Economia

Covid-19: 30% dos hotéis e restaurantes não pagaram salários em março. Metade avança para o lay-off

Covid-19: 30% dos hotéis e restaurantes não pagaram salários em março. Metade avança para o lay-off
Jason Leung/Unsplash

Inquérito realizado pela AHRESP traça um cenário negro do setor da restauração e hotelaria. 30% garante que já não conseguiu em março pagar os salários aos trabalhadores. E 70% não irão conseguir pagar salários em abril, caso os apoios do Estado não cheguem a tempo

75% de restaurantes e hotéis portugueses encontram-se encerrados e metade das empresas do sector vai avançar para lay-off. Estes são alguns resultados do inquérito da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) às empresas do sector para monitorar o impacto da pandemia do Covid-19, cujas respostas são de 1 a 3 de abril.

Os hotéis e restaurantes estão, em 75% dos casos, a aplicar o lay-off a todos os trabalhadores, e não apenas a uma parte. E também 75% destas empresas irão optar por colocar os trabalhadores na modalide da suspensão do contrato (em vez do regime de redução de horas).

Das empresas que vão para lay-off, 70% alega não ter capacidade para pagar os dois terços do salário dos trabalhadores em abril, caso a Segurança Social não entregue o respetivo apoio antes do final do mês. Já em março, 30% dos hotéis e restaurantes alegam não ter conseguido pagar aos trabalhadores.

Zero vendas em abril e maio

O inquérito da AHRESP mostra ainda que mais de 80% dos hotéis e restaurantes estimam zero de faturação para abril e maio, o que "é muito preocupante", como frisa a secretária-geral da associação, lembrando que este universo refere-se sobretudo a micro-empresas.

Para o mês de junho, cerca de 23% das empresas não conseguem prever qualquer estimativa de faturação, e 36% antecipam mesmo ter zero receita no mês de junho.

Segundo o inquérito da AHRESP, 77% das empresas de restauração e hotelaria não recorreram aos apoios anunciados tendo em conta a covid-19, alegando sobretudo que as linhas de apoio "não são adequadas" às suas necessidades.

"Reconhecendo o esforço que o Governo tem feito, têm sido anunciadas várias medidas, mas muitas são inadequadas ao sector que representamos", salienta a secretária-geral da AHRESP, explicitando que, além de "não terem fácil acesso, têm alguma burocracia complicada, demoram 40 dias úteis, e as empresas não aguentam este tempo". As linhas de apoio centram-se em "moratórias e alívios temporários", que não resolvem "os custos enormíssimos" e encargos fixos pesados que as empresas têm de assumir.

"Defendemos a necessidade de haver dinheiro a fundo perdido para aguentar a tesouraria da empresa", sublinha Ana Jacinto. "Urge haver apoios diretos para que as empresas possam sobreviver e manter os postos de trabalho". Estes apoios diretos referem-se ao momento presente, mas também "ao momento em que a pandemia passar", em que terá de haver "capacidade das empresas para produzirem receitas e pagar os encargos".

30% ponderam insolvência direta

"Tendo em conta as estimativas de faturação para abril, maio e junho, e a capacidade de suportar os encargos habituais (pessoal, luz, gás, água, rendas (se for arrendatário), encargos financeiros entre outros fornecedores), 42% das empresas referiu que em abril não vai conseguir cumprir com os compromissos". Em maio já serão 54% as empresas que não vão ter essa capacidade, e em junho serão 58%, adianta o inquérito da associação

Perante a "incapacidade de cumprir com os encargos e compromissos da sua atividade, 17% das empresas admite avançar diretamente para insolvência, 29% tem essa intenção, e 33% das empresas não sabe se irá avançar ou não para insolvência".

Apesar de tudo, até ao momento 94% das empresas de alojamento e restauração que responderam ao inquérito não efeturaram despedimentos.

"As empresas estão a tentar segurar o mais possível os postos de trabalho", frisa Ana Jacinto. A secretária-geral da AHRESP enfatiza a "urgência" de ter medidas e apoios adequados ao sector durante o estado de emergência e para que as empresas possam sobreviver e manter os postos de trabalho após a pandemia. "Se não, não morremos da doença, vamos morrer da cura", conclui.

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