A EDP quer realizar dois projetos inovadores de produção de hidrogénio, para testar a viabilidade técnica e económica dessa fonte de energia, no quadro das estratégias de descarbonização, revelou esta quarta-feira a diretora de planeamento energético da EDP, Ana Quelhas, durante a conferência anual da Associação Portuguesa de Energia (APE), em Lisboa.
Segundo a responsável da EDP, a elétrica portuguesa integra um consórcio europeu que se candidatou a um financiamento comunitário para um projeto na área do hidrogénio, que envolve várias universidades. Do lado português, esse projeto prevê a produção de hidrogénio na central de ciclo combinado do Ribatejo, uma termoelétrica que queima gás natural para gerar eletricidade.
O objetivo é começar a preparar a unidade de produção em 2020, para começar de facto a produzir hidrogénio em 2022. Esta unidade irá consumir eletricidade da rede para fazer a eletrólise da água e assim gerar hidrogénio, que depois será queimado juntamente com gás natural para produzir eletricidade.
O projeto, que será apenas de demonstração, longe de ter uma escala comercial, fará uma incorporação relativamente reduzida de hidrogénio no gás natural. O eletrolisador terá 1 megawatt (MW) de potência e conseguirá armazenar 12 megawatts hora (MWh) de energia, indicou ao Expresso fonte oficial da EDP. Está em causa um investimento de cerca de 2 milhões de euros.
"Num consórcio internacional de referência neste sector (22 parceiros), a EDP – através do NEW R&D Centre for New Energy Technologies e da EDP Produção – lideram o piloto de demonstração à escala industrial naquela central. Estima-se o envolvimento de uma equipa de cerca de 50 profissionais da EDP", explica a elétrica.
"Este projeto enquadra-se na estratégia da empresa na procura de soluções de geração de baixo carbono numa perspetiva energética integrada que passará simultaneamente pela eletrificação do consumo e pela produção de combustíveis não emissores de gases com efeito de estufa", acrescenta a empresa.
António Mexia: "Portugal pode ambicionar estar na linha da frente"
Num comentário por escrito enviado ao Expresso, o presidente executivo da EDP, António Mexia, realça que "Portugal pode ambicionar estar na linha da frente dos desenvolvimentos do hidrogénio da próxima década e aliar estes progressos ao uso de renováveis, o que é essencial para atingirmos as metas de neutralidade carbónica até 2050".
"O hidrogénio é uma opção clara na implementação do novo mundo da energia. Enquanto líderes da transição energética, estamos continuamente a avaliar e a testar potenciais alternativas de produção de energia. A nossa aposta em R&D na área do hidrogénio, a partir da eletrólise, faz-se com a ambição de encontrar modelos de negócio alternativos, melhores e mais sustentáveis", acrescentou o gestor.
O projeto na central do Ribatejo servirá sobretudo para a EDP ganhar experiência nesta tecnologia, já que no plano técnico e económico há soluções mais eficientes para gerar eletricidade do que esta opção, que na prática significa gastar eletricidade para produzir um gás que será queimado para... produzir novamente eletricidade.
"Com este projeto, a EDP pretende ganhar experiência prática na produção de hidrogénio e sua reconversão em eletricidade, incluindo também a validação laboratorial de outros conceitos, e permitirá uma análise aprofundada da cadeia de valor do hidrogénio, estudando as aplicações e modelos de negócio mais favoráveis", explica a empresa.
Esta é uma tecnologia ainda longe de estar madura. O custo atual dos eletrolisadores é ainda demasiado elevado para que o hidrogénio seja uma fonte de energia competitiva com as demais. Mas à medida que as empresas de energia vão apostando nesta área a tecnologia poderá observar reduções de preço por via da industrialização da produção dos equipamentos, num processo similar ao verificado na última década com a queda do custo dos painéis fotovoltaicos.
Hidrogénio offshore
Além do projeto para a central termoelétrica do Ribatejo, a EDP tem uma outra iniciativa na área do hidrogénio, embora numa fase mais embrionária.
A empresa portuguesa quer estudar a viabilidade de acoplar uma unidade de produção de hidrogénio à produção de energia eólica offshore.
Neste caso, contudo, a EDP não tem ainda definida a localização desse piloto. O grupo está a instalar o seu primeiro parque eólico offshore em Portugal ao largo de Viana do Castelo, mas tem vários outros projetos eólicos offshore em curso noutras geografias, como a Escócia, França e os Estados Unidos da América.
A produção de hidrogénio offshore tiraria partido da abundante produção de eletricidade das torres eólicas no mar. Mas há vários desafios no plano da engenharia para que esse projeto se concretize.