O presidente executivo do Banco Comercial Português, Miguel Maya, considera que há dois grandes riscos com a divulgação dos maiores devedores dos bancos que receberam ajuda externa que será feita esta quinta-feira ao Parlamento: prejudica os clientes; prejudica o trabalho do banco.
“A única coisa que pedimos é reserva sobre os clientes que estão a fazer o seu processo de recuperação, que tiveram dificuldades, por resultado da própria crise, e o seu nome divulgado na praça pública pode não ajudar”, afirmou Miguel Maya esta quarta-feira, 22 de maio, no final da assembleia-geral de accionistas, que aprovou o regresso ao pagamento de dividendos – não acontecia desde 2010 – e a compensação parcial aos trabalhadores pelos cortes salariais sofridos entre 2014 e 2017.
A outra questão que merece reserva, na ótica do presidente do BCP, é sobre o tratamento comercial que está a ser dado a créditos aí referidos.
“Também [pedimos] reserva relativamente aos créditos que estamos a vender em mercado. Há informação muito granular, que tem muitos detalhes. Se disser lá que um determinado crédito tem uma imparidade de 50%, não vai aparecer nenhuma proposta com um valor superior”.
Miguel Maya refere-se às imparidades que são constituídas em créditos para adequar o seu valor à expetativa de recuperação por parte da instituição financeira. Sabendo-se publicamente o valor da imparidade, sabe-se qual o valor que o banco antecipa recuperar. E, assim, é esse preço que passa a ser a referência nas ofertas de compra por entidades interessadas na aquisição.
A divulgação dos maiores devedores das instituições financeiras que receberam ajudas públicas nos últimos 12 anos foi aprovada pelo Parlamento este ano. Valor de créditos concedidos, datas de concessão, reembolsos e perdas estimadas são informadas que aí têm de constar. O relatório com a informação é entregue pelo Banco de Portugal.
Ainda não se sabe de que forma este documento, entregue à comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, será divulgado publicamente – ou se será. O que é certo, garantiu Maya, é que cumpre a lei (ou seja, enviou os dados previstos legalmente ao supervisor).
Questionado sobre a prestação parlamentar de José Berardo e seus efeitos na recuperação, não quis comentar. "Asseguro que o BCP toma todas as medidas adequadas para proteger os seus interesses, isto é, minimizar a perda esperada nos créditos em incumprimento", disse apenas.
O banco tem uma ação de execução com a CGD e o Novo Banco em que tentam recuperar 962 milhões de euros junto do empresário madeirense e três suas empresas.
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