As vendas dos bancos que a Caixa Geral de Depósitos tem no Brasil e em Cabo Verde estão atrasadas. Estas são obrigações que constam do plano estratégico que a instituição pública tem de cumprir até ao final deste ano. Só que, entretanto, chegou uma pandemia, a de covid-19, que veio alterar a economia e, por conseguinte, a atividade bancária. Contudo, por enquanto, o banco liderado por Paulo Macedo não vê razões para acreditar que o plano não ficará concluído a tempo.
Com três propostas para a aquisição do Banco Caixa Geral, no Brasil, a administração do banco público tem vindo a adiar uma decisão face ao calendário pretendido. Questionada há uma semana sobre o tema, a equipa de Paulo Macedo ainda não tinha apresentado uma proposta ao Governo, que lidera o dossiê, sobre quem deveria ficar com a instituição.
O Banco Luso Americano, onde o Grupo Amorim é acionista, o Banco ABC Brasil e a Artesia Gestão de Recursos são as instituições que apresentaram, em setembro, intenções de compra do banco da CGD no Brasil. A meta inicial era terminar a operação em fevereiro, mas, estando-se já no fecho de março, só agora é que a administração da CGD está a “finalizar” o relatório para apresentar ao Governo com a sua recomendação.
Mas o Brasil – depois de Espanha e África do Sul – não é o único mercado de que a Caixa está a sair. Está a ser vendido também o Banco Comercial do Atlântico, uma das entidades que detém em Cabo Verde. Só que esta operação está a sentir um atraso por conta dos efeitos da pandemia. “Cabo Verde está na fase de apresentação de propostas indicativas, cuja data está ainda por precisar em função do atual contexto envolvente”, disse o banco na mesma altura.
De qualquer forma, e como escreve hoje o Jornal de Negócios, a CGD não antecipa que a covid-19 estrague os planos de vender os bancos ainda em 2020. Só que estas vendas não são as únicas que têm de ser concretizadas este ano, de forma a que a Caixa cumpra aquilo que foi estabelecido entre o Estado português e a Comissão Europeia em 2017, e que permitiu a entrada de 3,9 mil milhões de euros estatais nessa altura para a sua capitalização.
Há metas para a margem financeira (negócio que resulta da diferença entre juros recebidos em créditos e juros pagos em depósitos), para o número de balcões e funcionários, para o indicador que mede a diferença entre proveitos e custos – e, se tudo isso já era desafiado pelo atual panorama de taxas de juro em mínimos, agora é alvo de incertezas por conta da pandemia de covid-19, que levou a CGD a eliminar algumas comissões e a aceitar moratórias em créditos por seis meses (o que vai fazer com que essas receitas não entrem).
Contudo, a administração da CGD não acredita que haja problemas. “Temos contatcos periódicos com Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia designadamente neste mês, e nos últimos meses. Não foi considerado, até à data, existirem quaisquer questões que possam ameaçar a conclusão do plano”, diz a instituição financeira.
A Direção-Geral da Concorrência, que fiscaliza o cumprimento das metas, não respondeu ao Expresso.
No ano passado, a CGD vendeu os bancos que tinha em Espanha e na África do Sul, permitindo receber mais-valias em torno de 200 milhões de euros - o que possibilitou chegar aos lucros de 776 milhões em 2019, os melhores em 12 anos.
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