Economia

Ao fim de quase uma década, CGD livra-se das amarras da Comissão Europeia

Paulo Macedo - CGD
Paulo Macedo - CGD

Plano estratégico da Caixa Geral de Depósitos foi executado com sucesso. Desde 2012 que Bruxelas vigiava o percurso feito pelo banco

Ao fim de quase uma década, CGD livra-se das amarras da Comissão Europeia

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A Caixa Geral de Depósitos cumpriu, com sucesso, o plano estratégico que tinha de cumprir até ao fim de 2020 por conta da injeção de dinheiros estatais, em 2017. Com a luz verde agora comunicada, a instituição financeira livra-se das amarras de Bruxelas, que têm estado em ação desde 2012, há quase uma década.

"A Caixa Geral de Depósitos, S.A. (CGD) informa que recebeu comunicação da Direção Geral da Concorrência da Comissão Europeia (DG Comp) informando do encerramento do processo de monitorização do Plano Estratégico 2017-2020, acordado entre o Estado Português e a Comissão Europeia e formalmente aprovado em 10 de Março de 2017", informa o comunicado enviado pela Caixa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O presidente executivo do banco, Paulo Macedo, já antecipava que o plano de reestruturação da operação, apesar de nem todos os indicadores cumpridos, seria avaliado como bem-sucedido.

O plano que terminou em 2020 começou o seu caminho em 2016 (ou antes disso, mas já lá vamos). O desenho da estratégia industrial para o período 2017-2020 foi feito com o apoio de António Domingues, o banqueiro que tinha sido escolhido pelo Governo de António Costa e Mário Centeno para liderar a CGD. As polémicas sobre a nomeação da equipa de Domingues, relativamente à obrigatoriedade de entrega de declarações de património, minou o mandato, que terminou logo no fim de 2016, dando-se depois a entrada de Paulo Macedo na instituição financeira. Foi Macedo que ficou com a missão de implementar (e ir ajustando) o plano.

Em causa estava um plano que garantisse a viabilidade da CGD, a par da ajuda estatal a nível de capital. O auxílio deu-se, no início de 2017, com a entrada de 3,9 mil milhões de euros do Estado (2,5 mil milhões de euros de injeção pública, a restante com conversão dos títulos que tinham sido emitidos em 2012 e que não tinham sido devolvidos e a integração de uma empresa estatal, a Parcaixa). O banco teve também de realizar emissão de dívida junto de privados, em mil milhões de euros, realizada em duas parcelas.

A autorização de Bruxelas

Em 2017, Bruxelas deu luz verde à ajuda. “A decisão naquela data considerou as medidas de recapitalização da CGD como isentas de auxílio de Estado, cumprindo o teste do investidor privado numa avaliação ex-ante que a Comissão efetuou com base nas informações de que dispunha à data da decisão, designadamente o plano estratégico a implementar até ao final de 2020", diz o banco

Do ponto de vista da Direção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia, a preocupação é que o dinheiro que seja colocado pelos Estados não crie distorções concorrenciais (não ponha dinheiro numa entidade em detrimento de outra) e, por isso, aceita a injeção pública desde que qualquer investidor pudesse tomar a mesma decisão de investimento que a entidade pública - ou seja, que o referido investimento seja feito “em condições de mercado”. Com a avaliação agora fechada, diz o banco, é essa a conclusão a que chega.

A Caixa ficou com metas a cumprir, como redução de pessoal, corte de agências, diminuição da dimensão do grupo, até ao fim de 2020. E o banco precisou sempre de ir dando conta do cumprimento de tais objetivos a Bruxelas. "Durante este período foram apresentados relatórios regulares e discutida a implementação do plano, pelo que a comunicação agora recebida permite concluir que o mesmo foi cumprido com sucesso”, conclui a entidade bancária.

O plano industrial em causa é o processo de 2017, mas já desde 2012, quando a Caixa recorreu à linha de capitalização da troika, que a Comissão Europeia estava a vigiar o banco público. “Com o encerramento deste processo, conclui-se um longo período de monitorização da atividade da CGD por parte da DG Comp, iniciado em Junho de 2012 com a emissão pela CGD e subscrição pelo Estado de Obrigações de Capital Contingente (Coco´s), e o consequente processo de ajuda de Estado que deu origem ao Plano de Restruturação 2013-2017, não concluído, e posteriormente com o processo de recapitalização concretizado em 2017 e o correspondente Plano Estratégico 2017- 2020”, explica a CGD.

Ou seja, o plano estratégico concluído em 2021, desenhado em 2016 e com implementação iniciada em 2017 começou, mas já para dar continuidade a um outro: o de 2012, aquando da presença da troika em Portugal, no qual a Caixa tinha chumbado. Assim, as amarras que foram colocadas logo naquele ano só agora são afastadas.

O ok de Bruxelas chegou à equipa de Paulo Macedo ainda no mandato que terminou igualmente em 2020. O Estado ainda não nomeou a nova equipa de administração. "O sucesso da conclusão do Plano Estratégico 2017-2020 é um elemento determinante para o futuro sustentável da Caixa Geral de Depósitos, permitindo reforçar a sua missão no apoio às empresas e famílias", conclui a CGD no comunicado.

Notícia atualizada com mais informações às 18.20

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