Património das famílias mais ricas representa 365 vezes o das mais pobres em Portugal

O grupo dos 10% das famílias mais ricas tem mais de metade da riqueza total em Portugal. A metade mais pobre fica-se por 8,1%
O grupo dos 10% das famílias mais ricas tem mais de metade da riqueza total em Portugal. A metade mais pobre fica-se por 8,1%
Editor Executivo
Os 10% de famílias mais ricas do país tem uma riqueza líquida que corresponde a, pelo menos, 365,3 vezes o valor da riqueza dos 10% mais pobres (ver gráfico). Este grupo de famílias mais ricas detém mais de metade (53,9%) da riqueza total em Portugal, enquanto a metade da população mais pobre se fica por 8,1%. Os dados fazem parte de um estudo esta quinta-feira publicado na Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal que analisou a situação financeira das famílias a partir dos Inquéritos à Situação Financeira das Famílias realizados pelo banco central em 2010, 2013 e 2017.
A riqueza líquida corresponde aos ativos reais (imobiliário, negócios por conta própria ou veículos) acrescidos dos ativos financeiros deduzidos das dívidas. Embora tenha havido uma redução do fosso entre as famílias mais ricas e as mais pobres de 2013 para 2017, a distância continua a ser considerável. As 365,3 vezes correspondem à diferença entre a riqueza de quem está no percentil 90 – tem ainda 10% da população mais rica acima de si – face a quem está no percentil 10 (tem 10% de mais pobres abaixo).
“Em 2017, o valor mediano da riqueza líquida situava-se entre menos de 1000 euros na classe mais baixa de riqueza líquida (ou seja no grupo de 20% de famílias com riqueza líquida mais reduzida) e mais de 500 mil euros na classe mais alta (ou seja, no grupo de 10% de famílias com riqueza líquida mais elevada)”, refere o estudo assinado por Sónia Costa, Luísa Farinha, Luís Martins e Renata Mesquita.
Apesar das diferenças serem substanciais, não houve entre 2010 e 2017 alterações muito significativas na distribuição da riqueza líquida. Ainda assim, "a riqueza líquida mediana reduziu-se na maior parte das classes de riqueza inferiores ao percentil 80, na classe mais baixa de rendimento e nas famílias em que o indivíduo de referência tem menos de 35 anos ou tem entre 45 e 64 anos”.
Ao mesmo tempo, a percentagem de famílias com dívidas manteve-se praticamente constante (46,2% em 2010 e 45,7% em 2017), embora tenha havido uma descida ligeira nas hipotecas (em particular nos mais jovens) e um aumento da fatia de famílias com outro tipo de créditos. No conjunto, a dívida mediana caiu de 59,4 mil euros para 35 mil euros neste período.
Do lado dos ativos, a percentagem de famílias proprietárias da casa onde vivem não se alterou muito (76% em 2010 e 74,5% em 2017), ainda que nas famílias de menores rendimentos tenha havido uma diminuição considerável (de 21% para 14%). A residência principal continua a ser o principal ativo das famílias e representava, na mediana, 99,7 mil euros em 2017.
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