Economia

O País está melhor ou pior? As belas e os senãos do Estado da Nação em gráficos

10 julho 2019 7:30

Sofia Miguel Rosa

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

soeren stache / getty images

Como está o país na frente orçamental e financeira, na educação, na saúde e nos transportes, no mercado de trabalho e na Justiça? Muito melhor, responderá o governo. Muito mal, replicará a oposição. No dia em que o Parlamento debate o Estado da Nação, preparámos-lhe 26 gráficos que mostram “as belas” e “os senãos” do país

10 julho 2019 7:30

Sofia Miguel Rosa

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

No espaço de uma legislatura a economia portuguesa ganhou tração, internacionalizou-se mais e credibilizou-se aos olhos dos investidores. O mercado de trabalho espevitou, devolveram-se sacrifícios pedidos durante o período de crise, restituiu-se poder de compra à função pública e reforçaram-se alguns serviços essenciais. Mas isto está longe de contar a história toda. Portugal cresce acima da média europeia mas perde terreno para concorrentes diretos, nomeadamente de leste, deve a sua estabilização financeira e orçamental em boa medida ao Banco Central Europeu e a Mário Draghi, tem na dívida pública uma bomba relógio e, a julgar pelas queixas de cidadãos e profissionais, apresenta serviços públicos crescentemente depauperados.

São as belas e os senãos do Estado da Nação, que lhe apresentamos em 26 gráficos interativos e o convidamos a explorar.

A taxa de desemprego caiu para 7% em 2018, o valor mais baixo desde 2004. O recuo do desemprego marca a legislatura, mas a fatia de trabalhadores por conta de outrem com contratos precários mantém-se inalterada, nos 22%.

Desde que o PS chegou ao Governo, há mais 318 mil empregos e as remunerações dos novos contratos subiram, impulsionadas pelo incremento do salário mínimo. Mas, não descolam da casa dos 600 euros mensais.

O abandono escolar precoce continua a descer, mas a diferença nas qualificações da população ativa face aos demais países europeus ainda é enorme, sendo necessário atrair muito mais adultos para a formação ao longo da vida para fazer diminuir o atraso.

A aposta na internacionalização do ensino superior está a dar frutos, com um aumento significativo de estrangeiros a escolherem instituições nacionais. Mas na formação dos jovens portugueses, os resultados continuam aquém do desejado. A meta de ter 40% de diplomados na faixa 30-34 anos até 2020 não vai ser atingida.

A população portuguesa em risco de pobreza ou exclusão social diminuiu para 21,6% em 2018, o valor mais baixo desde, pelo menos, 2004. Mas, a fatia dos trabalhadores na riqueza produzida no país é inferior à média europeia.

O número de passageiros nos transportes tem vindo a subir todos os anos, mas como não houve investimento - nomeadamente nos comboios e nos barcos, que estão bastante obsoletos - as queixas quanto ao serviço acumulam-se. É na ferrovia que isso mais se nota.

O Governo acena com uma fatura maior da despesa corrente em Saúde, de 5,3% em 2018 e um recorde de crescimento desde 2008, contudo as famílias também estão a gastar mais (4,6%). Aliás, desde 2014 que a população não assumia uma parte tão grande dos encargos, sobretudo relativos a consultas e exames em hospitais privados.

Entre 2015 e até pelo menos maio deste ano, não parou de crescer o número de profissionais da área clínica em funções no Serviço Nacional de Saúde. Os médicos são agora mais 10%, passaram de 16.978 para 18.740, e os enfermeiros mais 11%, aumentando de 41.830 para 46.434, mas nem por isso os portugueses têm acesso mais rápido aos cuidados. Utilizando apenas o indicador das cirurgias, prescritas a uma pequena parte de todos os doentes assistidos, é evidente que se espera mais. O número de doentes que anualmente entram para a lista de espera é sempre maior, por exemplo os 178.022 em 2015 eram 166.200 só nos primeiros cinco meses de 2018.

Nos últimos anos temos assistido a uma diminuição dos processos que se acumulam nos tribunais, mas a justiça continua a ser muito lenta. Por exemplo, na jurisdição administrativa e fiscal, uma das mais problemáitcas, seriam precisos 1000 dias para recuperar os atrasos dos processos fiscais. E a evolução na legislatura não é famosa.

As exportações continuam a reforçar o seu peso na economia portuguesa, mas o excedente externo (medido pelo saldo da balança corrente e de capital), alcançado durante os anos da troika, está a desaparecer.

O governo tem conseguido descer o peso da dívida no PIB desde 2017, como exige Bruxelas. Mas só as empresas e famílias têm descido efectivamente o endividamento, em valor e no peso na economia.

Portugal atingiu um défice de 0,5% do PIB em 2018, o mais baixo em democracia até à data. Mas o Governo optou por não aliviar a carga fiscal, que terá atingido um pico de 35,2% do PIB no ano passado.

O sistema financeiro está a regressar aos lucros, apresentando melhores rendibilidades e menor nível de malparado, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O mal parado em Portugal continua bem acima dos níveis da União Europeia.