Lucro do Santander em Portugal cai 37%. Grupo espanhol teve prejuízos históricos de 11 mil milhões
Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox
É um momento inédito em torno do Santander. A covid-19 trouxe perdas nunca antes vistas ao grupo que, em Portugal, ficou no verde, mas registando uma descida dos lucros. Pela primeira vez em muitos anos, a gestão do Santander em Portugal não realizou conferência de imprensa
Mais uma apresentação de resultados semestrais dos bancos, mais uma apresentação de perda de lucros. O Santander Portugal registou uma descida de 37% dos lucros, obtendo 172,9 milhões de euros entre janeiro e junho. No mesmo período de 2019, tinha chegado aos 275,9 milhões.
“Os resultados do primeiro semestre de 2020 incorporam já, tal como esperado, um impacto importante associado à covid-19”, explica Pedro Castro e Almeida, o presidente executivo da instituição financeira, citado no comunicado com as contas enviado às redações.
Esse efeito sente-se, sobretudo, devido à necessidade de antecipar perdas que o banco deverá verificar, por conta do cenário macroeconómico adverso que se vai sentir, com a quebra do produto interno bruto a aumentar o desemprego e a trazer dificuldades de reembolso dos créditos concedidos aos clientes. “A envolvente macroeconómica, caraterizada por uma contração profunda da atividade, exige uma atuação proativa e preventiva, em termos de qualidade de crédito, pelo que a imparidade líquida de ativos financeiros ascendeu a -100,9 milhões de euros”. No ano passado, esta rubrica tinha dado 16,5 milhões de euros ao Santander Portugal, com a anulação de imparidades anteriormente registadas. Agora, dá perdas acima de 100 milhões.
No entanto, além das imparidades, também o resultado de exploração – o que fica da atividade do banco entre proveitos e custos – verificou já uma descida de 7%. Houve descidas na margem financeira e nas comissões cobradas.
Sem conferência
Desta vez, estes números não foram explicados pelo banco como acontece habitualmente. “Em virtude das atuais circunstâncias relacionadas com o covid-19, o Santander Portugal não irá realizar a conferência de imprensa de apresentação dos resultados do semestre”, indica o comunicado emitido esta quarta-feira. A conferência não se realiza por conta da covid-19, mas, aquando da apresentação das contas trimestrais, em maio, quando se iniciava o desconfinamento após o período de emergência, o Santander realizou a conferência por videoconferência. Não aconteceu isso desta vez.
No primeiro semestre de 2020, o Santander verificou um crescimento em torno de 3% da carteira de crédito (mais vincada no crédito a empresas do que a particulares), também por conta das linhas de crédito garantidas pelo Estado por conta da covid-19. Também os recursos de clientes avançaram perto de 3%, sobretudo devido aos depósitos.
Apesar do deslize do lucro, o Santander Portugal conseguiu melhorar o rácio de capital, que mede a sua solidez, que passou de 16,4%, em junho de 2019, para 19,6%, um ano depois.
Ana Botín, líder do Grupo Santander
Eloy Alonso
Grupo justifica prejuízos com contabilidade
O Santander Portugal pertence ao grupo espanhol com o mesmo nome, contribuindo com 5% para as suas contas, mas o grupo não teve um primeiro semestre positivo.
Uma revisão contabilística, feita em parte para refletir o valor das suas unidades e para incorporar expetativas de encaixes futuros que não se deverão realizar com a deterioração do ambiente macroeconómico por conta da covid-19, foi a justificação para algo inédito no grupo: prejuízos.
O banco apresentou uma imparidade de 12,6 mil milhões de euros, o que lhe deu um prejuízo histórico de 10,8 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano. Na prática, há um realinhamento do que valem as entidades no Reino Unido, EUA e Polónia. A instituição presidida por Ana Botín sublinha que este número não tem impacto nos rácios de capital mais exigentes nem na sua liquidez.
“Os últimos seis meses estão entre os mais desafiantes da nossa história”, disse Ana Botín, citada no comunicado do banco em Espanha.
Nessa nota, o Santander reforça que, sem este encargo contabilístico extraordinário com impacto negativo, teria um crescimento de 2% do resultado operacional. Aliás, é por isso que o banco pretende pagar dividendos de 10 cêntimos, a concretizar com a entrega de novas ações, devido ao desempenho de 2019, ainda que sujeito à aprovação dos supervisores – uma intenção anunciada mesmo depois de o Banco Central Europeu ter solicitado que não haja esta entrega pelo menos durante este ano.