A Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) decidiu esta quarta-feira manter, em grande medida, a "pausa" no quadro de política monetária na sua primeira reunião de 2020 e após a assinatura do acordo de "primeira fase" na guerra comercial entre os EUA e a China.
Por unanimidade, os banqueiros centrais do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) decidiram manter a taxa diretora no intervalo entre 1,5% e 1,75%.
Depois de três cortes de 25 pontos (0,25 pontos percentuais) em 2019, o último dos quais na reunião de 30 de outubro, a Fed decidiu iniciar uma "pausa" na política monetária, não apontando nem para novos cortes nem para um regresso a uma subida da taxa diretora.
No entanto, a Fed decidiu subir a taxa de remuneração das reservas em excesso dos bancos depositadas no banco central para 1,6%, um aumento de 5 pontos base (0,05 pontos percentuais) e estendeu até "pelo menos" abril de 2020 as operações de recompra no overnight (repo) que iniciaria após a crise neste mercado em setembro. Estas operações - que não são consideradas quantitative easing pela Fed - deveriam terminar este mês. Até à data, a Fed já injectou 500 mil milhões de dólares (€454 mil milhões) através destas operações repo desde o início em setembro.
A Fed decidiu esta quarta-feira prosseguir também com a compra de bilhetes do Tesouro pelo menos até durante o segundo trimestre deste ano.
No mercado da dívida pública, as taxas de curto prazo até 12 meses estão, agora, de novo, acima das taxas registadas a 2 e 5 anos. A curva de taxas da dívida está parcialmente invertida. A taxa a 10 anos caiu esta quarta-feira para 1,586%, o nível mais baixo desde outubro de 2019, e aproxima-se das taxas de muito curto prazo que variam entre 1,52% a 30 dias até 1,568% a 6 meses.
Reservas dos bancos nunca abaixo de 1,5 biliões de dólares
Recorde-se que em setembro ocorreu uma crise no mercado quando as reservas dos bancos na Fed caíram para 1,44 biliões de dólares, um mínimo desde abril de 2011. Em final de 2019, fecharam em 1,63 biliões. O pico das reservas foi registado em agosto de 2014 com um montante de 2,79 biliões.
Jerome Powell, presidente da Fed, diria na conferência de imprensa que se realizou esta quarta-feira após a divulgação do comunicado oficial, que a estratégia da Fed é não permitir, no futuro, que as reservas dos bancos desçam abaixo de 1,5 biliões de dólares - um limiar considerado o "chão" para as reservas. "O nível de reservas no nosso sistema tem de ser mais elevado do que pensávamos", frisou Powell. Refira-se que, antes da crise financeira global, em agosto de 2008 as reservas dos bancos eram apenas de 10,45 mil milhões de dólares.
O presidente da Fed admitiu que, em meados de 2020, as reservas deverão ter atingido "um nível amplo" julgado adequado e que, a partir daí, o banco central poderá descer as operações repo.
Duas alterações de linguagem
O comunicado desta quarta-feira introduziu duas mudanças na linguagem oficial. A primeira diz respeito à clarificação sobre a estratégia de alcance do objetivo da política monetária em matéria de inflação e a segundo na avaliação do mercado de consumo.
A linguagem oficial passa a partir de agora a falar do "retorno" ao objetivo de inflação de 2%, alterando a formulação existente no comunicado de dezembro passado onde se referia que a política monetária se destinava a apoiar uma inflação "perto" de 2%.
Powell explicou na conferência de imprensa que o "perto" podia "levar à ideia de que a inflação poderia ficar abaixo de 2%" e que a Fed ficaria confortável com essa situação. "Não estamos satisfeitos que a inflação esteja persistentemente abaixo de 2%", sublinhou pelo que se impõe a clarificação na linguagem.
O comunicado alterou, também, a avaliação do consumo, considerando-o, agora, que está "moderado" e não "forte" como dizia em dezembro passado.
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