Economia

Demissão no Novo Banco antes de novo pedido ao Fundo de Resolução

Demissão no Novo Banco antes de novo pedido ao Fundo de Resolução
Rafael Marchante

Miguel Athayde Marques pediu para sair da comissão de acompanhamento do Novo Banco a 28 de fevereiro devido à eleição da sua cônjuge para o Santander Totta

Demissão no Novo Banco antes de novo pedido ao Fundo de Resolução

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A equipa que acompanha a carteira de ativos tóxicos do Novo Banco, aqueles que levaram à chamada do Fundo de Resolução e deste ao Estado, perdeu um dos elementos. O pedido de demissão aconteceu um dia antes da apresentação dos prejuízos da instituição, que obrigaram a uma injeção de 1,149 milhões de euros pelo Fundo de Resolução e de um pedido de empréstimo deste ao Estado. O banco diz que a saída se deveu à concorrência.

Segundo explicou a assessoria de imprensa do banco ao Expresso na passada segunda-feira, Miguel Athayde Marques apresentou a renúncia à comissão de acompanhamento do Novo Banco a 28 de fevereiro, pela possibilidade de existência de situações de incompatibilidades, já que a sua cônjuge, Manuela Athayde Marques foi nomeada administradora não executiva do Santander Totta em fevereiro. A mesma explicação foi dada pelo Fundo de Resolução à agência Lusa na terça.

Esta quarta-feira, Miguel Athayde Marques confirmou ao Expresso o motivo, dizendo que “não tem nada que ver com outras razões”.

Renúncia antes da solicitação

O pedido de renúncia ao cargo foi feito por Athayde Marques, antigo presidente da Bolsa de Lisboa, um dia antes de o banco liderado por António Ramalho divulgar prejuízos de 1,4 mil milhões de euros e de ter dito que precisava de 1,149 milhões de euros do Fundo de Resolução. O Fundo de Resolução é financiado pela banca através de contribuições periódicas e da contribuição sobre o setor bancário. O antigo líder da Bolsa de Lisboa recusa qualquer ligação entre a renúncia e a solicitação ao recurso do Fundo. O pedido foi feito dia 28 de fevereiro porque foi nesse dia que se reuniu o conselho geral e de supervisão da instituição financeira.

A comissão de acompanhamento, presidida por José Rodrigues de Jesus (bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas) e que conta ainda com José Bracinha Vieira (ex-diretor no Banco de Portugal e presidente da comissão liquidatária do Banif), é o órgão consultivo que tem de garantir a monitorização do mecanismo de capital contingente criado aquando da venda de 75% do Novo Banco à Lone Star.

Este mecanismo cobre uma quantidade delimitada de ativos da instituição financeira relativamente aos quais o fundo americano não quis assumir a responsabilidade total. E tem de garantir que aquela convocatória se justifica, até para garantir que não há incentivos a que o montante seja gasto injustificadamente. É também por isso que há um agente de verificação externo, que volta a ser a Oliver Wyman, que valida toda a informação.

A convocatória ao Fundo de Resolução, acionista com 25% do Novo Banco, é feita quando os ativos aí incluídos perdem valor e, ao mesmo tempo, esse facto implica a descida dos rácios de capital do banco abaixo de um determinado patamar. Como não tem fundos suficientes disponíveis, o Fundo tem de pedir empréstimos ao Estado para cumprir todas as suas obrigações. E, para colocar os 1,149 milhões necessários este ano, o Fundo poderá deverá pedir cerca de 850 milhões de euros, o valor máximo a colocar. O Ministério das Finanças garante que não haverá impactos que ponham em causa o défice orçamental de 2019.

Esta é a segunda renúncia de Athayde Marques num curto período de tempo. Já tinha saído do banco de investimento da Caixa Geral de Depósitos, o CaixaBI, a 21 de dezembro do ano passado.

A comissão de acompanhamento do Novo Banco é um dos órgãos sociais, como o são o conselho de administração executiva, encabeçado por António Ramalho, e o conselho geral e de supervisão, liderado por Byron Haynes. E esta é uma mudança que acontece quando uma outra ocorreu em 2019: a mesa da assembleia-geral foi alterada na sua totalidade, sem que o banco tenha justificado o motivo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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