Economia

Estamos menos ecológicos: peso da eletricidade no consumo de energia em Portugal é o mais baixo em cinco anos

Estamos menos ecológicos: peso da eletricidade no consumo de energia em Portugal é o mais baixo em cinco anos
By Eve Livesey/Getty Images

Governo está empenhado em ter uma eletricidade cada vez mais renovável, mas os dados mais recentes da Direção-Geral de Energia mostram que a eletrificação dos nossos consumos afinal está a baixar, com o petróleo a reforçar o seu peso. E também a incorporação de renováveis é a mais baixa dos últimos quatro anos

Estamos menos ecológicos: peso da eletricidade no consumo de energia em Portugal é o mais baixo em cinco anos

Miguel Prado

Editor de Economia

Ao longo da última década multiplicaram-se as intervenções políticas em defesa das energias renováveis, prometendo que no futuro Portugal seria mais verde, numa transição energética que implicaria necessariamente uma maior eletrificação dos nossos consumos de energia: desde a que usamos para cozinhar em casa, como a que usamos para nos deslocarmos nos nossos automóveis. Mas as últimas estatísticas mostram que afinal a nossa energia está hoje menos eletrificada do que há cinco anos.

O mais recente balanço energético da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) revela que em 2018 o peso da eletricidade no consumo final de energia em Portugal foi de 26,2%. Uma quota que não só está abaixo dos 26,7% de 2017 como também é o mais baixo nível de eletrificação dos últimos cinco anos (em 2014 a eletricidade representava 27,1% do consumo total de energia em Portugal).

A menor eletrificação da nossa energia parece contradizer a evolução dos últimos anos e o discurso habitual de políticos e gestores de que a eletrificação está em curso e será cada vez mais relevante. E será uma forma de reduzir a dependência energética do exterior. O Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) aponta para 2030 uma dependência energética de 65%.

Na verdade, os dados da DGEG mostram que o consumo final de eletricidade está a crescer ininterruptamente desde 2014. E de 2017 para 2018 cresceu 2,9%, acompanhando, em boa medida, a recuperação económica nacional.

Apesar desse crescimento no consumo de eletricidade, o peso desta fonte tem diminuído, sobretudo porque outras fontes de energia apresentam aumentos mais pujantes.

De acordo com a DGEG (que neste balanço energético converte todas as fontes para uma unidade comparável, TEP - Toneladas equivalentes de petróleo), “o consumo de energia final em 2018 aumentou cerca de 1,4% relativamente a 2017”, mas os maiores aumentos vieram do consumo de combustível de aviação (que cresceu 6,5%) e do consumo de combustíveis nos transportes marítimos internacionais (a subir 4,1%).

Assim, a maior fatia do consumo de energia final em Portugal continuou em 2018 a vir do petróleo (mais de 46%), seguido da energia elétrica, gás natural, calor, biomassa e outros tipos de energia.

A dependência energética do exterior em 2018 foi de 77,9%, ligeiramente abaixo dos 79,7% (espelhando uma maior produção de eletricidade assente em renováveis, com menor consumo de carvão, por exemplo). Mas está significativamente acima do mínimo histórico de 72,4% registado em 2014. Há 10 anos a dependência energética do exterior era mais alta: 81%.

Incorporação de renováveis em mínimo de quatro anos

Portugal tem afirmado internacionalmente a sua ambição em matéria de renováveis. Ainda esta segunda-feira, no âmbito da COP, em Madrid, o primeiro-ministro António Costa reiterou o objetivo do Plano Nacional de Energia e Clima de em 2030 Portugal ter 80% da sua eletricidade proveniente de fontes limpas (os restantes 20% virão de centrais alimentadas a gás).

Para 2050 a meta é ainda mais ambiciosa: 100% de energia limpa na eletricidade e 90% nos transportes. O Governo português não esconde a sua ambição em termos de descarbonização e tem um roteiro para lá chegar.

Mas o esforço de tornar mais limpa a produção de eletricidade só será realmente consequente se uma fatia crescente do consumo de energia do país vier... da eletricidade.

Considerando o consumo de energia final, os números da DGEG mostram que afinal a incorporação de fontes de energia renovável fechou 2018 no nível mais baixo dos últimos quatro anos. Estamos a falar de décimas, mas em 2018 o peso das renováveis no consumo final ficou em 29,2%, abaixo dos 29,4% de 2017.

Em 2016 o peso das renováveis tinha estado nos 29,9% e em 2015 nos 29,5%. Em 2014 essa incorporação tinha um nível mais reduzido, 28,5%. A meta portuguesa é alcançar em 2020 uma incorporação de renováveis no consumo final de energia de 31%.

O aparente retrocesso dos últimos dois anos na quota das renováveis pode ser atribuído aos avanços e recuos das fontes limpas na geração de eletricidade (a energia hidroelétrica tem grandes oscilações de ano para ano, por exemplo), mas também ao crescimento do consumo de produtos petrolíferos (quer na mobilidade, quer na indústria), reflexo da recuperação económica do país.

Apesar deste desvio em 2018, a DGEG acredita ser ainda possível alcançar a meta de 31% de renováveis em 2020, como afirmou entretanto ao Expresso o diretor-geral de Energia, João Bernardo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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