Economia

José Berardo: “Eu pessoalmente não tenho dívidas”

José Berardo: “Eu pessoalmente não tenho dívidas”

Os bancos pedem 962 milhões a si e às suas empresas, mas o emprésário José Berardo recusa ter dívidas em seu nome. Recusa também que tenha dado a coleção de obras de arte como garantia dos empréstimos. E, por isso, deixa um aviso: "Vamos ver o que acontece"

José Berardo: “Eu pessoalmente não tenho dívidas”

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Manuel Luís Goucha e a Flash foram referidos na audição da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos que está a ouvir o empresário José Berardo, um dos maiores devedores da banca portuguesa. E foram o ponto de partida para que o comendador -que os principais bancos defendem que lhes deve 962 milhões de euros - dissesse que não tem dívidas pessoais.

“Eu pessoalmente não tenho dívidas. Agora, tenho tentado ajudar... Claro que não tenho dívidas”, declarou o empresário, quando questionado na audição desta sexta-feira, 10 de maio.

A deputada Mariana Mortágua perguntou qual o motivo pelo qual Joe Berardo, como é conhecido o comendador, não paga a sua dívida perante as principais instituições financeiras.

Isto porque surgiu na revista Flash a falar de lucros da Herdade da Bacalhoa e foi também a um programa de Manuel Luís Goucha onde recebeu, “na sua casa”, com aparência luxuosa, o apresentador de televisão.

“Eu chego aqui ao Parlamento e, na porta, digo: ‘esta é a minha casa’. Também é meu. É de todos”, respondeu.

Negando dívida pessoal, Berardo adiantou que tentava ajudar, ainda que não concretizando. Mas os empréstimos por si obtidos estão nas mãos de empresas a si relacionadas.

Sabe-se, neste momento, que a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Comercial Português e o Novo Banco executaram José Berardo, e três empresas a si ligadas (Metalgest, Fundação José Berardo e Moagens Associadas) em busca de 962 milhões de euros.

“Nunca ia a dar a colecção” como garantia à banca

O empresário José Berardo assumiu, perante os deputados da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, que a banca quis que a sua colecção de obras de arte fosse a garantia de empréstimos concedidos, mas que aceitaram que a garantia fosse apenas títulos da Associação Berardo.

“Inicialmente, eles [bancos] queriam isso [que as obras de arte fossem garantia de acções], mas isso está fora de questão. Nunca ia dar a colecção, que é minha, que é como... que faz parte da minha vida”, declarou.

Atualmente, e depois de esgotadas as primeiras garantias (ações do BCP, que ficaram desvalorizadas), os bancos têm, como garantia dos seus empréstimos, os títulos da Associação Coleção Berardo, que é quem assina, com o Estado, o acordo para a exposição das obras de arte no Centro Cultural de Belém. Contudo, há dúvidas sobre a efectiva posse da colecção Berardo pela associação. E o empresário deixou essa ideia aos deputados.

“A verdade é todos eles [nos bancos] sabiam que estavam – e aceitaram – os títulos da colecção. O que eles têm é os títulos da associação e eles sabem isso”, declarou. E quanto é que isso vale? “Eles é que fizeram a valorização dos títulos da coleção”.

Berardo deixou um enigma para os bancos: “Têm os títulos [da associação] que um dia, quando decidirem vender, vamos ver o que acontece. Mas eu não vou acrescentar mais do que isso”.

“O BCP foi o maior desastre que tive na minha vida”

A maior parte dos empréstimos dos três principais bancos prende-se com créditos concedidos para a compra de ações do BCP, antes e durante 2007, que acabaram desvalorizadas.

Por isso, houve necessidade de garantias adicionais: “O BCP foi o maior desastre que tive na minha vida”, frisou, recusando também ter participado em qualquer assalto ao poder no banco, em 2007, quando Jorge Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto se desentenderam.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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