Economia

Banqueiro de topo que já não vai ser líder executivo do Santander exige €100 milhões de indemnização. E tem gravações

Andrea Orcel
Andrea Orcel
AFP/Getty Images

Andrea Orcel, até aqui na UBS, terá pedido demasiado dinheiro. Quando viu que não ia conseguir os seus objetivos, começou a registar secretamente conversas

Luís M. Faria

Jornalista

Um banqueiro internacional de topo que o Santander desistiu de contratar como presidente executivo (CEO, chief finance officer) em janeiro foi a tribunal em Espanha para exigir ao banco cem milhões de euros de indemnização. Andrea Orcel, italiano, que antes dirigia o banco de investimentos UBS, diz que o Santander voltou atrás naquilo que se havia comprometido a fazer. E tem gravações para o provar.

A prova principal parece ser uma carta de quatro páginas onde o Santander, um dos maiores bancos europeus, promete compensar Orcel dos bónus diferidos que ele ia deixar de receber do UBS por aceitar o seu novo cargo. Mas o italiano também apresenta gravações de conversas com altos responsáveis que efetuou secretamente. Entre esses responsáveis está a presidente do banco, Ana Botín.

O Santander explica que desistiu de nomear Orcel em janeiro, quatro meses depois de o ter escolhido, por os encargos financeiros previstos estarem a ultrapassar "as expetativas originais do conselho de administração". Orcel teria prometido fazer esforços para receber da UBS pelo menos metade dos seus bónus expectáveis nos próximos sete anos, mas não cumprira. Nem sequer tinha chegado a enviar uma carta com esse objetivo, ao contrário do combinado. E em vez de reduzir o montante da compensação pedida, ainda o aumentara em três milhões de euros durante as negociações.

O banco espanhol nega que alguma vez tenha chegado a haver um compromisso formal. "Nenhum contrato chegou a ser finalizado ou cumprido", explica. Ficaram a faltar vários requisitos, incluindo o acordo final sobre os termos e condições e as autorizações superiores que são exigidas nesses casos, incluindo a avaliação de idoneidade pelo Banco Central Europeu e a própria aprovação formal pelo conselho de administração do Santander.

Quanto às gravações secretas, diz o Santander, são "uma prática de duvidosa qualidade ética e moral para alguém que potencialmente se ia tornar o CEO do Santander, e em última análise confirma que a direção da administração de não avançar com esta nomeação foi a correta".

Se a contratação tivesse ido para a frente, Orcel teria ficado a ganhar dez milhões de euros por ano, para além de cerca de 50 milhões como prémio de contratação e para o compensar do que ia deixar de receber no UBS. Os cem milhões que agora exige pretendem cobrir os danos sofridos, mais as despesas legais em que vai incorrer. Prevê-se que o processo possa demorar ano e meio.

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