Economia

O meu concelho é melhor que o teu? Agora já pode comparar a qualidade de serviço da rede elétrica

FOTO SUSANA RODRIGUES

O regulador da energia compilou num novo site os dados históricos e locais dos indicadores de qualidade de serviço do sector elétrico, permitindo a cada consumidor saber como o seu concelho ou a sua região se compara com o resto do país

O meu concelho é melhor que o teu? Agora já pode comparar a qualidade de serviço da rede elétrica

Miguel Prado

Editor de Economia

A qualidade de serviço técnica da rede elétrica é medida todos os anos por um conjunto de indicadores que vêm permitindo ao regulador da energia saber se as empresas de transporte e distribuição de eletricidade estão a cumprir os padrões mínimos ou não e se o país se compara bem com outras redes de eletricidade pela Europa fora. Mas para facilitar esse exercício comparativo e torná-lo mais acessível a cada cidadão a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) acaba de lançar um site dedicado em exclusivo à qualidade de serviço técnico na eletricidade.

Neste novo espaço, que pode ser consultado aqui, é possível comparar os diversos indicadores de qualidade técnica (tempo médio de interrupção, frequência das interrupções, energia não distribuída, entre outros) concelho a concelho, permitindo a qualquer utilizador constatar quais as assimetrias regionais que se vêm verificando ano após ano. Para já este site apresenta um histórico dos indicadores de 2014 a 2017. Os dados relativos a 2018 não foram ainda publicados (habitualmente o relatório anual da ERSE sobre esta matéria é publicado no segundo semestre).

O site não é tão intuitivo como são os comparadores de preços para clientes domésticos, podendo a seleção de critérios ser ainda desafiante para utilizadores que não estejam familiarizados com a terminologia da qualidade de serviço da rede elétrica. Um problema que a ERSE procurou mitigar com a disponibilização de uma ficha técnica com mais informação sobre os termos e expressões que os consumidores vão encontrando nesta ferramenta.

Num exemplo prático, o mapa revela que o concelho de Arganil era em 2017 um dos que tinham pior qualidade de serviço, no critério que segue as interrupções longas (superiores a três minutos) na rede de distribuição em baixa tensão, critério designado como SAIDI. Arganil contabilizou nesse ano em termos médios 4 mil minutos de interrupção por cada ponto de entrega de eletricidade existente no concelho. Um valor que compara com a média de 144 minutos em Portugal Continental , 218 minutos nos Açores e 49 minutos na Madeira.

Mas vale a pena notar que a maior parte do problema de Arganil em 2017 foram eventos excecionais (3612 minutos), nomeadamente os trágicos incêndios que aconteceram nesse ano. Em 2016 o tempo de interrupções longas em Arganil ficou-se por 236 minutos e em 2015 tinha sido de 147 minutos.

Um outro indicador relevante para a qualidade de serviço é o critério SAIFI, que analisa a frequência das interrupções longas, ou seja, indica se determinada região tem um número elevado ou reduzido de cortes no abastecimento. Neste indicador, e considerando a rede servida em baixa tensão (que é a que abrange os consumos residenciais), o concelho pior posicionado em 2017 foi Pampilhosa da Serra, com uma média de quase 13 interrupções longas (superiores a 3 minutos) por ponto de entrega. Em Portugal Continental a média ronda as 2 interrupções longas por ponto de entrega.

Um problema sobretudo para as empresas

A presidente da ERSE, Cristina Portugal, admite que o tema da qualidade de serviço tem sido uma preocupação sobretudo dos consumidores industriais. "Os consumidores domésticos não são tão sensíveis a questões de qualidade de serviço. É raro ter reclamações por falhas na qualidade de serviço técnica", notou Cristina Portugal num encontro com a imprensa, confirmando que a maior parte das queixas no segmento residencial respeitam a temas de faturação ou de qualidade de serviço comercial.

Mas, referiu a presidente da ERSE, o novo site foi feito a pensar "em ambos" os tipos de consumidores. "Ao ser mais acessível, esta informação chega a mais pessoas, que poderão reclamar algumas melhorias", apontou Cristina Portugal.

O novo site lançado pela ERSE apresenta, com gráficos interativos, a evolução da qualidade de serviço técnica a nível nacional e local desde 2014, permitindo igualmente comparações por zonas de qualidade de serviço (cada zona corresponde a diferentes padrões de qualidade, isto é, permite ao distribuidor de eletricidade diferentes limites de interrupções por ano, de acordo com a densidade de clientes).

A desagregação da informação permite ao consumidor, inclusive, navegar pelo mapa do país para encontrar informação sobre cada um dos 70 mil postos de transformação ligados à rede de baixa tensão (as unidades físicas da rede elétrica que transformam o nível de tensão antes de a energia chegar à instalação final de consumo). Para efeitos de proteção de dados, a ERSE apenas não disponibiliza informação relativa a postos de transformação que abasteçam menos de cinco pontos de consumo.

Outra das funcionalidades do site é conhecer o montante de compensações que a cada ano os clientes recebem pelo incumprimento dos padrões de qualidade de serviço técnica (compensações essas que são suportadas pelos distribuidores de eletricidade e entregues ao consumidor final através de créditos na fatura que lhe é passada pelo comercializador).

O site permite ainda perceber de que forma a qualidade de serviço é afetada, em cada ano, por eventos excecionais (como tempestades e grandes incêndios), por outras causas acidentais ou por interrupções previstas pelos distribuidores de eletricidade.

Segundo a ERSE, em termos internacionais Portugal compara bem, com a duração média de interrupções (78 minutos em 2016) a ficar aquém da média europeia (115 minutos no mesmo ano).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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