Economia

“Estamos a falhar na comunicação e no compromisso”

João Moleira, da SIC, conduziu este terceiro debate com Helena de Oliveira Freitas, Patrícia Fortes, Nuno Lacasta e Dulce Álvaro Pássaro (da esquerda para a direita).
João Moleira, da SIC, conduziu este terceiro debate com Helena de Oliveira Freitas, Patrícia Fortes, Nuno Lacasta e Dulce Álvaro Pássaro (da esquerda para a direita).

Projectos Expresso. O terceiro debate digital do projeto "50 para 2050", uma iniciativa do Expresso e da petrolífera BP, decorreu esta terça-feira, 27 de outubro. Daqui a uma semana, o projeto retoma com mais um debate, novamente às 11h00 no Facebook do Expresso, e tendo como tema a transição energética em Portugal

“Estamos a falhar na comunicação e no compromisso”

Ana Baptista

Jornalista

“O roteiro português para a descarbonização” foi o tema do terceiro debate digital do projeto “50 para 2050”, promovido pelo Expresso e pela BP, e que juntou Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA); Dulce Álvaro Pássaro, ex-ministra do Ambiente; Patrícia Fortes, investigadora do Center for Environmental and Sustainability Research da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCTUNL) e ainda Helena de Oliveira Freitas, professora catedrática e coordenadora do Center for Functional Ecology da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Em baixo encontra as principais conclusões do encontro de hoje, e no sábado, na edição impressa, terá um resumo das três primeiras sessões.

Comunicar mais e melhor para envolver mais o cidadão

  • O roteiro para descarbonização ou para a neutralidade carbónica não podem ser apenas palavrões que ninguém entende, nem as medidas e investimentos que estão a ser feitos para se atingir essas metas podem ser desconhecidos dos cidadãos. O problema é que, neste momento, vários anos depois de Portugal ter começado este processo de redução e mitigação das emissões de gases com efeitos de estufa, ainda há uma grande fatia da população que não sabe nem percebe o que está a ser executado, e nem sabe nem percebe a urgência que estas medidas têm.
  • “Uma política ambiental - que é a mais inteligente que podemos assumir - tem de ter mecanismos que envolvam os cidadãos e isso não foi acautelado. Estamos a falhar na comunicação e no compromisso. O cidadão tem de estar envolvido nesta dinâmica”, nota Helena Freitas, acrescentado que não é um problema só de Portugal, mas de todos os países.
  • “O roteiro para a neutralidade carbónica é uma revolução, mas é absolutamente inevitável. Isto não é um discurso a brincar, as evidências estão aí, e um documento destes devia ter tido mais divulgação. Mas ainda estamos a tempo de fazer essa divulgação, temos de fazer sessões de divulgação para envolver as pessoas. Sem esclarecimento e envolvimento estão criadas todas as condições para os desmobilizadores e os portugueses têm alguma desconfiança na administração pública”, diz Dulce Pássaro.

Evitar a “catástrofe”

  • Neste momento, tendo em conta os efeitos já bem marcados das alterações climáticas - mais períodos de seca, mais tempestades, menos chuva, falta de água para rega, aumento do nível de água do mar, falta de qualidade do ar e alteração das culturas - já não se pode colocar a questão se o roteiro para a descarbonização é demasiado ambicioso, porque “temos mesmo de ser ambiciosos. O planeta não tem mais tempo”, diz Helena Freitas. E também não se pode colocar a questão se o roteiro é ou não execuível até 2050. “Ele tem mesmo de ser executado. Se não se fizer nada, as consequências serão catastróficas”, alerta Patrícia Fortes.
  • De facto, diz Nuno Lacasta, se chegarmos a 2050 e as metas propostas não forem atingidas, “teremos um mundo mais devastado por tempestades, o nível da água do mar subirá, e teremos de migrar mais populações”. E “teremos um planeta brutalmente desigual, com muito mais conflitos e mais desigualdades e perderemos metade da biodiversidade que tivemos o privilégio de herdar, ou seja, é um cenário plausível estarmos a condenar a própria sobrevivência da comunidades humanas”, acrescenta Helena Freitas.
  • Além disso, “teremos gasto muito dinheiro a remediar problemas”, como a construção de molhes ou diques para conter o aumento do nível das águas. E também haverá mais mortes, alerta Dulce Pássaro. Algo que até já se verifica atualmente. Segundo Nuno Lacasta, “temos seis mil mortes prematuras por ano por causa da qualidade do ar”.

Aposta no hidrogénio não é uma novidade

  • A aposta que Portugal quer fazer no hidrogénio verde como mais uma medida para ajudar a reduzir as emissões de carbono tem sido amplamente debatida nos últimos meses e, por vezes, criticada, mas no debate desta manhã tentou desmistificar-se essas críticas. “Portugal tomou uma boa decisão em aliar-se a essa solução logo de início. A tecnologia do hidrogénio não é incipiente, já foi objeto de muito estudo e, por vezes, no nosso país, criam-se dúvidas sobre soluções que já têm pareceres técnicos”, nota Dulce Pássaro.
  • “Mais de 20 países já definiram estratégias para o hidrogénio”, comenta Patrícia Fortes, acrescenta que esta tecnologia terá um “papel fundamental na mobilidade de longo curso”, tanto de mercadorias como de passageiros, por exemplo no transporte marítimo e na aviação, onde a eletricidade não é vista como a melhor solução.
  • Nuno Lacasta reforça que o hidrogénio é mais uma aposta do roteiro e que, tal como todas as outras, vai ajudar à criação de empregos, até porque já há provas dadas de que a execução das medidas de descarbonização criam empregos. Só na indústria das renováveis já foram criados 10 mil empregos diretos, remata.

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