Luís Filipe Vieira: “Não fujo do país nem vou delapidar património meu”
TIAGO PETINGA
Fundador da Promovalor, que é também presidente do Benfica, quis desenhar um traço que o separa de devedores do Novo Banco que a comissão de inquérito nem conseguiu ainda notificar
Embora questionado várias vezes sobre o seu património, que protege avales pessoais dados em financiamentos concedidos pelo Banco Espírito Santo e que pertencem ao Novo Banco, Luís Filipe Vieira não quis revelar montantes. Mas deu uma garantia: não vai sair do país para fugir a eventual pagamento.
“Não vou fugir do país”, declarou aos deputados na comissão parlamentar de inquérito que averigua as perdas do Novo Banco, nomeadamente as que foram imputadas ao Fundo de Resolução. “Não fujo, nem vou delapidar património meu”, continuou Vieira, presidente do Benfica, que foi ouvido por ter tido dívidas que se aproximam dos 400 milhões de euros no Novo Banco.
Sobre o aval, Vieira não confirmou a informação que tinha sido transmitida na comissão, de que tinha apenas na sua posse uma casa para palheiro. Aliás, até a recusou.
Neste assunto, o também fundador da Promovalor quis distinguir-se face a outros devedores: “E os outros que guardaram dinheiro, fugiram, pediram insolvência? Vim cá, dei a cara, pus cá dinheiro, não fugi, nunca vou fugir. Há uns que nem conseguem notificar”. Nuno Vasconcellos, da Ongoing, não foi ainda notificado porque não se sabe a sua morada.
Numa audição parlamentar em que foi até criticando as perguntas, houve várias respostas suas que mereceram reparos do presidente da comissão: “A pergunta que lhe foi feita foi perfeitamente legítima. Agradecia que não fizesse insinuações”, declarou Fernando Negrão.
Em relação à dívida de Vieira, esta pode ser dividida em vários segmentos, nenhuma delas com ganhos, por agora, ao Novo Banco.
Uma parcela da dívida da Promovalor ao Novo Banco foi integrada no fundo criado em 2017, que está a ser gerido pela sociedade de Nuno Gaioso Ribeiro, C2 Capital Partners – Luís Filipe Vieira assegurou a posse de cerca de 4% do fundo, chamado FIAE, ficando os restantes 96% nas mãos do banco.
Há depois uma outra parcela que foi vendida à Oxy Capital, em que manteve 25% da empresa Verdelago, e os restantes estão no fundo Aquarius, gerido por essa sociedade de capital de risco.
Na Promovalor, de ativos imobiliários, houve uma reestruturação em 2011 que criou instrumentos financeiros conhecidos como valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC), que mais não são do que um empréstimo que, no final do prazo, se não for reembolsado, leva à assunção de uma participação acionista pelo banco credor. É isso que está prestes a acontecer em agosto de 2021, segundo confirmou Vieira: não deverá haver pagamento dos 160 milhões que tem em VMOC no banco e haverá a entrada do Novo Banco enquanto acionista, que deverá ficar com as partes que ainda estão na sua posse (os 25% na Verdelago e os 4% no FIAE) - contudo, nenhum deles está, por agora, com perspetivas de ganhos futuros.
Por fim, há a dívida Imosteps, a tal que foi vendida a um fundo “abutre” mas que acabou posteriormente a ser adquirida por José António dos Santos, o maior acionista individual do Benfica, SAD presidida por Luís Filipe Vieira. Essa valia 54 milhões, foi vendida por 10% do valor ao fundo DK, que depois a alienou, a um preço mais alto, ao empresário conhecido por "rei dos frangos".