Economia

Vice-presidente da Comissão Europeia sobre o Facebook: “é uma investigação enorme”

Magrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia, numa das edições passadas da Web Summit
Magrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia, numa das edições passadas da Web Summit
ANTÓNIO COTRIM

Magrethe Vestager rejeita qualquer antiamericanismo e reforça a intenção da Comissão Europeia em cooperar com os EUA

A notícia surgiu a meio da semana com a Comissão Europeia a confirmar uma investigação sobre as práticas de partilha de dados entre Google e Facebook, e esta sexta-feira voltou à agenda durante a conferência de imprensa de Magrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia que tem a pasta da concorrência. “É uma investigação enorme”, admitiu Magrethe Vestager, quando questionada sobre a matéria. “Não posso dar muitos detalhes, estamos apenas no início”, referiu a executiva na Web Summit.

Magrethe Vestager também confirmou que a Comissão Europeia está analisar os “remédios” que poderão ter de ser aplicados nos casos de alegado abuso de concorrência que o Android, da Google, introduziu nos sistemas operativos.

A executiva europeia confirmou que será necessário saber que tipo de “reparação” poderá feita para que o mercado recupere das alegadas posições dominantes do Android.

Ainda nos processos que Bruxelas moveu contra empresas de tecnologias, a vicepresidente da Comissão Europeia disse que “não há garantias” de poder ganhar o processo de recuperação de impostos que a Apple não pagou na Irlanda, “porque os tribunais são independentes”. Mas a dirigente europeia manteve a expectativa de reverter a decisão num recurso que a Comissão Europeia deverá interpor em breve, com o objetivo de levar a Apple a pagar os 13 mil milhões de euros que não pagou na UE durante os últimos anos, devido a um acordo assinado com o Governo irlandês.

Vestager não receia a fama de mulher intrépida que afrontou o poder das grandes tecnológicas, mas rejeita qualquer classificação de antiamericanismo. “Todos os negócios são bem vindos à Europa, independentemente de onde venham”, garantiu, para depois fazer o reparo: “O problema é quando alguém domina o acesso a este mercado e tem a força suficiente para aplicar as suas próprias regras”, diz numa alusão ao poder alcançado pelas grandes plataformas lideradas por Amazon, Apple, Facebook e Google. “Com o poder vem também a responsabilidade”, lembrou.

Sobre o desfecho das mais recentes eleições presidenciais dos EUA, a vice-presidente da Comissão Europeia diz que está a aparecer uma “atmosfera diferente” com a eleição de Joe Biden, que lhe permite manter a expectativa quanto a potenciais acordos em relação às alterações climáticas, ao combate contra a pandemia e também na área das tecnologias.

Vestager recorda que um terço da riqueza mundial é produzida entre EUA e UE. “Seria bom que conseguíssemos trabalhar juntos”, diz dando o mote para o desenvolvimento de um novo quadro de cooperação entre os dois lados do Atlântico.

Sem tecnologias, a pandemia teria sido bem diferente – e bem mais difícil, admite a vicepresidente da Comissão Europeia. Mas isso não a impede de deixar algumas críticas e reforçar a esperança quanto ao dia em que a humanidade conseguirá livrar-se da pandemia. E também nas referências menos abonatórias, houve uma clara intenção de tratar todas as marcas por igual. “É difícil negociar no Zoom”, notou, sem poupar a Webex, ou coibir-se de concluir que “quase se perde o sentido de humor no Skype”.

Vestager não tem dúvidas de que as tecnologias tiveram um papel determinante para o desenvolvimento de alternativas aos confinamentos, que possivelmente seriam impossíveis há 10 ou mais anos, mas também lembra que ficaram expostas algumas “limitações”, como o crescendo de ciberataques ou as falhas de conectividade das redes.

“Precisamos do contacto humano”, lembra por fim, numa frase que pretende lembrar que as tecnologias não podem substituir tudo na “vida real”.

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