Economia

Comissão Europeia quer mais gasto público por parte da Alemanha e Holanda

Apesar de Berlim e Haia preverem uma política orçamental mais expansionista em 2020, a Comissão Europeia adiantou esta quarta-feira que os dois governos ainda têm margem para poder gastar mais

A Comissão Europeia juntou-se ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Central Europeu (BCE) e ao Eurogrupo apelando a que os países com margem orçamental, nomeadamente a Alemanha e a Holanda, abram mais os cordões à bolsa em 2020.

No relatório publicado esta quarta-feira de apreciação final dos 'rascunhos' dos orçamentos para 2020 enviados pelos governos da União Europeia em outubro, Bruxelas reconhece que a Alemanha e a Holanda avançaram com políticas orçamentais mais expansionistas em 2019 e que preveem prosseguir esse esforço em 2020.

O défice estrutural (saldo orçamental corrigido pelo ciclo económico e sem contar medidas extraordinárias) aumentou em 0,6% do Produto Interno Bruto potencial no caso da Holanda e em 0,4% para a Alemanha, refere o documento da Comissão publicado esta quarta-feira. Mas Bruxelas acha que, apesar da expansão, "alguma da margem orçamental continuará por usar". Pelo que, os dois governos deverão "estar prontos a continuar a usá-la".

A Comissão sublinha que a política monetária expansionista levada a cabo pelo BCE, e que deverá prosseguir em 2020 e em anos seguintes, começa "a enfrentar efeitos colaterais negativos", pelo que cabe à política orçamental desempenhar o seu papel no esforço "reflacionista" (procurando subir o nível de inflação em direção ao objetivo de 2%). O BCE "arcou com esse fardo" até agora, diz a Comissão, e já não tem condições de estar em cena sozinho.

Pessimismo sobre o crescimento

A política orçamental expansionista (por parte dos países com margem orçamental) é tanto mais necessária, pois Bruxelas está pessimista sobre o andamento da economia da União.

"É improvável que o crescimento do PIB recupere rapidamente", diz o documento publicado esta quarta-feira.

Não deixando de sublinhar, logo de seguida, que "se trata de uma grande mudança em relação às previsões anteriores, o facto de que não se espera mais que o crescimento recupere significativamente nos próximos dois anos". Bruxelas alerta que muitos dos apectos da desaceleração global "são persistentes".

Berlim mantém-se surda

"Ação preventiva é necessária". pediu esta semana, Mário Centeno, com o chapéu de presidente do Eurogrupo, perante a Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.

"Não vejo razão para ser alarmista, mas temos de agir", e sem regressar "aos mesmos erros" do passado, disse o ministro das Finanças português.

Mas os apelos têm caído em saco roto em Berlim, apesar de uma declaração conjunta, surpreendente, da confederação dos patrões da indústria alemã BDI e da central sindical DGB terem reclamado mais gasto público no orçamento de 2020 por parte do governo federal de Angela Merkel. "A Alemanha tem de acordar da sua fase sonolenta", disse Dieter Kempf, o líder dos patrões, que pediu um adicional de €17 mil milhões aos €43 mil milhões de investimento já previsto pelo governo.

A chanceler já disse esta semana que "com o orçamento [para 2020] também podemos gerar crescimento".

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