Paypal desiste da Libra, a criptomoeda impulsionada pelo Facebook
Chesnot
Empresa de pagamentos norte-americana deixa de ser fundadora da Associação Libra. Anúncio surge na sequência das notícias que avançam que vários fundadores do projeto estão a repensar a sua participação no lançamento da criptomoeda
A criptomoeda impulsionada pelo Facebook sofreu mais um abanão. A Paypal decidiu sair da Associação Libra, o grupo de empresas impulsionado pelo Facebook para desenvolver a infraestrutura financeira na qual a criptomoeda com o mesmo nome vai assentar.
A empresa de pagamentos online com sede em São José, nos Estados Unidos, “tomou a decisão de desistir de participações futuras” no projeto que conta com mais de 30 membros fundadores (Visa, Mastercard, Uber, Spotify e a luso-britânica Farfetch, entre outros), disse um responsável da empresa num email a que o “Wall Street Journal” teve acesso, divulgado na sexta-feira passada.
“Decidimos cessar a continuação da participação na Associação Libra para continuarmos a focar-nos no progresso da nossa missão e nas nossas prioridades de negócio, numa altura em que ambicionamos democratizar o acesso a serviços financeiros a populações carentes”, escreveu.
Apesar disso, a Paypal — empresa na qual um dos 'pais' da Libra, David Marcus, trabalhou como presidente — garante que “o Facebook tem sido um parceiro valioso e de longa data” e que vai “continuar a apoiar e a trabalhar com o Facebook em várias áreas”.
A saída da empresa de pagamentos já foi confirmada por Dante Disparte, diretor de políticas e comunicação da Associação Libra, que disse que “é melhor saber da saber da saída agora do que mais tarde”. “Cada organização que iniciou este caminho connosco deve fazer a sua própria avaliação sobre os riscos e recompensas de estar comprometido com a mudança que a Libra promete”, acrescenta.
Recorde-se que a Paypal já recebeu uma intimação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos por causa do seu programa contra a lavagem de dinheiro e o branqueamento de capitais. E, este verão, recebeu uma carta do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos a pedir uma análise completa destes programas na empresa, que revelava a sua preocupação em relação à forma como os fundadores da Libra iriam proteger a privacidade dos consumidores.
A decisão da Paypal surge na sequência de uma notícia do “Financial Times” que avançava que pelo menos dois dos apoiantes iniciais da Associação Libra estariam a considerar retirar-se do projeto, por receio de atrair a atenção das entidades que supervisionam o seu negócio e na sequência das resistências dos reguladores, supervisores e deputados em relação à infraestrutura e à criptomoeda Libra. Mais tarde, o “Wall Street Journal” dava nomes às organizações hesitantes: Mastercard e Visa, além de outras instituições financeiras.
De acordo com o presidente executivo da Visa, Alfred Kelly, o apoio das empresas à Associação Libra era “provisório”, uma vez que a sua participação ainda não tinha sido oficializada.
Idealizada com a missão de disponibilizar “a internet do dinheiro”, a Libra pretende ser uma moeda global, através da qual as transações são mais baratas e rápidas. Foi por isso que foi pensada como uma stablecoin — para evitar ser um ativo especulativo como a Bitcoin —, tendo na sua base uma reserva de ativos nos quais se incluem títulos de dívida pública de curto prazo e algumas das principais moedas mundiais.
Assente na tecnologia blockchain, a infraestrutura financeira na qual a criptomoeda poderá ser transacionada está a ser desenvolvida pela Associação Libra, que vai também gerir a reserva de ativos na qual a criptomoeda vai assentar. O objetivo é utilizar um software aberto, que permite a qualquer pessoa criar aplicações. A primeira, anunciada pelo Facebook, é a carteira digital Calibra - subsidiária liderada por David Marcus - para a realização de transferências e pagamentos imediatos através do Messenger, do WhatsApp e de uma aplicação independente.