“Há dez anos esta crise tinha parado a economia por completo”
Marta Atalaya (SIC Notícias) moderou um debate que contou com (de cima para baixo) João Duque, economista e professor catedrático no ISEG; Joaquim Miranda Sarmento, professor no ISEG; Ricardo Pais Mamede, professor no ISCTE e; Pedro Lino, CEO da Optimize
Projetos Expresso. Evolução tecnológica dos últimos anos foi chave para resposta à pandemia e para manter empresas e negócios em funcionamento. No entanto, problemas estruturais crónicos do país podem travar recuperação mais rápida. Estas foram algumas das conclusões da primeira conferência digital “Parar para Pensar”, que juntou o Expresso à DECO Proteste
Fátima Ferrão
Uma crise que se assemelha ao impacto de uma guerra mundial, transversal a toda a economia - na oferta e na procura -, resultado de um problema global de saúde pública. Esta é, linhas gerais, a caraterização que alguns economistas portugueses fazem daquela que poderá tornar-se uma das maiores crises económicas mundiais.
A paragem a fundo da atividade produtiva nacional e mundial conduziu a quebras imediatas na generalidade das empresas, ao aumento rápido do desemprego em poucas semanas, e a inúmeros problemas de ordem social, com muitas famílias a perderem rendimentos e capacidade de sobrevivência.
Perante um cenário negro, que soluções de curto e de médio prazo podem ser rapidamente implementadas, de forma eficaz? Para responder a esta e a outras questões, a conferência “Parar para Pensar a Economia”, a primeira de um conjunto de outras conversas que abordarão vários temas transversais à sociedade ao longo das próximas semanas, juntou um painel de economistas que, com a moderação da jornalista da SIC Notícias, Marta Atalaya, procuraram apontar caminhos para a recuperação do país e das empresas. João Duque, economista e professor no ISEG; Joaquim Miranda Sarmento, professor no ISEG; Ricardo Pais Mamede, professor no ISCTE; e Pedro Lino, CEO da Optimize, empresa de faz a gestão de investimentos foram os convidados para esta conversa. As conclusões:
Crise económica e social
“Esta crise terá um enorme lastro de custos sociais, económicos e financeiros”, afirma Ricardo Pais Mamede. Será umm momento insólito e desafiante para poderes públicos e autoridades nacionais. “Vivemos uma crise de saúde e de confiança, com quebras no PIB e nos níveis de consumo nunca vistas desde as guerras”, acredita Pedro Lino
Consequências imediatas
Aumento substancial do desemprego (que atingiu imediatamente as camadas mais vulneráveis da população e aumentou as desigualdades sociais e a probreza), empresas que já tinham situação débil entraram em colapso imediato, elevado impacto orçamental resultante da perda de receita fiscal, do aumento da despesa com subsídios de desemprego e com as medidas criadas para fazer face aos problemas imediatos
Grande incógnita está no tempo da recuperação
“Dificilmente será uma crise em ‘V’ em que, passada a tormenta, voltaríamos rapidamente ao contexto anterior, uma vez que começou com fragilidades financeiras e estruturais que já vinham de antes”, acredita Ricardo Pais Mamede. Joaquim Miranda Sarmento não tem dúvidas: “Debilidades estruturais de baixa produtividade, competitividade e elevado endividamento tornam mais difícil a recuperação”
Apesar de um cenário melhor do que o da crise 2011-2015, a recuperação não será rápida. OCDE e Conselho de Finanças Públicas do Banco de Portugal acreditam que serão necessários pelo menos dois anos para voltar a níveis de 2019. O apoio da União Europeia será fundamental para uma recuperação em ritmo mais acelerado
João Duque tem a “expectativa que Governo consiga implementar medidas eficazes que ajudem a melhorar já no próximo ano”, enquanto Joaquim Sarmento receia que o executivo esteja à espera de um milagre europeu, o que é irrealista, e à espera de um plano milagroso feito por um homem providencial. “Há muita hesitação e incerteza no Governo”, diz.
Soluções e caminhos
Estimular ligação forte das pessoas às empresas e resposta rápida para manter capacidade produtiva das empresas é essencial e o apoio do Banco Central Europeu, na compra de dívida para mitigar a crise, é fundamental. Apostar nas reformas estruturais a médio/longo prazo e as alterações no sistema fiscal contribuirão para uma maior atração de investimento estrangeiro e de grandes projetos. Relação mais estreita entre Universidades e empresas, com vista a criar condições para uma melhor formação e qualificação de recursos humanos, mais adequados às exigências do mercado é também uma boa medida. “É preciso criar condições para que as empresas possam florescer mas sem carregar nos impostos porque tem que haver criação de emprego e de valor”, recomenda Pedro Lino, que reconhece: “Há dez anos esta crise tinha parado a economia por completo”.
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