Banco de Portugal não vê pressão da banca denunciada pelos contabilistas

Clientes queixam-se de volume de documentação solicitada para poderem acesso a linhas de crédito, sintetiza Banco de Portugal
Clientes queixam-se de volume de documentação solicitada para poderem acesso a linhas de crédito, sintetiza Banco de Portugal
Jornalista
A Ordem dos Contabilistas acusa os bancos de estarem a pressionar os contabilistas para falsificarem informação sobre as empresas, para facilitar o acesso às linhas de crédito bonificado do Estado. O Banco de Portugal não tem qualquer dado que vá nesse sentido, segundo garante a entidade liderada por Mário Centeno ao Parlamento.
“Em nenhuma das situações que chegaram ao conhecimento do Banco de Portugal foi feita qualquer alegação que permita identificar as pressões denunciadas pela senhora bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados”, aponta a resposta do supervisor da banca a questões colocadas pelo CDS-PP.
Em agosto, Paula Franco revelou que tinha recebido quase uma centena de queixas de contabilistas que eram pressionados por bancários para prestar falsas declarações relativas a empresas que apontassem quebras de faturação superiores a 40% em situações em que tal não acontece. Assim, conseguiriam pedir o financiamento.
A deputada Cecília Meireles quis explicações da autoridade de supervisão bancária, que chegou agora ao Parlamento.
Não tendo queixas sobre falsas declarações, “as exposições analisadas pelo Banco de Portugal incidem sobre problemas no acesso às linhas de crédito que foram disponibilizadas às empresas, na sequência da análise desenvolvida às respetivas candidaturas”.
“Em concreto, os clientes bancários manifestam a sua discordância face às exigências impostas, como, por exemplo, o volume e o tipo de documentos requeridos, as taxas de juro praticadas, a necessidade de não terem incumprido contratos de crédito em momento prévio, a morosidade com que as instituições conduzem os processos e, a título mais genérico, o facto de lhes ser recusado o crédito, por não preencherem os requisitos estabelecidos, ou em virtude de terem sido identificados constrangimentos no acesso ao financiamento disponibilizado através destas linhas (como, por exemplo, a elevada procura, as dificuldades de acesso, a insuficiência dos montantes e/ou a suspensão das linhas)”, aponta a resposta do Banco de Portugal ao CDS.
No âmbito das suas funções de supervisão comportamental, o supervisor tem de olhar para a conduta dos bancos na ligação aos seus clientes e é nesse sentido que averigua as queixas sobre o acesso às linhas de crédito bonificado, que são garantidas pelo Estado, para as empresas que sofreram com o impacto da covid-19.
“O Banco de Portugal continuará a monitorizar a conduta das instituições supervisionadas no âmbito do acesso por parte das empresas às linhas de crédito disponibilizadas pelo Estado Português, nomeadamente através da análise de reclamações e de pedidos de informação, à luz das suas atribuições legais”, promete a autoridade.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt