Economia

Presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável diz que Açores não precisam limitar turistas

Presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável diz que Açores não precisam limitar turistas
Juergen Sack/Getty Images

O presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável, Luigi Cabrini, considerou esta quinta-feira que os Açores ainda não têm pressão turística exagerada e defendeu que mais importante do que limitar o número de turistas é ter uma política concertada.

"Não é preciso fixar o número de turistas que uma região quer, mas se está a promover, por exemplo, observação de aves, quer que os participantes desfrutem dessa atividade e quer criar condições para uma visita de qualidade. Na minha opinião, não há um problema de limitação de turistas neste momento nos Açores, é um problema que outros destinos estão a sofrer", adiantou.

Luigi Cabrini falava, em declarações aos jornalistas, à margem do congresso anual do Global Sustainable Tourism Council [Conselho Global de Turismo Sustentável], organismo internacional de acreditação para a certificação de turismo sustentável, que reúne cerca de três centenas de participantes de 42 nacionalidades em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores.

Na abertura do congresso, o presidente do organismo alertou para os desafios que o crescimento do número de turistas colocam ao desenvolvimento sustentável das regiões, lembrando que já existem 1,4 mil milhões de turistas a viajar todos os anos.

Questionado sobre o caso concreto dos Açores, certificados hoje como destino turístico sustentável, Luigi Cabrini disse que o arquipélago é um exemplo de boas práticas nesta área. "Os Açores são um exemplo do lado bom do turismo. Temos um destino em que até a promoção do arquipélago é feita tendo em conta o valor real das ilhas, a cultura, o ambiente, as tradições, a forma como prepararam os queijos, etc", avançou.

Para o responsável do Conselho Global de Turismo Sustentável, o fator mais importante para assegurar a sustentabilidade de um destino turístico é existir uma "estratégia" e que setor público e privado trabalhem em conjunto na sua implementação. "Não se pode apenas promover o destino, esperar que os turistas venham e lidar com as situações caso a caso. É preciso planear antecipadamente e colocar empenho nos produtos que se quer vender, preservando o destino", salientou.

O processo, referiu, deve envolver todos os agentes do setor, desde operadores internacionais, companhias áreas, espaços de alojamento e guias turísticos. Segundo Luigi Cabrini, o certificado atribuído hoje aos Açores é prova de que a região tem respondido ao desafio, mas é preciso que o continue a fazer no futuro.

"O número de turistas vai provavelmente aumentar nos Açores, mas acho que há espaço para esse crescimento. É preciso ter sempre essa gestão em conta para evitar o que aconteceu noutros destinos, em que a qualidade do turismo se deteriorou e em que os residentes estão a sentir que os impactos negativos do turismo são superiores aos benefícios", alertou.

Também a secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores, Marta Guerreiro, disse que o arquipélago quer "continuar a crescer em quantidade", porque tem condições para isso, mas "acima de tudo crescer em qualidade". "O turismo só é bom para os Açores se for bom para os açorianos", sublinhou, alegando que muitos dos critérios da certificação diziam respeito a questões sociais.

Marta Guerreiro considerou que é natural que em algumas zonas do arquipélago com maiores fluxos turísticos a população manifeste preocupação com o impacto do turismo na sua qualidade de vida, mas assegurou que os Açores estão num caminho que permite um crescimento do turismo "sem comprometer o património ambiental".

"Nós temos na região já em algumas áreas sensíveis limitações. Posso dar vários exemplos: a montanha da ilha do Pico, a Caldeira do Faial, o ilhéu da Praia, na Graciosa, a Caldeira Velha, o ilhéu de Vila Franca [São Miguel]. Essa realidade já existe. Mais importante que estas limitações específicas é a gestão que tem de ser feita de todas as pressões que existem das várias áreas. A nossa preocupação é ir monitorizando e percebendo quando é que determinada área precisa de ter alguma limitação introduzida ou revista", apontou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate