Recebeu Vítor Constâncio uma carta de um antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos, Almerindo Marques, a alertar para problemas na concessão de crédito, em 2002?
“Não me lembro. Isso será quando? Há 12 anos? Tanto papel que recebi, tanto relatório que li” entre 2000 e 2010, respondeu o governador do Banco de Portugal na audição de quinta-feira, 28 de março, na segunda comissão de inquérito ao banco público.
Almerindo Marques bateu com a porta e saiu da administração da Caixa Geral de Depósitos em 2002 em divergência com António de Sousa, o então presidente. Como noticiou este ano o Jornal Económico, fê-lo com estrondo. Houve notificação ao Presidente da República, Jorge Sampaio, e ao governador, Vítor Constâncio, em que elencou vários problemas no controlo do risco de crédito na instituição financeira de capitais públicos. Jorge Sampaio confirmou que houve mesmo uma reunião com Almerindo Marques sobre este tema. Contudo, a ausência de recursos para fazer uma averiguação ao banco de maior dimensão do sistema foi a justificação de Constâncio, segundo o jornal. O que não foi confirmado na audição desta quinta-feira.
Constâncio disse aos deputados não ter ideia do que está em causa. “Se a carta existiu, há registos no Banco de Portugal. Poderão pedir o rasto dessa carta e o que terá acontecido. Não tenho ideia. Não tenho obrigação de ter memória”, disse, repetindo também uma ideia que Carlos Costa, seu sucessor à frente do supervisor da banca, afirmou sobre alguns dos factos relativos à CGD entre 2004 e 2006, quando era seu administrador.
“Se é um facto, honestamente não me lembro. Nem os serviços nem o vice-governador alguma vez sugeriu ou propôs a existência de qualquer auditoria à Caixa. Ninguém me propôs. Teria dito que sim, obviamente. Não teria nenhum problema com isso, se tivesse sido proposto por alguém que seguisse mais a instituição”, declarou ainda Constâncio, que tinha começado a audição a dizer que a CGD não causava “muitas preocupações”.
Na sua audição, o também antigo vice-presidente do Banco Central Europeu recusou a ideia de que a supervisão possa fazer tudo – há uma expetativa excessiva de qual é o seu papel, defendeu.
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