas e do ‘vou responder por escrito’. Saímos todos mal daqui, sai a comissão e sairá o Sr. Luís Filipe Vieira. Peço que faça o maior esforço possível para responder às perguntas de forma clara e objetiva. Sei que está a fazer um esforço para responder. Peço que faça três esforços”.
“Não podemos entrar neste processo”, adiantou Fernando Negrão face à ausência de respostas, que classificou até como "beco".
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt