Economia

Uma sociedade “muito paternalista” retira autonomia aos mais velhos?

Uma sociedade “muito paternalista” retira autonomia aos mais velhos?
Getty Images

Projetos Expresso. Com uma das populações mais envelhecidas da Europa, Portugal debate-se com um conjunto de desafios para garantir que a chamada terceira idade possa ser vivida com saúde, segurança, qualidade de vida e bem-estar. Este será também o tema da terceira conferência “Parar para Pensar”, dedicada ao envelhecimento, projeto que une o Expresso à DECO Proteste. Assista em direto através do Facebook do Expresso, esta quarta-feira, a partir das 17 horas

Fátima Ferrão

A cada segundo que passa há no mundo duas pessoas que festejam o seu sexagésimo aniversário, o que equivale a quase 58 milhões de novos sexagenários por ano. Adicionalmente, uma em cada nove pessoas no planeta tem mais de 60 anos, uma proporção que, em 2050, deverá ser de uma em cada cinco. Os dados são do Fundo de População das Nações Unidas e dão a conhecer uma realidade incontornável: o envelhecimento da população, que traz consigo um pacote de desafios difíceis de resolver. Para debater os desafios, as oportunidades de mudança de políticas e de comportamentos relacionados com o envelhecimento, o Expresso e a DECO Proteste, convidaram um conjunto de especialistas no tema para, em ambiente virtual, trocarem ideias e experiências que possam contribuir para a criação de novas políticas públicas.

Com a moderação de Marta Atalaya, jornalista da SIC Notícias, a conversa contará com a presença de Maria João Valente Rosa, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Constança Paúl, professora catedrática e diretora do Departamento de Ciências Comportamentais do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Maria João Quintela, presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, Manuela Rodrigues, presidente do Conselho de Administração da Lusitânia Vida, e Luís Jerónimo, diretor do Programa Desenvolvimento Sustentável da Fundação Calouste Gulbenkian.

É fundamental criar condições dignas para o envelhecimento em Portugal”

Reformas justas e equilibradas em função do trabalho desenvolvido ao longo da vida ativa, e a criação de centros de dia, residências para idosos e outras estruturas de apoio à terceira idade, a custos acessíveis e compatíveis com a reforma, são para Manuela Rodrigues os grandes desafios para dar resposta ao crescente envelhecimento da população nacional. “Condições dignas para o envelhecimento”, salienta.

Constança Paúl partilha de opinião semelhante. “Linhas gerais, os grandes desafios passam por garantir rendimentos, saúde e outros aspetos sociais”. A professora considera que, em primeiro lugar, é essencial assegurar a vertente financeira pois “sem rendimentos não se garante a compra de serviços”. Depois, no que se refere à saúde, é preciso apostar na prevenção para garantir qualidade de vida e um envelhecimento saudável. Já ao nível social, Constança Paúl defende que a sociedade tem que ser capaz de manter as pessoas ativas, evitando o isolamento. Contudo, alerta: “Tem de haver uma mudança de atitude da sociedade que ainda é muito paternalista, retirando autonomia aos mais velhos”.

Mas para cumprir os objetivos da OMS, transversais a Portugal e a grande parte dos países do mundo, o papel dos governos é fundamental na definição das orientações e de políticas públicas. No entanto, acredita Manuela Rodrigues, “o Estado não pode resolver todos os problemas da população em Portugal”. Para a responsável da seguradora Lusitânia, é obrigatório incluir, em sede de concertação social, empresas e outras instituições privadas com vista, por exemplo, à constituição de complementos de reforma de benefício definido ou de contribuição definida, ou PPR que permitam aos trabalhadores condições para auferirem de reformas justas.

Numa perspetiva distinta, Constança Paúl afirma que o Estado tem um papel regulador, podendo ser mais, ou menos, interventivo consoante as culturas e a capacidade financeira de cada país. Em Portugal, salienta, “a questão financeira é um problema”. Questionada sobre eventuais soluções, a professora sugere o prolongamento do tempo de trabalho, mas reconhece que seria sempre uma medida polémica e até pouco justa em algumas profissões. Outro problema que condiciona as políticas e as propostas, está relacionado com a baixa literacia que ainda existe em Portugal. “Limita a vários níveis”.

Saiba tudo sobre o projeto 'Parar para Pensar' neste link e acompanhe o debate em direto a partir das 17h de amanhã (24f de junho) no Facebook do Expresso.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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