Bernardo Trindade, administrador do grupo Porto Bay
"Somos nós que mantemos e criamos emprego"
Quanto tempo é que a ocupação hoteleira vai demorar a voltar aos níveis anteriores?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Depende de inúmeros factores que não controlamos, nomeadamente a recuperação no sector da aviação. Portugal depende em 90% deste tráfego. Até lá é muito importante ver o que o Estado possa dar às empresas. Somos nós que mantemos e criamos emprego.
Como foi esta sequência de desafios em três meses?
O primeiro logo em março, que passou por repatriar os nossos clientes aos países de origem e colocar os nossos colaboradores em casa. Tudo em segurança. Em seguida, fechar os hóteis em todas as suas áreas de operação. Uma nova aprendizagem porquanto somos especialistas em abrir, não em fechar hoteis.
O que está a fazer para lidar com as mudanças?
Preparar toda a equipa de colaboradores para uma retoma que será muito gradual. É exigente do ponto de vista do compromisso entre cuidados de saúde e a criação de valor na hotelaria. Nesse sentido, disponibilizando, via AHP e outras entidades, formação a todos os responsáveis, para que logo em seguida formem também as respectivas equipas.
Ingrid Koeck, sócia do grupo Torel Boutiques
"Estamos a ser desafiados a pensar completamente fora da caixa"
O que mais a marcou ao longo deste tempo?
Tempo, incerteza e mudança foram e continuam a ser os maiores desafios: primeiro, esta crise ocorreu de forma não expectável e com uma rapidez brutal. O tempo - ou a falta de - foi um fator crítico, pois precisámos de tomar decisões sob uma situação instável e que mudava rapidamente. Isso significou, em segundo lugar, uma necessidade de adaptação constante, à medida que tentámos ler os poucos sinais que o mercado nos ia dando, mesmo sabendo que dependemos de muitos fatores que estão fora do nosso controlo, como a evolução da crise sanitária, decisões governamentais, planos de voo, etc. Terceiro, na medida em que a mudança é algo que para o grupo Torel tem sido uma realidade presente em todo a nossa evolução, este é um momento em que estamos a ser desafiados a pensar completamente fora da caixa e a repensar a forma como iremos reposicionar a nossa oferta e a forma de apresentarmos o nosso produto turístico de excelência junto dos nossos clientes para conseguirmos aproveitar todas as oportunidades que momentos excecionais como o que estamos a viver sempre proporcionam a todos os players que estão no mercado.
Que medidas foram tomadas para lidar com o impacto da crise?
De entre um conjunto de medidas que foram tomadas pelo grupo Torel, realço especialmente três. Primeiro, foram implementadas várias medidas de higiene e segurança logo no início de março. Segundo, decidimos manter aberta uma unidade em cada cidade (Lisboa e Porto). Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o mundo não parou, mesmo que tenha desacelerado significativamente foi com muito orgulho que toda a equipa do grupo Torel Boutiques recebeu tantos hóspedes nos nossos dois hóteis durante estes últimos três meses. Terceiro, o facto de termos estado com estas duas unidades sempre abertas, permitiu-nos de forma imediata adaptar toda a nossa ação a uma nova realidade de mercado que os nossos clientes tão valorizam neste momento – segurança - disponibilizando hóteis boutique de luxo, de reduzida dimensão com novas ofertas de valor que estão a ter o melhor acolhimento.
O turismo de charme terá mais ou menos dificuldades que o resto do sector?
Como operadores de hóteis boutique, enfrentamos os mesmos desafios e as mesmas dificuldades que esta crise levanta a todo o mercado hoteleiro, sem exceção: fruto do elevado número de cancelamentos de reservas num espaço muito curto de tempo, tivemos de interromper algumas das nossas operações, à semelhança do que aconteceu como a grande maioria das empresas deste sector. O que talvez tenha sido diferente para nós, foi o facto de sermos um pequeno grupo conseguimos adaptar de forma bastante rápida a nossa estrutura a uma realidade completamente nova e adversa. Acreditamos que sendo os nossos mercados-alvo, sobretudo o de alto rendimento (nacional e Internacional) e o mercado internacional (96% do total), comecemos a ter uma procura elevada assim que os voos retomem a sua atividade normal. Sentimos já alguma retoma nas reservas, o que acreditamos seja já um sinal, e acreditamos que a boa qualidade está sempre em procura. Como tal, estamos otimistas de que estaremos numa boa posição.
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