Economia

Caixabank absorve Bankia e abala mercado financeiro espanhol

Caixabank absorve Bankia e abala mercado financeiro espanhol

A entidade resultante converter-se-á no maior banco do país vizinho, com ativos de 650 mil milhões de euros

Caixabank absorve Bankia e abala mercado financeiro espanhol

Ángel Luis de la Calle

Correspondente em Madrid

As bolsas espanholas receberam com entusiasmo o anúncio, feito perto da meia-noite de quinta-feira, 3 de setembro, de que o CaixaBank e o Bankia estudam os termos de um processo de fusão, que criaria a maior entidade financeira de Espanha.

A meio da manhã de sexta-feira, as ações do CaixaBank subiam 12% e as do Bankia, 20%. A tendência arrastou o resto do sector bancário para posições claramente em alta. O valor de bolsa das duas caixas sofrera forte desgaste nos últimos meses, em consonância com o resto dos mercados. O CaixaBank tinha perdido 37% do seu valor desde o início do ano 2020 e o Bankia, no mesmo período, 47,2%.

Estes sinais de satisfação são comuns às dos demais sectores de atividade económica. A patronal bancária, por isso, deu os parabéns às duas entidades pelo processo que iniciaram. Nas últimas semanas surgiram vozes de personalidades relevantes a favor da consolidação da atividade bancária. O governador do Banco de Espanha, Juan Hernández de Cos, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, e a terceira vice-primeira-ministra e ministra de Economia espanhola, Nadia Calviño, exprimiram em público, em distintas ocasiões, a opinião de que as atuais circunstâncias favorecem operações como a que foi lançada pelo CaixaBank e o Bankia e que havia que aproveitar tais circunstancias, geradas pela pandemia de coronavírus, num contexto de baixa rendibilidade generalizada no sector bancário.

Apesar de a notícia ter sido recebida como uma autêntica convulsão no sector financeiro espanhol, não se pode considerar que tenha constituído uma surpresa. Em 2012, de facto, em plena crise financeira, o então presidente da Caja Madrid (entidade antecessora do Bankia), Rodrigo Rato (hoje preso por delitos vinculados à entrada em bolsa do Bankia, considerada fraudulenta), sondou os dirigentes do CaixaBank para uma possível união.

As negociações estão na fase inicial, como reconhecem executivos das duas empresas. Há intercâmbio de informações sobre o estado real das contas de cada uma, ao abrigo de um acordo de confidencialidade subscrito por ambas. Fontes do sector estimam que as negociações não se prolonguem mais de umas semanas, pelo menos até que haja anúncio de trabalhos formais para concretizar a fusão.

Está planeado que seja a entidade catalã CaixaBank (proprietária desde 2018 do grupo português BPI) a absorver o Bankia, gerando um conglomerado com 650 mil milhões de euros de ativos. O BBVA tem hoje 365.674 milhões de euros e o Santander, 323.102. O projeto inicial prevê que o atual presidente do Bankia, José Ignacio Goirigolzarri, mantenha esse cargo no novo banco, sendo o CEO Gonzálo Gortázar, que exerce agora tais funções no CaixaBank.

Para o Estado espanhol, a operação representa um grande alívio financeiro. No processo de saneamento do sistema de caixas de aforros espanholas, acelerado pela crise económica de 2008, os cofres públicos tiveram de assumir o peso da antiga Caja Madrid, com injeções de cerca de 23 mil milhões de euros, montante do qual apenas recuperaram 3300 milhões. A participação estatal no capital do Bankia é hoje de 61,78% e a fusão permitirá reduzi-la para 14%, através do Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (FROB), com muito mais possibilidades do que tem agora de vender essas participações a preços razoáveis.

O gabinete da ministra Calviño recorda que o Governo tem prioridades “muito claras” em relação ao Bankia: “Proteger o interesse geral dos cidadãos espanhóis, maximizar o valor da participação pública na entidade e reforçar a estabilidade financeira do país”. No primeiro semestre deste ano, o grupo catalão (cujo principal acionista é a Fundação La Caixa, com 30%, o que lhe dará um peso de 75% na entidade resultante) ganhou 205 milhões de euros, menos 67% do que em 2019; o Bankia contabilizou ganhos de 142 milhões, menos 64% do que no mesmo período do ano passado.

A fusão acarretará, sem dúvida, um processo de reestruturacão dos dois bancos, com reduções de pessoal e encerramento de sucursais. O CaixaBank e o Bankia partilham uma filosofia de presença em pequenas aldeias e cidades médias, pelo que a duplicação de presenças da nova entidade simplificará relativamente a reestruturação.

O aumento de tamanho do futuro maior banco espanhol permitirá cumprir outra das ambições, até agora frustradas, do CaixaBank: a internacionalização. A caixa catalã tem 4400 balcões em toda Espanha, face aos 2200 do Bankia. O CaixaBank levará para o novo conglomerado financeiro 35.600 empregados e o Bankia, 16 mil. Os ajustes de pessoal serão feitos através de rescisões incentivadas e pactuadas e reformas antecipadas.

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