Os accionistas do Banco Comercial aprovaram a distribuição de cerca de 12,6 milhões de euros pelos trabalhadores, como forma de compensação pelos cortes salariais. A decisão foi tomada numa reunião marcada por uma manifestação promovida pelos sindicatos da banca – e que, como noticiado pelo Expresso, motivou uma carta formal a Miguel Maya.
A proposta de distribuição de resultados de 2018 dedica 12.587.009 euros pelos colaboradores. Foi aprovada na assembleia-geral de 22 de maio por 99,98% doso votos, num encontro em que estava representado 64,5% do capital, no mesmo ponto em que foi aprovada a distribuição de 30,2 milhões aos acionistas, com recurso a reservas já constituídas no passado.
Em 2014, o BCP cortou salários aos seus funcionários. Quem recebia mais de mil euros brutos sofria uma redução salarial. A decisão teve “o objetivo de viabilizar o processo de recuperação do banco e contribuir para o cumprimento das exigências impostas ao banco para receber ajudas de Estado”. O BCP recebeu 3 mil milhões de euros estatais, que foram devolvidos na totalidade em 2017. E foi aí que houve oportunidade de acabar com os cortes.
Só que o BCP assumiu o compromisso de devolver o valor retido aos trabalhadores após a devolução da ajuda estatal. A proposta agora feita prevê uma compensação aos trabalhadores feita de forma faseada.
O banco tem de devolver mais de 30 milhões de euros, correspondente a esse valor retido, mas a proposta aprovada é de 12,6 milhões, cerca cerca de um terço do montante, segundo Miguel Maya.
A decisão foi tomada no dia em que três sindicatos - Sindicato Nacional dos Quatros e Técnicos Bancários (SNQTB), do Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) e do Sindicato Independente da Banca (SIB) – entregaram uma missiva a Miguel Maya em que pedem “o pagamento imediato de aumentos relativos a 2018”, “a garantia da revisão do acordo colectivo de trabalho” e “a devolução incondicional do valor global acumulado pelos cortes salariais de 2014 a 2017”.
Estes sindicatos são contra a devolução faseada, como o banco e os acionistas querem.
Há outros sindicatos - Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) e Sindicato dos Bancários do Centro (SBC) – que validam a proposta da administração de pagamento faseado, defendendo que uma alternativa impediria a compensação no imediato.
Apesar disso, todos estes sindicatos se juntaram numa manifestação, onde estiveram presentes centenas de trabalhadores no ativo ou reformados e pensionistas, com os sindicalistas a assegurarem que vieram de várias regiões do país.
Comissão executiva sem prémios enquanto tudo não for devolvido
No final da assembleia-geral, Miguel Maya reiterou que pretende, numa base anual, conseguir fazer uma compensação adicional aos trabalhadores.
“O nosso compromisso era de propor anualmente à assembleia-geral [a compensação] em função daqueles que fossem os resultados do banco. O que temos de fazer hoje é garantir que o banco gera esses resultados para que, no ano que vem, estejamos aqui a fazer nova proposta”, declarou o presidente executivo do BCP.
O CEO da instituição financeira, que tem a Fosun e a Sonangol como principais acionistas, acrescentou que há um compromisso da administração “para haver um total alinhamento dos interesses” com os trabalhadores. E deu um exemplo.
Se a comissão executiva tiver direito a remuneração variável no próximo ano, a parte que os seus elementos tivessem direito “no momento inicial” não será paga “enquanto” o compromisso de compensação por todos os cortes “não for totalmente cumprido”.
(notícia atualizada às 19:13 com declarações de Miguel Maya após a assembleia-geral)
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