Economia

Há entidades ligadas a Salgado a fazer “tudo” para não pagar créditos ao Novo Banco

Há entidades ligadas a Salgado a fazer “tudo” para não pagar créditos ao Novo Banco
PAULO CUNHA / LUSA

Há uma preocupação no Novo Banco e na comissão que acompanha as injeções do Fundo de Resolução (e do Estado): garantir que o comprador dos ativos tóxicos que estão a causar perdas não é um testa-de-ferro do devedor. Já houve transações que foram travadas devido a esse receio

Há entidades ligadas a Salgado a fazer “tudo” para não pagar créditos ao Novo Banco

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Há quem esteja a fazer “tudo” para não pagar créditos ao Novo Banco, o que tem implicado perdas adicionais ao Fundo de Resolução e, por esta via, ao Estado, assumiu José Bracinha Vieira, um dos membros da comissão que obriga a injeções adicionais na instituição financeira.

“Há entidades que, – e é coisa que pode parecer revoltante – por estarem ligadas a Ricardo Salgado, ou porque tinham títulos do grupo não financeiro, como a Rioforte e a Espírito Santo International, perderam dinheiro. Ficaram indignadas e decidiram fazer tudo para não pagar créditos ao Novo Banco”, admitiu Bracinha Vieira, reformado do Banco de Portugal, esta terça-feira, 13 de março.

Na comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, Bracinha Vieira enumerou vários problemas com que o Novo Banco se tem debruçado por estar a lidar com os ativos de que estão sob o mecanismo de capital contingente, que podem custar 3,89 mil milhões de euros ao Fundo de Resolução (dos quais cerca de 2 mil milhões já estão comprometidos). Entre os quais, há esse caminho feito pelos devedores para, através de várias diligências, conseguirem não pagar os empréstimos. Mas há mais.

Nas várias operações de alienações, há uma preocupação do Novo Banco e da comissão de acompanhamento desse mecanismo. “É que o comprador seja o testa-de-ferro do próprio devedor. Pode ser um amigo que compra o crédito. É uma questão que nos perturba”, disse. “Já houve processos que foram parados nessa base”, assumiu.

A comissão de acompanhamento quis até já que fossem contratados detetives internacionais que pudessem investigar junto de “off-shores”, paraísos fiscais, fortunas de um devedor específico, não identificado, que não paga à instituição financeira comandada por António Ramalho.

Na mesma audição parlamentar, o presidente da comissão de acompanhamento, José Rodrigues de Jesus, afirmou que, relativamente aos créditos do banco, há casos em que "é preciso coragem" para a sua resolução.

O mecanismo foi criado para que o Fundo de Resolução se pudesse responsabilizar por um determinado conjunto de ativos. Esta carteira tóxica tinha, em junho de 2016 (a data de referência para o arranque do mecanismo), um valor bruto de 12,7 mil milhões de euros mas já havia imparidades constituídas, pelo que o seu valor líquido era de 7,9 mil milhões. Em dezembro de 2018, o portefólio tinha uma avaliação bruta de 7,5 mil milhões, com o líquido a deslizar para 4 mil milhões. Aqui estão créditos (52%), fundos de reestruturação (25%), entre outros, como imóveis (23%).

Neste mecanismo, o Fundo de Resolução pode vir a colocar 3,89 mil milhões de euros. Incluindo já este ano, já foram pedidos cerca de 2 mil milhões, ou seja, metade do montante.

O mecanismo foi criado porque a Lone Star, aquando da compra de 75% do capital do Novo Banco, não se quis comprometer sobre aquele conjunto determinado de ativos.

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