Economia

Voltar a atrair clientes. Eis a missão de dois campeões do alojamento

Carlos Leal e Luís Veiga têm que desenvolver alternativas para voltar a atrair clientes
Carlos Leal e Luís Veiga têm que desenvolver alternativas para voltar a atrair clientes

Projetos Expresso. "Os Nossos Campeões" está de volta com um conjunto de entrevistas a dois e conversas online para dar a conhecer as situações que os escolhidos enfrentaram ao longo da pandemia. Após a indústria agroalimentar, o foco do projeto - que junta Expresso e Novo Banco para dar a conhecer figuras de destaque em diferentes áreas da sociedade - vai agora para o turismo, que terá uma summit digital na próxima terça-feira, 9 de junho, para discutir os grandes desafios do sector. A terceira dupla de entrevistados são Carlos Leal, diretor-geral da United Investments Portugal e Luís Veiga, administrador executivo do grupo Natura IMB Hotels

Carlos Leal, diretor-geral da United Investments Portugal
"A retoma dos mercados internacionais só deverá acontecer a partir de 2022"

Como surgiram as alternativas para lidar com a crise?

A UIP, sempre teve uma filosofia de inovação. A crise simplesmente obrigou a repensar estratégias e serviços para ir de encontro a uma nova realidade e às exigências dos nossos hóspedes, proprietários e mercado. E foi exatamente esse o caminho que seguimos no grupo UIP. É essencial sermos capazes de apresentar alternativas aos nossos hóspedes com novas ofertas e novos serviços. Um exemplo passa por fazer com que os nossos hotéis sejam mais do que unidades de alojamento: no Sheraton Cascais Resort será possível alugar uma unidade transformada em escritório, com serviços de hotel, para que seja possível estar em segurança em teletrabalho, muito parecido com o conceito de co-working. No Pine Cliffs Resort, por exemplo, todo o serviço de F&B foi repensado de forma a oferecer aos clientes novas opções que, até agora, não estavam disponíveis, como um serviço de entrega de produtos alimentares as unidades. São alternativas como estas e outras, que temos de ser capazes de encontrar, para cativar clientes.

A que obrigaram os desafios do sector?

Esta tem sido, sem dúvida, uma fase bastante desafiante para os resorts do grupo UIP, a todos os níveis. A pandemia veio colocar um travão a um início de ano que estava a ser bastante positivo e em franco crescimento. Durante dois meses tivemos os nossos hotéis, Pine Cliffs Resort e Sheraton Cascais Resort, praticamente encerrados o que representa, naturalmente, um grande desafio. Tivemos que tomar decisões muito difíceis, em particular fazer lay-offs, que obviamente teve um impacto negativo nos nossos colaboradores. No entanto foi essencial para, em conjunto com outras medidas, mitigar a ausência de receita. No entanto, começamos a sentir um certo otimismo motivado pelo aumento de procura que temos vindo a sentir nas últimas semanas e que nos levou já a preparar a reabertura das nossas unidades. Por isso, neste momento, o desafio passa não só pelo investimento em equipamentos de desinfeção e higienização para cumprir com as diretivas do SNS, mas ainda mais importante para a proteção dos nossos hospedes, proprietários e todos os colaboradores. Também tivemos que restruturar e reformular a nossa oferta e serviços de acordo com a nova realidade de forma a que os nossos hóspedes se sintam seguros e confortáveis nos nossos resorts.

Como será o turismo em Portugal no futuro próximo?

Portugal teve um bom desempenho durante a pandemia, tem sido visto internacionalmente como um exemplo a seguir e temos conseguido panssar a mensagem de que somos um país relativamente seguro. Esta perceção será, sem dúvida, uma mais valia para a retoma do setor do turismo. Sem duvida que existira uma maior relutância para viajar de aviao, longas distâncias e para paises de diferentes culturas e risco elevado e arriscar contrair o virus. Penso que a curto prazo vai haver uma maior dependência do mercado nacional e de mercados regionais nossos vizinhos, que poderão deslocar-se para Portugal de automovel. A médio prazo prevemos um alargamento geográfico, com a a retoma dos mercados regionais e europeus, em particular com a retoma das linhas aéreas e abertura de fronteiras. Infelizmente, na nossa opinião, a retoma dos mercados internacionais para os niveis que tinhamos antes da covid-19 so deverá acontecer a partir de 2022. Mas na realidade, ninguem sabe, podemos fazer vários cenários e pressupostos, mas até existir uma vacina, vai ser dificil dar seguranca aos mercados. Os produtos e serviços turisticos tambem vao sofrer alteracões, por exemplo mais dependência de servicos tecnológicos. Incuindo, por exemplo, a utilização de robôs que fornecem servico de quarto. Os hóteis de luxo tambem vao ter que adaptar os servicos para a nova realidade, com a eliminação de algums servicos em prol da seguranca, da saude e protecção de hóspedes e colaboradores. Em conclusao o turismo vai ter que se adaptar à nova normalidade e realidade presente, para o futuro. Mas o sector tem sido resiliente, e temos a certeza que vai conseguir encontrar soluções que vão assegurar a sustentabilidade do mesmo.

Luís Veiga, administrador executivo do grupo Natura IMB Hotels
"Como vamos ser competitivos no futuro?"

O turismo da Serra da Estrela está preparado para lidar com este periodo?

Aquilo que geralmente é denominado de "gigante adormecido" explica tudo: falta de vontade política para liberalizar o destino (que ainda se encontra concessionado em 40 mil hectares); falta de um plano de marketing territorial estratégico adaptado às novas tendências e oportunidades; incapacidade de organização de um novo modelo de liderança do território que seria apoiada pelos atores chave do sector público e privado. A curto prazo, o destino vai recuperar a conta-gotas sendo que os "hotéis destino", como é o caso do H2otel, assistirão a um regresso mais consistente, pela enorme taxa de fidelização agregada ao conceito.

Como lidou com os obstáculos da pandemia?

Os desafios durante o período de confinamento apenas vieram exponenciar aqueles que colocamos sempre em cima da mesa no nosso grupo: como vamos ser competitivos no futuro e, como vamos inovar para atrair os novos públicos-alvo, os novos negócios e sobretudo fidelizar ainda mais hóspedes e clientes?

Que perspetivas retira destes três meses?

A fase que atravessamos permitiu rever alguns conceitos/premissas que vão sair reforçados no pós-covid, a saber: a segurança e os protocolos sanitários; a sustentabilidade, passando os nossos valores aos hóspedes, clientes e colaboradore,s pois o cliente vai definitivamente escolher os hotéis e modelos de negócio mais sustentáveis e, finalmente a digitalização de processos que vai ser visível no processo de compra, automatismos, conteúdos e sobretudo muito marketing digital. O uso acelerado da tecnologia e dos canais digitais para aumentar a visibilidade e posicionamento da marca será uma das premissas básicas nesta fase.

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