Ex-seguradora do GES em Angola está a ser vendida ao antigo BES em Angola
Francisco Seco
A Seguradoras Unidas, antiga Tranquilidade, está à venda. Enquanto a operação não se concretiza, prepara a alienação da sua seguradora em Angola. O comprador é o Banco Económico, antigo BES Angola
Há novas mexidas na herança deixada pelo Grupo Espírito Santo no mundo, mais precisamente em Angola. No fim, o Novo Banco, antigo Banco Espírito Santo, está lá, mesmo que indiretamente.
A Seguradoras Unidas, que integra a Tranquilidade, está em processo de venda. A operação está a correr e este ano deverá haver novidades.
Venda em Angola acordada aguarda autorizações
Enquanto isso, a Seguradoras Unidas, detida pelo fundo americano Apollo, está a vender a participação de 49% que tem na companhia seguradora angolana. Foi constituída pelo Grupo Espírito Santo em 2012, quando Ricardo Salgado estava era a principal face do grupo português. O comprador é o banco que o Banco Espírito Santo tinha também em Angola, o antigo BESA, atual Banco Económico, que já era acionista minoritário. O Banco Económico faz a aquisição em conjunto com outro investidor, não identificado.
“Durante o mês de dezembro de 2018, a companhia [Seguradoras Unidas] chegou a acordo para alienar a sua participação na Tranquilidade – Corporação Angolana de Seguros, S.A. a um outro acionista, Banco Económico, S.A., e também a um investidor local”: o texto está no relatório e contas de 2018 da empresa, detida pelo fundo americano Apollo. A Seguradoras Unidas integra a seguradora do antigo Grupo Espírito Santo, a Tranquilidade, e a companhia do ex-Banif, a Açoreana.
A Seguradoras Unidas resulta da antiga Tranquilidade e, por essa via, é a detentora de 49% da Tranquilidade Angola. O Banco Económico é dono de 21% da empresa, havendo outros dois acionistas, a Hipergesta e a GSF, ambos com 15% cada. É essa posição de 49% que está a ser alienada. “Este acordo está ainda sujeito às aprovações da Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros e do Banco Nacional de Angola, sendo expectável que tais aprovações sejam publicadas durante 2019”, indica ainda o documento.
Ainda que registando no seu balanço 49% da seguradora angolana, a “holding” da Apollo tem ainda uma opção de compra de 2% do capital da empresa angolana, o que daria 51% do capital, estando a possibilidade de exercício dessa opção condicionada “à autorização prévia pelas autoridades angolanas competentes”. A opção ainda existe porque a venda dos 49% não foi concluída. Desaparecerá, à partida, com a venda dos 49%.
Novo BES ganha ligação à Tranquilidade Angola
O comprador, o Banco Económico, resulta da intervenção feita no Banco Espírito Santo de Angola (BESA) em 2014, que causou perdas ao BES, atualmente em liquidação em Lisboa. É ele que, tendo já 21%, ganha peso na Tranquilidade Angola, ainda que não se sabendo qual a posição que fica na empresa com sede em Luanda. Neste momento, o Banco Económico já distribui aos seus balcões os produtos da companhia.
Certo é que, com esta alienação, a Seguradoras Unidas, detida pelos americanos da Apollo, deixa de ter interesse na Tranquilidade Angola, e o Novo Banco, que tem 75% do seu capital nas mãos dos americanos da Lone Star, reforça o interesse indireto. Isto porque Novo Banco tem 9,7% do Banco Económico, cuja maioria do capital (39,4%) está na posse do Grupo Sonangol, seguido da Lektron Capital, com 31%, e a Geni Novas Tecnologias, com 19,9%.
Foi o Novo Banco que, executando um penhor sobre a Tranquilidade, vendeu a empresa ao fundo Apollo em 2015.
António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco
José Fernandes
França e Itália compensam Angola em Portugal
Ainda que sem se ter ainda concretizado, a alienação da Tranquilidade Angola já pesou nos resultados de 2018 da Seguradoras Unidas. A empresa conseguiu sair dos prejuízos de 42 milhões de euros registados em 2017, para um lucro de 51 milhões, um ano depois. Mas o lucro podia ser maior.
Isto porque a Seguradoras Unidas registou uma imparidade de 5,2 milhões de euros para adequar o valor ao preço de mercado da Tranquilidade Angola. O valor de aquisição, registado no seu balanço, era de 7,3 milhões, e o valor de balanço líquido, após a imparidade, passava a 2,1 milhões. Daí a imparidade.
Mas houve efeitos que contrabalançaram este impacto negativo, num total de 30 milhões. E vieram com ajuda francesa e italiana.
A Seguradoras Unidas vendeu a participação de 47% que tinha na Europ Assistance, adquirida pela outra acionista, a Europ Assistance Holding (França), detida pela italiana Generali. A posição estava registada a 4,2 milhões, mas o valor recebido foi maior. Assim, foi registada uma mais-valia de 19,8 milhões de euros pela transação.
Por outro lado, a Seguradoras Unidas vendeu os 25% que tinha na GNB – Companhia de Seguros. O comprador foi o Crédit Agricole Assurances, que ficou assim com 75%. O Novo Banco tem a restante parcela de 25%. Nesse caso, a companhia seguradora tinha a participação avaliada em 3,8 milhões de euros, sendo que a mais-valia obtida com a transação foi de 12,1 milhões.
Há outra alienação. E o ano arranca com embalo positivo
Já o presente ano – que a Seguradoras Unidas espera que seja o da sua venda – começa já com um contributo positivo. A empresa conseguiu registar um ganho de 6,2 milhões de euros nos resultados por via dos chamados ativos por impostos diferidos, criados após luz verde do Fisco. Isto porque houve prejuízos fiscais registados na Açoreana, por si adquirida em 2017, que puderam ser registados como ativos por impostos diferidos. E isso tem impacto nos resultados.
“Sobre os prejuízos fiscais de 2015 da entidade fusionada Açoreana Seguros, S.A., a companhia foi notificada em fevereiro de 2019, pela Autoridade Tributária, do deferimento dos requerimentos de pedido de autorização para manutenção dos mesmos, sendo que impacto positivo nos resultados de reconhecer o respetivo ativo por impostos diferidos no montante de 6,2 milhões de euros ocorrerá portanto no exercício de 2019”, explica a entidade.
Já este ano, a Seguradoras Unidas conseguiu também a dispensa total de pagamento de uma coima por conta da investigação a um cartel nos seguros, por parte da Autoridade da Concorrência.
“Não temos comentários a fazer”, é a resposta da companhia ao Expresso às questões colocadas sobre estes assuntos.
A companhia está em processo de venda. E é vendida com menos participações noutras empresas, que podem não interessar ao comprador. Há uma empresa mais limpa, portanto, para ser adquirida.
Ageas, Allianz, Generali, Mapfre e Zurich têm sido as referidas na imprensa como interessadas. A escolha está para breve. E poderá mesmo acontecer até antes que a venda da Tranquilidade em Angola.