Caixa terá de pedir 2 mil milhões de euros nos mercados até 2022
A Caixa está obrigada a ir aos mercados emitir títulos de dívida, que irão para mãos de terceiros. Decisão europeia obriga a pedidos de 500 milhões de euros por ano aos investidores
A Caixa está obrigada a ir aos mercados emitir títulos de dívida, que irão para mãos de terceiros. Decisão europeia obriga a pedidos de 500 milhões de euros por ano aos investidores
Jornalista
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A Caixa Geral de Depósitos vai ter de ir aos mercados pedir dinheiro aos investidores, a um ritmo de 500 milhões de euros ao ano. Depois de um percurso de limpeza de ativos não produtivos (malparado), e de um aumento de 46% dos lucros no primeiro semestre, o banco público tem novos desafios pela frente.
O presidente Paulo Macedo referiu, na conferência de apresentação de resultados, a emissão de dívida no valor de 2 mil milhões de euros até 2022 no âmbito do chamado MREL (requisito mínimo de fundos próprios e créditos elegíveis), uma espécie de almofada para eventuais necessidades adicionais de capital em casos de dificuldades, o que, segundo Paulo Macedo "permite à Caixa fazer emissões de 500 milhões até 2022" ao ano.
Segundo o comunicado de resultados da entidade liderada por Paulo Macedo, foi no primeiro semestre que a CGD foi notificada pelo Banco de Portugal dos seus requisitos de MREL, “conforme decisão do Conselho Único de Resolução”.
“O requisito de MREL, encontra-se em linha com as expectativas da CGD e é consistente com o seu plano de financiamento que prevê a emissão de aproximadamente 2 mil milhões de euros de passivos elegíveis (excluindo o refinanciamento de AT1) – emissões de dívida sénior preferencial e dívida sénior não preferencial - até ao final de 2022”, concretiza o mesmo documento.
Ou seja, a CGD tem de emitir estes títulos de dívida, que ficam nas mãos de investidores, e estes títulos têm de existir para que sejam eles os primeiros a absorver perdas em caso de dificuldades na instituição financeira.
O Conselho Único de Resolução, o organismo europeu responsável pela decisão, determinou que “a partir do dia 1 de janeiro de 2023, a CGD tem que deter um montante de fundos próprios e de passivos elegíveis de 11.453 milhões de euros, o equivalente a 13,27% do total de passivos e capitais próprios do seu perímetro de resolução, à data de 31 de dezembro de 2017”. É esse montante que leva a que seja necessária esta emissão de 2 mil milhões de euros nestes títulos nos próximos anos.
Paulo Macedo critica, contudo, esta obrigação europeia. "A Caixa não precisa da dívida que vai emitir no âmbito do MREL". O banco tem excesso de liquidez. "A Caixa é a entidade que paga mais juros em Portugal: 6 milhões de euros por depósitos no BCE, aos clientes, em investimento em Bilhetes do Tesouro com juros negativos, custos com a contribuição do setor bancário que totalizam no semestre 91 milhões de euros. E ainda custos com o próprio MREL", desabafou o CEO.
Neste momento, os rácios de solidez da CGD estão acima do exigido. O rácio que mede o peso dos melhores fundos próprios da entidade bancária (CET 1) fixou-se em 14,8% em junho, face aos 14,1% de um ano antes.
Paulo Macedo sublinha que vai continuar a ser preciso limpar o balanço e a reduzir custos, mas existem novos desafios, como o aumento das comissões através do negócio de gestão de ativos, venda de seguros e gestão de pagamentos.
"Reparar a conta de demonstração de resultados" é outro dos desafios, embora num ambiente hostil, diz Macedo. "Temos um contravapor: a descida das taxas de juro", assim como uma concorrência mais feroz. Uma citação que vai em linha com que o que já foi dito pelos presidentes do BPI e do BCP.
Face ao plano estratégico definido até 2020, as contas agora apresentadas cumprem os objetivos estabelecidos. A rendibilidade (ROE) está nos 7,4%, sendo o objetivo para 2020 de 9%, melhorando dos 5,3% nos primeiros seis meses de 2018.O rácio de malparado (NPL) está nos 7,3% quando em 2020 o objetivo é de 7%, o cost-to-income situou - se nos 48% e em 2020 o objetivo é de 43%.
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