Economia

CGD reduz em Cabo Verde para manter França. Marcelo teme que Portugal perca peso no arquipélago

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebido pelo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, em junho passado
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebido pelo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, em junho passado
ANTÓNIO COTRIM

A Comissão Europeia e o Governo acordaram venda de um dos bancos da Caixa em Cabo Verde. O Presidente promulga o diploma que arranca com o processo. Mas tem “dúvidas sobre o entendimento de que a mesma não enfraquecerá a presença financeira de Portugal” naquele país africano

CGD reduz em Cabo Verde para manter França. Marcelo teme que Portugal perca peso no arquipélago

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Marcelo Rebelo de Sousa tem dúvidas sobre a decisão da Caixa Geral de Depósitos de vender um dos bancos que tem em Cabo Verde. Ainda assim, o Presidente da República aprovou o diploma do Governo que permite essa operação.

“Atendendo a que esta operação faz parte do plano de restruturação da Caixa Geral de Depósitos, e embora tenha dúvidas sobre o entendimento de que a mesma não enfraquecerá a presença financeira de Portugal em Cabo Verde, o Presidente da República promulgou o diploma que define o processo de alienação das participações sociais detidas pela Caixa Geral de Depósitos, S.A., no capital social da sociedade Banco Comercial do Atlântico, S.A.”, assinala uma nota colocada esta segunda-feira, 16 de setembro, no site da Presidência.

Desde julho de 2018 que se sabe que a CGD está obrigada a uma “redução da exposição aos mercados de Cabo Verde e de Moçambique até ao final de 2020”, como anunciou, na altura, o Ministério das Finanças. Foi este o “ajustamento da estratégia internacional” decidido quando Portugal conseguiu o acordo com a Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia para manter a sucursal do banco público em França.

Caixa vende o maior banco

O gabinete de Mário Centeno assegurou, há um ano, que esta redução “não porá em causa a presença da CGD nesses países”. Agora, Marcelo acredita que a operação poderá “enfraquecer” o peso português no arquipélago, onde esteve em junho passado, nas comemorações do 10 de junho.

A Caixa tem, neste momento, 58% do capital do Banco Comercial do Atlântico (BCA), o maior banco que está presente em 34 agências, e é dono de 70% do Banco Interatlântico, com nove balcões. É o primeiro que está à venda, como foi decidido em dezembro. Na altura, o presidente executivo do grupo, Paulo Macedo, justificou a escolha com o facto de o BCA ser um banco “mais virado para dentro”, enquanto o Interatlântico é centrado no negócio de empresas “mais virado para fora”.

A operação tem de ficar concluída até ao final do próximo ano, mas é intenção do banco acelerar o processo este ano. A 22 de agosto, o Governo aprovou, em Conselho de Ministros, o arranque do processo de venda do BCA, referindo que “contribui para o reforço da solidez financeira do banco público, bem como para o cumprimento do plano estratégico subjacente à capitalização da CGD, correspondendo, nessa medida, à prossecução do interesse público”.

Paulo Macedo, presidente da CGD
RUI FARINHA / NFACTOS

Um banco com dimensão global a diminuir

Foi nessa altura que foram selecionados pelo Executivo os candidatos à compra do Banco Caixa Geral – Brasil: Banco Luso Brasileiro, Artesia Gestão de Recursos e Banco ABC Brasil. Ainda não há vencedor.

Concluída está já a alienação em Espanha, com o espanhol Banco Caixa Geral a passar para as mãos do Abanca – o que permitiu à CGD abrilhantar os lucros do primeiro semestre em 135 milhões de euros. Por fechar está ainda a operação na África do Sul, com a alienação do Mercantile Bank ao Capitec.

A diminuição da presença internacional faz parte dos objetivos do plano estratégico acordado entre o Estado português e a Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia, de forma a assegurar a legalidade da injeção de 3,9 mil milhões de euros de dinheiros estatais no banco em 2017. Este é um dos pilares do plano, a par do reforço da oferta comercial, do ajustamento da infraestrutura (corte de balcões e pessoal) e da melhoria da gestão do risco.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate