Economia

Pilotos da Portugália querem pôr fim às “injustiças” face aos da TAP

Pilotos da Portugália querem pôr fim às “injustiças” face aos da TAP
Nuno Botelho

Ganham 17 a 20% menos do que os pilotos da TAP, nunca pararam na pandemia e sentem-se desaproveitados

Pilotos da Portugália querem pôr fim às “injustiças” face aos da TAP

Anabela Campos

Jornalista

Os pilotos da Portugália estão disponíveis para fazer parte da solução que vier a ser encontrada para reestruturar e salvar a TAP, mas querem que sejam eliminadas, ou atenuadas, as injustiças que existem face aos pilotos da casa-mãe. Quem o diz é João Leão e André Marques, respetivamente presidente e vice-presidente da direção do Sindicato Independente de Pilotos de Linha Aérea (SIPLA), em entrevista ao Expresso.

Defendem que a Portugália pode ser um trunfo num momento em que a procura é escassa. E apelam a que a TAP deixe de ser refém de um acordo assinado em 2018 com o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) que limita a produtividade da Portugália — é um acordo que obriga a transportadora a dar contrapartidas aos pilotos da TAP caso os voos da Portugália ultrapassem a barreira dos 8% face aos voos globais anuais do grupo. Uma das contrapartidas, adiantam, é o pagamento do 15º mês aos pilotos da TAP.

Foi por sentirem que precisavam de uma voz que os defendesse, porque não se sentiam representados pela SPAC, que os pilotos da Portugália decidiram criar em 2018 o SIPLA. “Havia um conflito de interesses. Não estávamos todos a remar para o mesmo lado. A balança pendia sempre para os mais fortes”, afirma João Leão. E os mais fortes eram os pilotos da TAP, que são mil e são voz dominante no SPAC. Os da Portugália — com as 15 saídas por não renovação de contrato já após a pandemia — são 180. É “abismal” a diferença em termos de direitos e de remuneração que há entre os pilotos da Portugália e os da TAP, sublinham. É assim desde que em 2007 a TAP comprou a Portugália. João Leão e André Marques estimam que os pilotos da Portugália ganham 17% a 20% menos que os da TAP. A diferença não está apenas nos salários, mas também nas ajudas de custo e noutras compensações, o que consideram “incompreensível”.

A justificação para a diferença é a dimensão das aeronaves pilotadas. Razão que aceitam parcialmente mas que, defendem, não justifica o diferencial. “A nível europeu e mundial, essa diferenciação também existe, mas não é abismal. Estamos a falar de diferenças de 6% a 7% no salário base, no máximo 10%. Fazemos o mesmo trabalho, a única diferença é que em vez de levarmos 138 a 300 passageiros levamos 118, mas cada vida vale por si só”, explica João Leão.

Cortes sim, mas mais pequenos

Os pilotos da Portugália sentem-se discriminados e querem pôr fim à situação — a reestruturação é o momento para o fazerem. Sabem que vai haver cortes e estão disponíveis para colaborar, como já disseram, mas não querem ser colocados no mesmo patamar que os pilotos da TAP, porque seria “injusto”. Pelo contrário, terão de ser mais poupados. “Tem de haver sacrifícios e estamos dispostos a ceder, mas têm de corrigir as injustiças. Não vamos, obviamente, aceitar um corte igual aos dos pilotos da TAP. Antes de chegarem aqui têm de passar por outras quintas. Não seria justo. Não é na Portugália que está o problema, somos nós que estamos a fazer a retoma. Se nos aproveitarem na plenitude, o grupo ganha com isso”, defende André Marques.

Asseguram que a Portugália nunca parou na pandemia, já que foi quem fez os voos de ligação aos Açores e à Madeira, e assumem-se como relevantes na retoma da TAP. “Estamos a voar mais agora do que estávamos a voar em janeiro. Dentro do grupo contribuímos com mais horas do que aquelas que fazíamos antes da pandemia”, sublinha João Leão. E porquê esta mudança? Há um conjunto de razões: a procura é menor e os aviões da Portugália são mais pequenos, o que torna os seus voos mais rentáveis; os voos de longo curso são escassos (a TAP é menos usada). Mas também porque antes a gestão evitava usar a Portugália para não ter sobrecustos com os piloto da TAP por causa do referido acordo negociado em 2018. “O documento diz que se a Portugália voar mais 8% do que as horas voadas pela TAP, os pilotos da TAP têm direito a um pagamento compensatório. E esse pagamento é o 15º mês. Isso limita a operação da Portugália”, explica. Com a quebra da procura, a gestão tem interiorizado que o custo operacional é menor e que faz sentido pôr a Portugália a voar mais.

A diferença de tratamento entre os pilotos das duas companhias tem sido, aliás, um entrave à integração final da Portugália na TAP. Em 2017, contam, esteve em cima da mesa, internamente, a possibilidade de se avançar com uma integração, e o processo foi travado porque os pilotos da TAP puseram como condição de partida que o SIPLA fosse extinto. Uma condição que João Leão classifica de “inadmissível”. “O eng. Antonoaldo disse ao SIPLA: por mim, se os sindicatos se entenderem, avançamos com a integração”, afirmam. O SIPLA e o SPAC ainda se reuniram duas ou três vezes, dizem. “O SPAC não quer ter mais sindicatos de pilotos no país, defendem os interesses dos pilotos da TAP, e nisso são exímios”, concluem os dirigentes do SIPLA.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt

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