Economia

Hospital Monsanto investe 1,2 milhões de euros

Carlos Alcântara é o fundador e principal acionista do Hospital Monsanto
Carlos Alcântara é o fundador e principal acionista do Hospital Monsanto
Nuno Botelho

Unidade de saúde mental privada abriu há dois anos, em Alfragide, num investimento de 5 milhões de euros e está a crescer em número de camas e de valências. Investidores querem criar uma rede de hospitais

O pai era psiquiatra e, por isso, a saúde mental foi uma presença constante na vida de Carlos Alcântara que, embora não tenha seguido as pisadas paternas, acabou por investir nesta área.

Primeiro ficou com a clínica privada que o pai abriu em Lisboa, vendida em finais da década de 1990, para depois comprar a Clínica Senhor da Serra, em Belas, concelho de Sintra, fundada em 1962, e que se dedicava ao tratamento de doentes psiquiátricos em regime de internamento.

Com apenas 35 camas, esta unidade começou a revelar-se insuficiente para a procura e para dar resposta à “grande evolução da psiquiatria nos últimos 20 anos, nomeadamente com o aumento do número de medicamentos que passaram a permitir controlar, em menos dias, alguns tipos de crises, por exemplo”, explica Carlos Alcântara. Avançou para a construção do Hospital Monsanto – unidade psiquiátrica e residencial, situado em Alfragide, concelho da Amadora, num investimento de 5 milhões de euros.

Abriu portas em finais de 2017 e, agora, a unidade de saúde psiquiátrica está a expandir-se. “Quando fizemos o hospital já sabíamos que seria necessário crescer, mas antes era preciso ter a certeza sobre o projeto. Dar um passo de cada vez, com segurança. É que uma coisa é trabalhar com dinheiros públicos, outra é com capitais privados”, faz notar o gestor, que também faz parte da direção da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada.

Na calha está um novo investimento de 1,2 milhões de euros para aumentar o número de camas no Hospital Monsanto, bem como criar uma nova unidade de terapêutica para tratamentos em internamentos de média duração, “com várias valências sobretudo na área das intervenções comunitárias, em podem entrar os vícios de jogo ou de internet. Atualmente temos o programa de 28 dias para o alcoolismo, com uma taxa de sucesso elevada – 70% de casos com indicação de recuperação, aqui não se diz cura porque isso não existe”, explica o fundador e principal acionista do Hospital Monsanto. Este novo serviço de internamento está projetado para o edifício de Belas que, entretanto, ficou vago.

Tratar os distúrbios alimentares

Além disso, em janeiro vai arrancar, no hospital de Alfragide, uma área dedicada aos distúrbios alimentares com um programa integrado e uma equipa multidisciplinar constituída por especialistas de psiquiatria, psicologia, endocrinologia e nutrição. “Percebemos que há falta de respostas integradas numa unidade de saúde e durante um ano trabalhámos neste projeto. Vai avançar no princípio do ano em ambulatório e deverá passar a incluir internamento passados seis meses. Depende das necessidades que os técnicos identifiquem”.

Aparelhos de eletrochoques herdados da antiga Clínica Senhor da Serra, em Belas
Nuno Botelho

Também há a aposta na saúde mental dos mais velhos. “Criámos uma unidade para tratamento de Alzheimer e estamos na fase de seleção do quadro médico. Isto abre-nos as portas para uma área mais geriátrica da saúde mental, ou seja, das doenças crónicas”, refere Carlos Alcântara. Entretanto, está a ser concluído um departamento de análises clínicas.

Outra ambição é ter uma rede Monsanto. “Pretendemos expandir a atividade através de novos hospitais, nomeadamente, no Porto. Temos estado a estudar esta hipótese a fim de percebermos as necessidades que existem nesta zona do país (temos atualmente utentes da região norte)”, revela o gestor. A este respeito, Carlos Alcântara menciona ainda que “há um investidor estrangeiro interessado no projeto, bem como eventuais parceiros em Portugal. Ainda não sabemos se avançamos com os nossos projetos sozinhos ou com outros investidores”. Sobre valores do investimento, diz que estão a ser calculados “porque depende se for uma unidade de raiz ou com um hospital em parceria”.

Os projetos de expansão ditaram uma reestruturação societária do Hospital Monsanto que, depois de finalizada, coloca 51% do capital nas mãos de Carlos Alcântara e os restantes 49% pertencerão ao sócio Rui Ventura Vaz, seu parceiro desde os tempos da clínica de Belas, da qual era diretor. A operação está a ser assessorada pelo escritório de Lisboa da sociedade de advogados Kennedys e quando estiver fechada será, então, avaliada uma eventual abertura do capital a outros investidores e o lançamento de novos hospitais em joint venture.

Saúde mental tem baixa rentabilidade

O Hospital Monsanto tem atualmente 68 camas (estão, agora, internados 60 doentes) e há capacidade para chegar às 120 camas, mas para já estão projetadas mais 24 acomodações numa das alas. No total, a unidade emprega um universo de 100 colaboradores, dos quais cerca de 30 são médicos.

Em termos de resultados, o hospital deve fechar 2019 com uma faturação entre 2,5 e 2,6 milhões de euros, mais 30% face a 2018. “Vínhamos de uma unidade pequena em Belas onde tínhamos apenas 35 camas, daí o aumento significativo da atividade com a abertura, em dezembro de 2017, do Hospital Monsanto”, esclarece o gestor. “Para 2020 vamos crescer de certeza com mais consultas e mais camas, mas em termos de faturação poderá não ser assim tão fácil. Neste tipo de unidades de psiquiatria fatura-se cerca de 1/5 a 1/6 daquilo que gera uma unidade com cirurgia, porque aí há outra capacidade de rentabilizar a atividade”, adianta Carlos Alcântara.

O Hospital Monsanto não tem acordos nem convenções com seguros ou subsistemas de saúde. “Os seguros têm dificuldade em medir os custos dos tratamentos ao nível da psiquiatria, pois encaram-nos como eternos. Mas temos acordos internos que dão condições especiais para quem tem seguros de saúde ou é beneficiário de um subsistema”.

Uma primeira consulta de psiquiatria custa 90 euros e as restantes são 85 euros, enquanto na psicologia a despesa inicial é de 70 euros, que depois passa a 60 euros. Já o programa de 28 dias para tratamento do alcoolismo anda na ordem dos 5 mil euros, enquanto a intervenção, de cinco a sete dias, para desabituação de drogas fica, em média, por 1700 euros.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ASSantos@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate