Plano de Recuperação tornará Bragança a cidade portuguesa mais próxima de Madrid

Primeiro-ministro também promete concentrar este pacote extraordinário de fundos europeus em apenas meia dúzia de agendas mobilizadoras de reindustrialização do país
Primeiro-ministro também promete concentrar este pacote extraordinário de fundos europeus em apenas meia dúzia de agendas mobilizadoras de reindustrialização do país
Joana Nunes Mateus
“Vamos fazer uma estrada de 20 km que colocará Bragança como a cidade portuguesa que estará a menos tempo de distância de Madrid”, disse esta terça-feira o primeiro-ministro António Costa na sessão pública de apresentação das prioridades do Plano de Recuperação e Resiliência nacional à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Na sessão pública que decorreu na fundação Champalimaud, o primeiro-ministro listou alguns exemplos de grandes e pequenos investimentos que o país fará até 2026 com os €12,9 mil milhões de fundos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência aprovado no Conselho Europeu de julho de 2020 para apoiar uma recuperação mais robusta, ecológica e digital.
O primeiro-ministro explicou que bastará o investimento em 20km de estrada em Bragança para aproximar “a capital de distrito mais isolada do país” do centro da península ibérica, passando a distar cerca de meia hora de uma rede de alta velocidade.
Este é um dos exemplos de pequenos investimentos infraestruturais que farão a diferença no reforço da competitividade e coesão territorial do país ao quebrar barreiras entre a fronteira portuguesa da espanhola. “À distância de 100 km da nossa fronteira, vivem mais de seis milhões de pessoas”, destacou o primeiro-ministro, o equivalente a 60% do mercado nacional.
O primeiro-ministro também prometeu à presidente da Comissão Europeia ser seletivo na alocação dos fundos europeus de recuperação e resiliência à recuperação do potencial produtivo: “Vamos identificar quatro, cinco ou seis agendas mobilizadoras da reindustrialização do país”.
A ideia é aliar centros de produção de conhecimento, como universidade e politécnicos, às autarquias e ao tecido empresarial para “sermos capazes de valorizar o enorme capital de conhecimento que o país gerou” e produzir os “novos produtos e serviços de alto valor acrescentado” que podem permitir às empresas mais inovadoras “gerar empregos mais qualificados e melhores salários” para fixar a geração mais qualificada no país.
“Eu não sei se temos 100 Elviras Fortunatos”, ironizou o primeiro-ministro sobre a cientista portuguesa que acaba de ser premiada pela Comissão Europeia pela criação do primeiro ecrã transparente com materiais sustentáveis. “Mas há nas nossas universidades e politécnicos conhecimento que já está suficientemente maduro” para ser valorizado economicamente pelas empresas.
Estes são apenas dois exemplos das nove gavetas em que o governo vai arrumar os €12,9 mil milhões de subsídios do mecanismo de recuperação e resiliência a aplicar até 2026. E que financiarão múltiplos investimentos e reformas que o governo vem anunciando nas últimas semanas.
Mais de metade (56%) das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência a submeter à Comissão Europeia já a 15 de outubro serão alocadas às três gavetas ligadas à resiliência.
Em causa estão €1500 milhões para investir nestes 20km de estrada de Bragança, e muitos mais investimentos nas infraestruturas, florestas e água que podem reforçar a competitividade e coesão territorial do país. Também inclui €2500 milhões para investir nestas agendas mobilizadoras de reindustrialização do país e demais investimentos na inovação e nas qualificações e competências necessárias para aumentar o potencial produtivo do país.
Mas a maior das três gavetas da resiliência é das vulnerabilidades sociais e terá €3200 milhões para reforçar o serviço nacional de saúde (SNS) e os cuidados aos idosos e investir na habitação e nas respostas sociais às bolsas de pobreza em torno das áreas metropolitanas do país.
Perto de um quarto (23%) das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência serão alocadas às três gavetas mais diretamente ligadas à transição digital do país.
A gaveta da administração pública terá €1800 milhões de fundos europeus para investimentos transversais em sistemas, equipamentos e competências, também para investimentos reforçados nas áreas da saúde, segurança social e justiça e ainda para eliminação dos custos de contexto. Já a gaveta da Escola Digital terá €700 milhões para investir na rede e equipamentos, na formação e nos conteúdos. E a gaveta das Empresas 4.0 disporá de €500 milhões para estimular a digitalização e capacitação das micro, pequenas e média empresas (PME) e apostar nas competências digitais.
Mais de um quinto (21%) das verbas será investido em projetos diretamente ligados à transição climática. A gaveta da mobilidade sustentável contará com €975 milhões para investir nos transportes públicos, sua descarbonização e material circulante. A gaveta da descarbonização e economia circular terá €925 milhões para descarbonizar a indústria e valorizar os bioresíduos, a economia circular e a floresta. Já a gaveta da eficiência energética e renováveis terá €800 milhões para investir nos edifícios e no hidrogénio e gases renováveis.
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