Economia

Banca europeia cancelou €27,5 mil milhões em dividendos. É o que Portugal estima gastar na pandemia

Banca europeia cancelou €27,5 mil milhões em dividendos. É o que Portugal estima gastar na pandemia
JOÃO RELVAS/LUSA

Recomendação do BCE levou maioria dos grandes bancos europeus a cancelarem dividendos, o que também aconteceu em Portugal. Mas ainda houve 2 mil milhões distribuídos pelos acionistas

Banca europeia cancelou €27,5 mil milhões em dividendos. É o que Portugal estima gastar na pandemia

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Os grandes bancos europeus retiveram 27,5 mil milhões de euros do montante que iam distribuir em dividendos. Este valor corresponde a 77% do valor que estava previsto, segundo dados divulgados pelo Banco Central Europeu (BCE). Este valor equivale ao impacto financeiro das medidas que o Governo português pôs em cima da mesa para combater os efeitos da pandemia.

“Num nível agregado, as instituições significativas propuseram pagar, originalmente, 35,6 mil milhões de euros em dividendos relativos ao ano financeiro de 2019”, respondeu o líder do conselho de supervisão do BCE, Andrea Enria, em resposta a uma pergunta feita pela eurodeputada espanhola Clara Ponsatí.

Deste montante, um total de 27,5 mil milhões de euros ficou por pagar, segundo a mesma missiva, disponibilizada no site da supervisão bancária europeia. Esta importância equivale ao conjunto das medidas que o Governo pôs em cima da mesa para combater os efeitos da pandemia (mais de 25 mil milhões). Corresponde, também, a todo o dinheiro que, pela Europa, e até agora, tem sido gasto para resgatar companhias aéreas. A nível de grau de grandeza, é o equivalente a, por exemplo, três Jerónimos Martins ou duas EDP.

Em março, o BCE decidiu emitir uma recomendação aos mais de cem bancos europeus por si supervisionados, entre os quais CGD, BCP e Novo Banco, de que não deveriam distribuir dividendos pelos acionistas, para reterem capacidade de financiamento a empresas e famílias numa altura em que se antecipa uma recessão económica abrupta por conta do confinamento imposto para proteção a população da pandemia.

Desde aí, deu-se então, segundo os números avançados por Enria, o cancelamento de 77% dos montantes previstos. Entre os quais, constam os 300 milhões de euros que a CGD ia pagar ao Estado (1% do valor retido), e também o dinheiro que o BCP iria pagar (a importância não tinha sido revelada).

Da mesma forma, também o BPI e o Santander Totta abortaram os dividendos que iam pagar aos seus acionistas, os bancos supervisionados pelo BCE (CaixaBank e Santander), respetivamente, de 117 milhões e 410 milhões.

2 mil milhões foram pagos

De resto, deu-se a distribuição de 6,2 mil milhões de euros em dividendos, que “já tinham sido pagos antes da recomendação do BCE”.

“Apenas menos de 2 mil milhões de euros foram pagos após a publicação da recomendação, por exemplo porque não foi possível reverter a decisão tomada na assembleia-geral de acionistas”, assumiu ainda Andrea Enria, o líder europeu da supervisão bancária.

Se não tivesse havido cancelamento generalizado por parte dos bancos, o BCE, que pediu também contenção nos bónus distribuídos aos gestores, tinha já anunciado que poderia tornar a recomendação numa obrigação.

Fora da banca, e especificamente em Portugal, apesar de recomendações de contenção por parte dos supervisores financeiros (CMVM e ASF), as empresas que integram o PSI-20 (o índice de referência da bolsa portuguesa) acordaram o pagamento de 1,6 mil milhões de euros. No Parlamento, a proibição de distribuição de dividendos por parte de grandes empresas esteve em cima da mesa, mas as propostas que o visavam acabaram chumbadas.

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