Economia

Zeinal Bava: O comando já não é dele

Zeinal Bava: O comando já não é dele
José Caria

O Messi das telecomunicações, como lhe chamaram os brasileiros, está desempregado. E sem perspetivas. Em Portugal não há espaço para ele. Zeinal Bava foi acusado pela Justiça de ter sido "capturado" por Ricardo Salgado e de ter colocado a PT ao serviço do Grupo Espírito Santo. Em troca terá recebido luvas de 25 milhões de euros. No dia em que Zeinal Bava é ouvido na instrução da Operação Marquês, republicamos um artigo sobre a vida do gestor depois da PT, originalmente publicado em 2018

Zeinal Bava: O comando já não é dele

Anabela Campos

Jornalista

Zeinal Bava, o gestor que já foi uma estrela em Portugal, raramente é visto em Lisboa. Tem casa nas Janelas Verdes, próximo do Museu de Arte Antiga e não muito longe do Palácio Ramalhete, hoje os aposentos da pop star Madonna. É um duplex amplo e modernamente decorado. Investe em arte e aprecia artistas contemporâneos como Vhils, que foi, aliás, o artista que escolheu para o Data Center da Covilhã. A vida atual do ex-presidente da Portugal Telecom (PT) é quase um mistério. As pessoas que lhe são próximas esquivam-se a perguntas, e o máximo que se atrevem a contar é que Zeinal Bava passa uma grande parte do tempo em Londres, onde o seu filho mais velho estudou (e já está a estagiar num banco de investimento).

Vida social não tem. Nunca teve. Zeinal falhou mesmo o último encontro de antigos alunos da University College London, na Malásia, onde se licenciou em Engenharia Eletrónica, e as raríssimas vezes que é visto em público em Portugal é em restaurantes, embora os frequente cada vez menos.

Um daqueles a que ainda vai é o restaurante do Hotel Memmo, no Príncipe Real. Gostava, no tempo em que era uma estrela da gestão, de jantar no Papa Açorda e no Bica no Sapato - foi visto muitas vezes lá, inclusive com os filhos ainda pequenos. Só que o gestor, que sempre foi um pouco tímido, tornou-se invisível nos últimos anos.

Ao contrário de outros arguidos da 'Operação Marquês', como é o caso do ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, ou do ex-primeiro-ministro José Sócrates, que falam com jornalistas e fazem declarações púbicas, Bava optou pelo silêncio. Deixou de atender chamadas de jornalistas e não tem assessores.

O Expresso tentou contactá-lo, mas não obteve qualquer resposta até ao fecho desta edição. Nunca deu entrevistas para se defender e abdicou do contra-ataque que caracteriza o ex-primeiro-ministro.

Nem fez mea culpa, como o antigo presidente e administrador da PT Henrique Granadeiro, que assumiu parte das responsabilidades do investimento ruinoso de 897 milhões de euros da PT no Grupo Espírito Santo (GES) e chegou mesmo a pedir desculpa a quem admitiu ter prejudicado durante o processo que levou à transformação da operadora de telecomunicações de multinacional numa subsidiária do grupo franco-israelita Altice.

Não se lhe conhece nenhum trabalho, embora haja quem admita que dá consultoria a fundos e a projetos na Austrália. Bava está, na prática, desempregado.

Um processo que se arrasta desde que em outubro de 2014, depois de conhecido o investimento fatal no GES, foi afastado pelos acionistas da brasileira Oi, operadora com quem a PT se tinha fundido. Quem conhece o meio financeiro internacional não lhe augura grande futuro profissional, apesar de Zeinal ter apenas 53 anos. Em Portugal não há espaço para ele - já não há grandes empresas e a sua reputação ficou irremediavelmente manchada. "Quem vai dar emprego a um gestor de topo que, ao que tudo indica, recebeu indevidamente 25 milhões de euros de um acionista em nome de uma obediência cega?", pergunta um antigo colega da banca de investimento.

Inteligente, trabalhador e ambicioso, Zeinal Bava atingiu, por mérito próprio, o topo aos 42 anos, quando se tornou presidente da então desejada Portugal Telecom. Foi um dos mais mediáticos gestores de telecomunicações da Europa. Era popular entre os analistas, que o elegeram por três anos consecutivos o melhor administrador financeiro do sector e por duas vezes o melhor presidente executivo.

Hoje vive na sombra. Caiu dos píncaros. Deixou-se seduzir pelo dinheiro, não resistiu ao brilho dos milhões e foi apanhado no colapso do BES e na contracurva das investigações que se sucederam.

O desejo de se tornar um homem rico falou mais alto e venceu o brilhantismo profissional que muitos lhe reconhecem na gestão da PT, inclusive os seus maiores concorrentes. Cedeu à vontade do maior acionista da PT, o BES de Ricardo Salgado, e capitulou, arrastando consigo o operador histórico de telecomunicações ao fazer um investimento arriscado (que mais tarde se tornou ruinosos) de 897 milhões de euros na Rioforte, uma subsidiária do GES. Operação que há de ficar para a história da gestão contemporânea como um erro a não repetir.

Uma nódoa no currículo de alguém que era tratado na imprensa como "o génio das finanças" ou "o Messi das telecomunicações", epíteto com que foi recebido na imprensa brasileira quando, no verão de 2013, assumiu a liderança da Oi, a operadora onde entrara depois da vender a Vivo aos espanhóis da Telefónica. Foi o princípio do fim.



A CONTAS COM A JUSTIÇA

Zeinal Bava é arguido na 'Operação Marquês', um caso de polícia em que os negócios em torno da Portugal Telecom assumiram um dos papéis principais nos primeiros meses de 2016. O alegado pagamento de luvas a José Sócrates tinha ramificações para a PT. O Ministério Público acusa Bava de ter sido "capturado" por Ricardo Salgado - então líder do Grupo Espírito Santo (GES), na altura o maior acionista da PT (10%) - e de ter "submetido" a operadora à estratégia do império da família Espírito Santo. Foi sob o impulso de Salgado e do então primeiro-ministro José Sócrates que a PT avançou para a fusão com a brasileira Oi. Bava sempre achou que não era uma boa ideia, o operador histórico do Brasil era uma enorme dor de cabeça, mas defendeu o projeto e foi um dos seus estrategos. A Oi, asfixiada por uma gigantesca dívida, está hoje sob um processo de recuperação judicial.

A tese dos investigadores e do procurador Rosário Teixeira é de que Bava - a par de José Sócrates (32 milhões de euros) e também do antigo presidente da PT Henrique Granadeiro (25 milhões de euros) - foi um dos maiores beneficiários do saco azul do GES. Recebeu 25,2 milhões de euros - entregou 18,5 milhões em 2016 à massa falida do GES e os restantes 6,7 milhões foram arrestados pelo tribunal. A tese de Bava, e que tem sido usada pelo seu advogado de defesa, José António Barreiros, é de que o gestor não era o proprietário desse dinheiro, mas sim apenas seu fiel depositário. Todas as energias de Bava estão concentradas na preparação da sua defesa. Se há, aliás, uma atividade a que o ex-presidente da PT se dedica atualmente é a essa. E o Expresso sabe que tem contactado alguns ex-quadros da antiga PT para servirem de suas testemunhas.

O certo é que quatro anos depois de estourar a bomba que estilhaçou a PT - a aplicação de 98,32% dos investimentos da operadora na (mais tarde) insolvente Rioforte - e pôs fim à desafortunada fusão com a brasileira Oi, abrindo a porta à Altice, ninguém foi ainda responsabilizado pela fragilização daquela que era uma das poucas joias da coroa. Não está marcado qualquer julgamento. E todos os processos envolvendo ex-administradores da PT, criminais, cíveis ou contraordenacionais, estão à espera de seguimento na Justiça ou aguardam decisões do regulador, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Zeinal Bava está envolvido em pelo menos quatro processos. Um deles, o da 'Operação Marquês', é criminal. É apontado como um dos pivots de Salgado no uso da PT como caixa central do GES. E nesse âmbito está acusado de cinco crimes: corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada.

Um processo que está longe de estar concluído - nos meios judiciais ironiza-se, dizendo--se que vão ser precisas mais duas décadas, tantas quantas o saco azul do GES durou, para se chegar ao fim deste calvário. É aqui que Zeinal é acusado de receber 25,2 milhões de euros em troca de favores a Salgado.

A 3 de setembro vai ser decidida a instrução pelo Tribunal de Instrução Criminal, e só nessa altura se sabe se o megaprocesso avança para julgamento.

Foram acusados pelo Ministério Público 18 pessoas e nove empresas. Zeinal já assumiu que recebeu o dinheiro - aliás, já entregou parte dele -, mas nega que tenha sido para proveito próprio. Serviria para comprar ações para quadros de topo da PT. Por isso, não pagou impostos. Este será um nó difícil de desatar. Até porque o dinheiro foi-lhe entregue entre dezembro de 2007 - ano em que terminou a oferta pública de aquisição (OPA) da Sonae - e setembro de 2011, e Zeinalnunca chegou a comprar as ações.



UM ESQUEMA ILÍCITO

Outro dos processos que Bava enfrenta é o da Pharol.

Em causa está o investimento na Rioforte. A herdeira dos ativos problemáticos da PT SGPS e hoje maior acionista da Oi, com 27% do capital, acusa Zeinal de ter montado um esquema ilícito para financiar os Espírito Santo. A ação entrou em tribunal em janeiro de 2016. A Pharol defende que foi sob a "direção, coordenação e superintendência" de Bava que terá sido montado este esquema, que permitiu que durante anos (a partir de 2010) a PT financiasse irregularmente empresas do GES, ocultando a informação de outros administradores da operadora e entrando em conflito de interesse.

A Pharol avançou também com ações contra Henrique Granadeiro, o administrador financeiro da PT Luís Pacheco de Melo e Amílcar Morais Pires, administrador do BES e braço direito de Salgado.

O processo segue na Justiça, sem julgamento marcado.

Bava está também, tal como Granadeiro e Pacheco de Melo, sob investigação da polícia do mercado de capitais. Sob suspeita estão eventuais ilícitos de contraordenação muito grave. Na mira da CMVM está a prestação de informação falsa ao mercado.

Desconhece-se se o regulador enviou entretanto para o Ministério Público indícios de ilícitos criminais. A PT foi uma das estrelas maiores da Bolsa de Lisboa e uma bandeira do mercado de capitais português em Nova Iorque. Mas estatelou-se. Deu lugar à Pharol, uma cotada a prazo, já considerada um título zombie. São precisamente investidores penalizados pelo destino da PT que têm contra Bava uma ação popular.

Um mês antes de ser noticiado que a PT tinha aplicado 897 milhões de euros na Rioforte, violando todas as regras básicas de sã gestão, Bava movimentava na sua conta pessoal no BBVA mais de 9 milhões de euros - dinheiro que entrou num dia e saiu no outro. Um montante impressionante, mesmo para alguém que, como ele, podia ganhar num ano mais de dois milhões de euros em bónus. Estávamos a 27 de maio de 2014. O BES já estava sob suspeita, mas Ricardo Salgado ainda mantinha a presidência do grupo - sairia a 19 de junho, com o banco central a exigir o afastamento de todos os membros da família Espírito Santo. Não seriam os primeiros milhões a entrar e a sair das contas do gestor naquele ano. A 26 de junho, o Expresso avança com a informação do investimento ruinoso no GES. A notícia cai como uma bomba.

Foi um ano agitado, e isso é visível nas contas de Zeinal Bava. Meses depois, em novembro, a conta do BBVA é de novo alvo de movimentos em três tranches. Globalmente, entram e saem das contas do gestor mais de 12 milhões de euros. De onde veio este dinheiro e para onde foi, provavelmente, só Zeinal saberá. O dinheiro não para: entram e saem milhões na conta do BBVA. No início do ano, em janeiro, a Oi tinha-lhe pago um bónus de 2,5 milhões de euros. Em marco, a PT tinha-lhe pago um prémio de 1,245 milhões.

Bava tornara-se um homem rico. Muito rico.

Ainda em 2012 tinha aderido ao RET (regime especial de tributação), legalizando a entrada no país de 11 milhões de euros. Note-se que estes milhões nada têm a ver com os 25 milhões que recebeu para alegadamente comprar ações para remunerar os quadros de topo da PT. Bava é um investidor nato, não tivesse ele passado por alguns dos maiores bancos de investimento do mundo, e tem uma carteira de investimentos recheada. É dono de uma offshore, a Rownya Overseas Inc, e tem contas sediadas na Suíça e em Singapura - onde chegou a andar à procura de casa depois de ter rebentado o escândalo da PT.



UM TRAJETO DE ASCENSÃO

Aluno de topo, desde jovem trilhou as suas próprias opções. Zeinal Abedin Mohamed nasceu em Moçambique, a 18 de novembro de 1965. É filho de pais indianos. Tem um irmão e uma irmã. Reservado, nunca falou muito da família de origem. Veio para Portugal com os pais a seguir ao 25 de Abril de 1974 e convenceu-os a apoiarem-no na decisão de ir estudar para Londres. Tinha apenas 14 anos. Foi aí que começou a cimentar o apreço pela independência financeira: sempre teve empregos e biscates enquanto estudou e chegou a vender roupa numa loja da Benetton para financiar as viagens nas férias.

O percurso escolar brilhante levou-o a conseguir média para entrar em Medicina em Inglaterra. Mas não se via como médico e desistiu. Acabou por licenciar-se em Engenharia Eletrónica no University College London.

Regressou a Portugal e tirou um curso de Finanças na Universidade Nova de Lisboa. E vai trabalhar para o Banco Efisa, liderado por Abdool Karim Vakil, também ele muçulmano nascido em Moçambique.

Estávamos na década de 90. As privatizações explodiam em Portugal, o país estava na União Europeia e a economia ia ser liberalizada. O primeiro--ministro Aníbal Cavaco Silva abriu o caminho, o seu sucessor António Guterres seguiu-lhe as pegadas.

Havia muitos milhões para ganhar.

O banco de investimento anglo-saxónico Walburg Dilion é acionista do Efisa, e surge a oportunidade de Bava regressar a Londres para uma pequena experiência no banco. O Warburg começa a trabalhar na privatização da PT, e Bava torna-se um elemento crucial. Faz a ponte com a operadora portuguesa.

Os administradores da PT não dominam a linguagem financeira dos mercados, muito menos em inglês. Para Bava, é ouro sobre azul. Transita entretanto para o Deutsche Bank. Estamos em 1997. É nessa altura que conhece Manuel Rosa da Silva, um sul-africano filho de portugueses que mais tarde se torna o seu braço-direito.

Estão ambos em Londres, mas praticamente só trabalham no mercado português. Um ano e meio depois passam os dois para o Merrill Lynch - e este é um dos bancos escolhidos para cotar a PT.com, um subsidiária da PT, na Bolsa de Lisboa. Vivia-se a euforia das tecnológicas. A vida corre bem a Bava.

Está motivado, ganha muito dinheiro, e os administradores da PT tratam-no nas palminhas. Está como peixe na água nos mercados. Foi um ápice até se tornar presidente da TV Cabo e administrador da PT. O convite para entrar na PT chegou pelas mãos de Eduardo Martins, quando Francisco Murteira Nabo era o presidente. A PT era então dominada por homens ligados ao PS.

Era o início de uma caminhada fulgurante que o levaria, em 2008, a presidente executivo da operadora portuguesa. Entre os que com ele então trabalharam, os elogios saem de forma abundante: "trabalhador incansável", "minucioso", "líder nato", "excelente motivador". Zeinal, embora se resguardasse dos jornalistas, é uma pessoa acessível e que recusa a formalidade no trato.

Era tratado por Zeinal por muitos colaboradores.

Dispensava frequentemente a gravata e era usual vê-lo a almoçar na cantina, quando não optava pelo sushi no escritório.

Pai de família dedicado - com três filhos que o visitavam frequentemente na PT -, preocupava-se com a criação de possibilidades de ensino para os filhos dos trabalhadores da PT. É casado com uma advogada, Maria de Fátima Braz Bava. Uma mulher católica praticante. Bava é muçulmano sunita.

Frequenta a mesquita. É amigo de um dos filhos do príncipe ismaelita Aga Khan, que visitou esta semana Lisboa.

Maria de Fátima é de Sesimbra, onde o casal mandou construir uma casa. É um dos refúgios onde Zeinal pode dar azo aos seus dotes de jardinagem.

A Tasca do Leão era um dos restaurantes que frequentava em Sesimbra. Hoje também já ninguém o vê por lá. As férias passava-as no Algarve, perto da praia do Ancão, junto à Quinta do Lago.



O HOMEM A QUEM NADA ESCAPAVA

Nada lhe escapava enquanto presidente da PT. A ânsia de conhecer em pormenor tudo o que se passava nos projetos que liderava leva-o a ser considerado demasiado centralizador. É por isso que se estranhou a falta de memória na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES, em 2015, ou a forma evasiva como explicou aos procuradores como lhe tinham ido parar às mãos os 25 milhões e a sua devolução. "Eu não me lembro", "Não tenho memória", "Não li" foram frases que repetiu muitas vezes nas seis horas que demorou a audição.

A habilidade para o marketing parece correr--lhe no sangue. "Sempre que ia ao estrangeiro era não só um grande vendedor da imagem da PT como também do próprio país", garante um antigo colaborador na PT. E, junta outra pessoa, "também se vende muito bem a si e à sua imagem". Nos debates e conferências em que participava não era raro vê--lo investir em derivas sobre as virtudes do MEO, a menina dos seus olhos e um dos projetos em que mais se empenhou: a televisão paga. Em cerca de seis anos conseguiu pôr de pé, de raiz, um projeto de TV paga e disputar a liderança com o operador dominante, a NOS. E isso é um dos seus méritos reconhecidos.

Outro é a aposta na fibra. Foi pioneiro, e Portugal dá hoje cartas nessa matéria. Na verdade, fez com que a PT entrasse na era moderna.

Não foram só vitórias. Foi um gestor com uma visão muito centrada no curto prazo e na remuneração ao acionista. "Houve uma submissão da gestão aos pequenos interesses dos grandes acionistas, que sempre cuidaram de parasitar a empresa", diz um antigo quadro da PT. O facto é que quando Zeinal deixa a PT para ir para a Oi, no verão de 2013, a empresa era bem mais pequena do que quando ele lá entrou. E não apenas por causa do recuo violento da capitalização bolsista: a PT, que chegou a valer €12 mil milhões, valia €1,5 mil milhões em outubro de 2014, quando estava à beira de ser comprada pela Altice. Depois da oferta da Sonae, chumbada em 2007, a PT focou-se muito em vender participações.

Vendeu a marroquina Meditel (€400 milhões) em 2009, a brasileira Vivo (€7,5 mil milhões) um ano depois, e em 2013 saiu de Macau (€330 milhões).

Uma sangria. Zeinal estava pressionado por acionistas ávidos de capital. Desde 2000, altura em que era administrador financeiro, a PT remunerou os acionistas em €11,5 mil milhões. É muito dinheiro.

Embora se diga que só não erra quem não faz, consta que Bava convivia mal com a crítica. Afastou quase todas as pessoas que lhe podiam fazer frente.

Com o passar dos anos, foi-se rodeando de homens que lhe eram fiéis e afastou os quadros mais antigos. Houve quem lhe chamasse a sua guarda pretoriana, capaz de criar à sua volta uma área de proteção. A maioria tinha uma idade próxima da dele, entre os 40 e os 50 anos.

Bava liderou a PT de 2008 até meados de 2013, mantendo o controlo à distância, mesmo já como presidente da brasileira Oi, de onde saiu debaixo de fogo em outubro de 2014. É afastado pelos acionistas brasileiros, acusado de ter feito o jogo dos portugueses. Foi o argumento que os antigos acionistas da Oi precisavam para se tornarem donos e senhores do destino da PT, como de imediato se verificou. Esfregaram as mãos. Enxovalharam--no na imprensa brasileira. Nunca ficou provado, mas há dúvidas de que os brasileiros não soubessem das aplicações no GES. Zeinal, contudo, não saiu de mãos abanar, veio com uma indemnização compensatória de 5,4 milhões de euros. Foi o ponto final de uma carreira de 15 anos ligada à PT.

Zeinal Bava era idolatrado pela maioria dos trabalhadores, era quase um Deus. Hoje muitos sentem-se traídos, alguns apontam-lhe o dedo como o principal responsável por tudo o que aconteceu.

Poucos gostam de falar sobre o assunto, é um tema tabu. Ficou a mágoa. E uma PT que é uma pálida sombra do que já foi.

Este texto foi originalmente publicado na edição da Revista E do Expresso a 14 de julho de 2018

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