Economia

Quarta-feira negra em Wall Street. Dow Jones regista segunda maior queda do ano

Quarta-feira negra em Wall Street. Dow Jones regista segunda maior queda do ano
Robert Alexander

O principal índice bolsista da praça de Nova Iorque caiu 5,9% esta quarta-feira, ficando apenas atrás da derrocada de 7,8% na segunda-feira. Declaração de pandemia global e resposta política frouxa dos governos assustam investidores

Tudo aponta para que esta segunda semana de março seja a semana mais negra em Wall Street desde início do ano.

O Dow Jones 30, o principal índice do New York Stock Exchange, registou esta quarta-feira uma queda de 5,9%. É a segunda maior quebra do ano depois da derrocada de 7,8% a 9 de março, a segunda-feira negra das bolsas no mundo.

Os analistas financeiros sublinham que aquele índice já caiu 20,3% desde o pico de quase 3000 pontos a 12 de fevereiro. Uma queda superior a 20% face a um pico significa que o mercado mudou radicalmente de tendência.

Mercado passou do touro para o urso

A longa trajetória de subida do índice nos últimos 11 anos terminou e a bolsa entrou no que os analistas designam de bear market, marcado por uma tendência de baixa, por oposição ao bull market, de euforia, contrastando o urso com o touro.

O índice S&P 500 caiu 4,9% e o Nasdaq recuou 4,7%. O índice de pânico financeiro, o VIX associado ao S&P 500, fechou em 53,9, um dos níveis mais elevados desde a crise financeira de 2008 que têm sido registados esta semana.

O índice MSCI para o conjunto das bolsas nova-iorquinas recuou esta quarta-feira 4,9%, sendo a segunda maior queda do ano, depois de 7,7% a 9 de março.

Pandemia e resposta frouxa dos políticos

Os investidores receberam esta quarta-feira um triplo choque.

Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu, numa intervenção dramática por vídeoconferência, terá avisado os líderes europeus que, se não houver uma ação conjugada, uma crise como a de 2008 poderá regressar. Até ao momento, a União Europeia prevê um pacote de estímulos através de um Fundo de Investimento a que dedica apenas 25 mil milhões de euros (o mesmo que Itália orçamenta para enfrentar a crise interna).

A resposta frouxa da Administração norte-americana também os preocupa. A imagem que dá é que promete em demasia (com as operações de marketing político de Trump acenando com "grandes números"), e concretiza, depois, pouco, sublinha o analista financeiro Marc Chandler. Aliás, Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro, declarou esta quarta-feira que "não vê necessidade para uma intervenção nos mercados financeiros", já que a Reserva Federal "agiu significativamente" (desceu na semana passada a taxa diretora em 50 pontos numa reunião de emergência). A avaliação da resiliência dos mercados só deverá ser feita a 23 de março quando está convocada o Conselho Federal de Supervisão da Estabilidade (que junta Mnuchin, Jerome Powell, o presidente da Fed, John Williams, presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, e ainda os reguladores). Até lá há mais sete sessões dos mercados pela frente. À hora de fecho de Wall Street, o presidente Trump ainda não havia feito a comunicação ao país.

Finalmente, esta quarta-feira a Organização Mundial de Saúde resolveu declarar a situação de pandemia global do coronavírus de Wuhan.

A Europa fechou no vermelho, com exceção de Milão, onde o índice MIB subiu 0,3%. As praças europeias com maiores quedas foram Varsóvia e Atenas. Em Lisboa, o PSI 20 caiu 0,5%. A volatilidade foi alta nas praças europeias. Depois de uma abertura em alta seguiu-se uma queda. O índice MSCI para o conjunto da zona euro recuou 0,9%. Já acumula 10,3% de quebra em março e 21% desde início do ano. As maiores derrocadas em março centram-se em Viena e em Milão.

Até a bolsa de Londres fechou com perdas de 1,4%, apesar da reunião de emergência do Banco de Inglaterra ter decidido esta quarta-feira cortar a taxa diretora em 50 pontos-base descendo-a, de novo, para o mínimo histórico de 0,25%, que já vigorara em resposta do Brexit.

A Ásia fechou toda no vermelho e, na América Latina, São Paulo liderou as quedas, com uma derrocada de 7,6% do índice iBovespa.

À escala mundial, o índice global MSCI perdeu 3,6%, a segunda maior queda do ano, depois da derrocada de 7% a 9 de março - a segunda-feira negra.

Alteração geopolítica no mercado do ouro negro

O preço do barril de Brent desceu 3,7% fechando em 35,84 dólares. Desde início do mês já caiu 29%. E não se vislumbra uma trégua entre Riade e Moscovo na guerra de preços desencadeada pelos sauditas depois do colapso da aliança entre a OPEP e a Rússia.

Esta rutura alterou inesperadamente o quadro geopolítico das relações entre as grandes potências do ouro negro e está a ameaçar a saúde económica das economias emergentes exportadoras que não aguentam preços abaixo de 40 dólares..

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