Banco de Inglaterra espera pior ano desde 2009

Banco central reviu em baixa as previsões e aponta para ritmo de crescimento de apenas 0,75% este ano
Banco central reviu em baixa as previsões e aponta para ritmo de crescimento de apenas 0,75% este ano
Jornalista
O Banco de Inglaterra (BoE) veio deitar um balde de água fria em algum otimismo que havia sobre o futuro da economia britânica na última reunião presidida pelo governador Mark Carney, realizada esta semana, apenas um dia antes da concretização do ‘Brexit’. Nas novas previsões, o quarto trimestre de 2019 foi de estagnação e 2020 vai ser marcado por um crescimento medíocre, inferior ao da zona euro. O BoE cortou a projeção para 2020 de 1,3% para 0,75% e reduziu o crescimento previsto para os dois anos seguintes, apontando agora para 1,5% e 1,75%. O período crítico vai ser este ano, precisamente o ano de transição do ‘Brexit’, que termina em 31 de dezembro de 2020.
A saída do Reino Unido concretizou-se ontem, mas o país terá um período de transição, e só a partir de 2021 estarão em vigor as regras que irão definir as futuras relações com a União Europeia (UE), bem como a forma como a economia britânica se irá relacionar com os restantes países. Um cenário que será determinante para avaliar os impactos económicos e, em particular, quais as consequências para a economia portuguesa. Segundo um inquérito da Schroders, 52% dos investidores consideraram que o objetivo político de Boris Johnson até final deste ano é pouco realista. Os inquiridos acham que o país vai ficar numa espécie de “limbo”, em que as negociações para um novo acordo comercial não se irão fechar até final do ano.
O problema para os países fornecedores do Reino Unido, como Portugal, é que as oportunidades que o crescimento britânico possa abrir dependem do novo acordo comercial e da evolução da libra esterlina. A libra esteve em queda vertical até agosto do ano passado, quando quase chegou à paridade com o euro. A desvalorização foi de quase 20%. Desde o referendo, em junho de 2016, até hoje, a depreciação foi de 10%, atenuando a depreciação inicial a partir do momento em que se tornou claro que o ‘Brexit’ não seria caótico (ver gráfico). Com uma libra mais fraca, as importações por parte das empresas britânicas tornam-se mais caras e o turismo dos britânicos ou os seus investimentos no exterior mais dispendiosos em euros. Refira-se que mais de 50% das importações britânicas são oriundas da UE e que 40% do investimento direto no estrangeiro se situam naquele espaço.
Apesar do ‘Brexit’, o Fundo Monetário Internacional espera que a economia do Reino Unido cresça acima da média da zona euro até 2024. A diferença na dinâmica de crescimento entre a economia britânica e o conjunto da zona euro poderá ser de uma décima em 2020 e ampliar-se para duas décimas daqui a quatro anos (ver gráfico). Esta previsão do FMI, avançada em Davos, aquando da atualização das previsões macroeconómicas, na semana passada, caiu como uma bomba e fez manchete nos tabloides britânicos. Em suma, os técnicos do FMI preveem que nos primeiros anos de separação da UE o efeito do ‘Brexit’ não empurre a economia britânica para uma pedalada inferior ao coração da moeda única. O que, a confirmar-se, pode representar uma oportunidade para Portugal, que tem no mais velho aliado o seu quarto mercado de exportação, numa altura em que se perspetivam ritmos de crescimento inferiores em dois dos nossos três principais clientes — França e Alemanha. No entanto, tudo irá depender do tipo de acordo que for conseguido entre Londres e Bruxelas até final do ano.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt